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MEU PERSONAGEM DO ANO

MEU PERSONAGEM DO ANO

Este jovem senhor que aparece na foto é, talvez, a persona mais conhecida e popular da cidade. Digo assim, por que muitas vezes o sujeito é conhecido, mas não é popular. Além de ser popular e conhecido este corredor inveterado é extremamente simpático, sempre está com aquele sorriso nos lábios, não um sorriso às escâncaras, que o o portador deste sorriso comedido, sempre foi comedido nas suas atitudes. Posso garantir que em Pará de Minas ninguém é mais conhecido do que Galba Alberto Couto, o Galba da Corpam. Alguém pode até não ter tido com ele um dedo de prosa, ou mesmo tê-lo visto de perto, mas já o viu na tevê, nos jornais, ou na internet. Neste ponto eu digo que Galba adaptou-se aos tempos modernos e virou um ser midiático. Tive a honra e o privilégio de tornar-me amigo dele nos idos de 1960, quando ia até a casa da familia dele, na rua do Sabuco, no centro da cidade, que um sabichão depois trocou o nome (da rua) para “major” sei lá das quantas. Na residencia de dona Maria e de sô Valdé (de Waldemar) Soldado, os amigos dos filhos eram recebidos com todo carinho e havia sempre café no bule. De sô Valdé, pai do meu personagem do ano, pouco posso dizer. Sei que foi um honrado integrante da gloriosa Policia Militar de Minas Gerais. Infelizmente morreu cedo, porém já reformado, algum tempo depois que travei uma sólida amizade com o filho primogênito do casal, Ademar, para nós do Paraminense, o eterno Bidé, de quem tive a honra de ser padrinho de casamento, quando ele se casou com a também inesquecivel Eva. Os dois, Bidé e Eva, há foram foram morar no céu. Poderia escrever um livro sobre o saudoso Bidé, tantas foram as aventuras loucas que dividimos na nossa mocidade. Mas vou resumir: foi um grande bebedor de cerveja e um dos mais habilidosos meias-de- ligação do nosso futebol. Mas perdeu sua luta contra a obesidade. Nossos campos perderam um craque, mas nós, frequentadores de rodas de cerveja ganhamos um ótimo parceiro.

Volto ao Galba, meu personagem, o irmão caçula, gêmeo do Jarbas, mas como nasceu alguns minutos depois, faz questão de deixar claro ser ele o caçula, o benjamim. Pois então, Galba, que eu chamo de “Tanque”, desde os tempos em que ele azucrinava a defesa do meu Paraminense, nos memoráveis campeonatos disputados ora na poeira, ora no lamaçal do velho e saudoso campo do Ginásio São Francisco. Era um Tanque, o Galba, um daqueles panzers do exército alemão. nada, nem ninguém segurava o Tanque Galba. Para enfrentá-lo, o Paraminense teve de mudar seu próprio esquema de jogo; o time tinha uma defesa de cavalheiros, que so faltavam jogar de gravata: Cabinho, os irmãos Julião e Raimundinho e Mundinho Bombeiro na lateral-esquerda. Coitados, diplomatas contra um “tanque”. Nem na Guerra Mundial funcionou. Então, preparamos uma defesa exclusivamente para marcar o super Galba. “Marcar” é força de expressão, a missão da nova linha de zagueiros era bater, bater muito no Galba, que para usar uma força de expressão, era mesmo forte como um touro. E tome pancadas, rasteiras, tesouras voadoras, sossega-leão, contra Galba tudo valia. E o cara não afinava, no final sempre deixava sua marca. Deve ter sido o atacante que mais fez gols no Paraminense. E notem que a defesa era até meio facinorosa: Edson Borracha no gol. Caldeirão, Artur, Gatão e Boi. Na frente da zaga, distribuindo todo tipo de porradas, o pequeno Laércio, cuja ferocidade ao disputar uma bola, talvez seja comparável nos dias atuais, à do atleticano Leandro Donizete, que perto de Laércio eu diria que se trata de um “gentleman”. Meu Deus! Como apanhou esse meu querido e estimado personagem. Numa época em que o árbitro era escolhido na hora de começar o jogo, praticamente laçado no barranco, mas aceitavam todos os riscos. Talvez fossem todos eles masoquistas, pois raramente deixavam o campo sem levar umas bifas, que podiam ser da parte de um time apenas, ou dos dois, assim como das duas torcidas, que o campo era aberto e invasões eram comuns. As traves muitas vezes eram desprovidas de redes e os cartões ainda não tinham sido inventados. Alguns abnegados do apito tinham o respeito de todos: Dico Espora, Antonio Mão-de-Onça, Serrinha, Luiz Pinta-Roxa. Com um desses no apito, a coisa toda transcorria de forma mais ou menos branda, e o nosso Galba apanhava menos.
Galba sempre jogou em times fortes, recheados de craques, teve à sua disposição os melhores “garçons” da cidade: Calé, Madalena, Silvério, Hermelino,Brecha, Davidson, Marcinho Caquinho, Lalau, Taquinho Carteiro, Pilar, dentre outros. Todo time precisa de pelo menos um operário, alguém para apanhar em nome de todos (o futebol imita a vida) e Galba não se importava de exercer esse papel.
Marcou centenas de gols., Meticuloso (outra de suas marcas) anotou todos, acredito que deve ter sido o maior artilheiro do nosso futebol, mesmo se retirarmos da contabilidade aqueles gols marcados nos rachões de casados X solteiros.

