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INVASÕES – HILA FLÁVIA

A Semana Santa foi longa, pois fui para o Povoado de Furnastur no dia 15 e voltei hoje, 18 dias depois. E, para falar a verdade, achei que fiquei pouco tempo. Mas tempo suficiente para ter minha cabeça invadida por vários pensamentos que estavam adormecidos. A primeira invasão foi sobre meu atual e cada vez mais sério desligamento das coisas. Quase não acompanho mais noticiários. Fico escutando as notícias e, se perguntada sobre elas, nem sei repetir. Pareço aqueles estudantes que voam em salas de aula. O pensamento longe… longe. Também passo os olhos nos jornais e nada me chama a atenção. Quanto aos programas de televisão, não sigo mais novelas, vendo só os últimos capítulos sem entender muita coisa, pois não acompanhei a história toda. Vejo filmes sem muita complexidade, programas de culinária, de moda e reforma de casa. Disto gosto muito. Enfim, estou distante de ser o que já fui, uma criatura antenada no mundo, com antenas que seriam hoje de satélite. Tinha a certeza de que minhas ações fariam diferença de alguma forma, tinha a força e a disposição de lutar que nem uma leoa. Meus interesses hoje são específicos e concentrados nas pessoas, na convivência com o próximo, numa prosa em volta de uma mesa grande e um café cheiroso e quentinho, em lidar com a horta e o jardim, na costura e nos bordados. E na vigilância do nível da água do Lago de Furnas. Também vigio a lua, o sol e as estrelas. Então pensei: deve ser a idade. Esta questão de idade pode ser bem aquilatada se a gente pensa na manchete de uma notícia em que possamos estar envolvidos. No meu caso, Deus livre e guarde, se sofrer um atropelamento, vai sair no jornal assim: Carro atropela bengala e idosa vai junto. Tem jeito não, a notícia é esta mesmo. Então, com o pensamento invadido por ideias deste quilate, não sei se imitando meu estado de espírito, minha casa sofreu também várias investidas de estranhos no ninho. Os primeiros a aparecer foram os micos. Precisamente seis. No começo ficavam, como o da foto, na castanheira no pátio da casa, pulando daqui para ali. O pessoal dava bananas, casca de mamão, e outros petiscos. Mas eu não os alimento. Não gosto muito deles não e por vários motivos. O primeiro e mais grave é que um danado de um mico comeu um canarinho bem na minha frente. Voou peninha amarela para tudo quanto foi lado. Fiquei injuriada um tanto que só vendo.

Também desmancham ninhos, bebem os ovos, matam filhotes. É só eles aparecerem que os pássaros somem. Uma tristeza. E além de tudo, entram na casa e matam a gente de susto. Você distrai e eles invadem por todo lado. Não vou matar bicho nenhum, mas andei soltando umas bombas no pátio e não adiantou nadica de nada. Outra invasão foi de uma garça. Estava ali, quieta, no meio da sala. Quando se tentou botá-la para fora, ela correu para o lado errado e o banzé se instalou. Um caos. No outro dia, tomamos uma sopinha de macarrão e coloquei os pratos na pia da cozinha para lavar mais tarde. Ouvimos um barulhinho e um gato de todo tamanho estava lá, tomando o restinho dos pratos. Nesta noite, não sei quem se assustou mais: minha neta que gritou o gato ou eu. Cena de terror. Também fomos atacados por pernilongos ensandecidos na tarde que ameaçou chuva e por marimbondos que se não eram de fogo, passavam perto. Estes foram exterminados, pois não houve conciliação possível. Até que tento conciliar a convivência com a natureza inteira, mas com pernilongo azucrinando e marimbondo invasor ainda não conseguir harmonia suficiente.

Enfim, de invasão e invasão, também invadimos o espaço deles. Dos bichos. Por causa disto é que respeito as formigas. Todas as vezes que alguém reclama deles, refresco a memória do reclamador lembrando o nome

da cidade da qual somos um povoado. Formiga. A terra é delas. Mas não moro num lugar chamado Mico e nem Gato. E muito menos Pernilongo. Eles que procurem a cidade deles.

Luiz David

2 Comments

  1. PRECISO MUITO DE ENTRAR EM CONTATO COM HILA…SOU BIBLIOTECÁRIA E. MUNICIPAL FLORENCIO RODRIGUES NUNES ( DISTRITO DE PONTE VILA)E ESTOU DESNVOLVENDO UM PROJETO DE MADRINHA E PADRINHOS LITERÁRIOS E GOSTARIA DE CONVIDÁ-LA A PARTICIPAR COM A GENTE ..ROSANE

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