Craque, craque? nunca foi. E ele sempre soube disso. Mas poucos foram tão úteis às equipes cuja camisa envergou.
Quando deixou de jogar futebol definitivamente, Galba foi cartola por um tempo. Convidei-o para ser meu vice-presidente quando estive à frente da Liga de Pará de Minas (1994/1997). Renunciei ao mandato seis meses antes para que Galba pudesse encerrar sua participação no futebol como dirigente máximo do esporte na cidade.
Foi deixando o futebol aos poucos. À medida que se afastava dos campos, se aproximava das ruas, participando das poucas corridas organizadas na região. Tomou gosto pela coisa, nem tanto pela adrenalina que a competição proporciona, mas sim pelo prazer. Se não havia nenhuma prova ele corria sozinho pelas ruas da cidade. Logo apareceram outros tão animados quanto ele, mas que careciam de alguém que os liderasse nas corridas. Daí para a fundação da CORPAM foi uma consequência natural. Eram talvez meia dúzia de corredores, hoje são centenas e estão nas ruas todos dos dias. Por qualquer motivo a CORPAM/Galba (são a mesma coisa e vice-versa) bota a tropa na rua. A instituição, (hoje a CORPAM é uma instituição tão importante que virou referencia da cidade, como a estátua do Cristo Redentor ou o Parque Bariri) já se fez representar por quase todo o Brasil, sempre com sucesso.
Galba é uma espécie de unanimidade popular. Desconheço alguém que conhecendo-o, não simpatize com ele. Em todas as campanhas eleitorais é assediado por todos os partidos para disputar as eleições. Até o cargo de vice-prefeito já lhe foi oferecido. Mas ele prefere não se envolver, É funcionário municipal há mais de vinte anos; cuida da área de segurança do trabalho e é estimado por todos os colegas, sejam efetivos ou ocasionais.

Eu não tenho nenhum receio de afirmar que Galba Alberto Couto, meu velho e estimado amigo “Tanque” dos bons tempos do futebol, fez mais pelo atletismo de Pará de Minas do que qualquer outra pessoa ou entidade.
E o que dizer desse cara quanto à sua vida privada? Só sei que ele e Angelica formam um casal que devia ser paradigma para centenas de outros, nos quesitos, amor, carinho, solidariedade, confiança. Só não digo que Angelica e Galba são um, por que na verdade são cinco, pois as filhas completam de maneira estupenda essa familia extraordinária. Na verdade são seis, pois todos vestem a camisa da CORPAM com o mesmo entusiasmo. Pensando bem, não são seis, são centenas e o número só aumenta, pois como já foi dito GALBA e CORPAM são um só e vice versa.
Eu acho que Galba Alberto Couto é uma estátua que se move. Ou melhor, que corre pelas nossas ruas. (LUIZ VIANA DAVID)

Luiz David

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