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A viagem de D. Pedro II a Minas Gerais


NOS PASSOS DO IMPERADOR (VI)

Compartilhado blog  sumidoiro do Eduardo de Paula

? Passagem pelo Caraça 

O casal imperial d. Pedro II e dona Tereza Cristina, partiram do Rio de Janeiro, no dia 21.03.1881, sábado, às 6 horas da manhã, para conhecer Minas Gerais. O imperador cuidou de escrever um diário de viagem e também a imprensa deu grande cobertura à visita. Parte desses acontecimentos são aqui revividos por Sumidoiro’s Blog(1), em continuação ao Post anterior.

No dia 11 de abril, à noitinha, a caravana havia atingido um dos pontos mais aguardados da viagem, o colégio do Caraça. O dia seguinte foi dedicado a conhecer o famoso educandário.

Post - Caraça p M. NorthColégio do Caraça com a igreja mais antiga (por Marianne North).

12 (terça-feira) – Acordei às 6h. Fui tomar banho no rio. De volta, admirei as montanhas por detrás da casa, entre as quais a chamada Carapuça. Esqueci-me de falar ontem da bonita aldeola do Sumidouro, antes de subir a serra. As casas pequenas, com seus quintais floridos, estavam caiadas de novo e tudo respirava alegria. O nome de Caraça provém ou da forma de caraça de uma das montanhas ou de um português que morou perto da serra, a que davam a alcunha de Caraça. Assim ouvi do padre Clavelin.

Referiu-me ele que se supunha que frei Lourenço, terceiro de São Francisco e fundador do Caraça pertencia à família Távora e, por isso, fugira para o Brasil. O capitão-general de Minas, Bernardo José Lorena, tratava-o com muita estima e deixou-lhe uma baixela. Acharam o testamento de frei Lourenço, que parece desmentir a lenda dos Távoras. Frei Lourenço comprou a primeira terra a faiscadores, doou-a a d. João VI, que mandou vir frei Leandro e Viçoso, a quem deu a terra, com o princípio de edificação da capela que se constrói no lugar da antiga, construída por frei Lourenço. Seis janelas de cada lado – que fizera frei Lourenço.

Post - Irmão Lourenço

Irmão Lourenço, fundador do Caraça.

Depois houve uma licença de meu pai para adquirirem mais terra e, enfim, há pelo menos uma que possui a congregação, sob o nome de outrem. Respondi a Clavelin que era preciso regularizar a situação. Todo o terreno forma quase um círculo de um e meio de diâmetro (?). Na saleta onde escrevo há bons livros pertencente ao padre Clavelin, ou padre Sipolis(2), alguns de história natural. São quase 8h e vou para a missa que disse* (*celebrará) Clavelin no refeitório anterior ao atual. A casa tem um pequeno pátio com algumas flores, feto* (*samambaia) arborecente.

Estive na biblioteca, onde achei bons livros e edições antigas, chamando minha atenção a “Crônica de Eusébio”(3), de 1483; Veneza, impressor Arnoldt Augustensis. Há aí uma pequena coleção de minerais, quase todos de Minas. Altura do Caraça sobre o nível do mar 1.300m, pelo ipsômetro(4) de Gorceix. Aqui dizem que são 1.600. O maior frio foi já de mais 4ºC e o calor de 23 a 25. Depois fui para as aulas. Comecei pela de direito canônico. Tive que protestar contra o modo por que o professor Chavanaz(5)combatia o direito do “placet”.

Depois ele estranhou que um monarca católico protestasse contra a doutrina e eu tive de dizer que, talvez, fosse mais católico do que ele e era tolerante, quando ele se mostrava intolerante. Expliquei sempre ao padre Clavelin, que parece-me excelente pessoa, como eu ressalvava o direito unicamente contra abusos de autoridade eclesiástica, que não deviam ficar dependentes da única apreciação daquela.

Assisti a todas as classes, onde gostei, em geral, do modo por que os estudantes respondiam; desagradando-me as de álgebra e aritmética. Os professores, a meu pedido, chamavam os mais adiantados. O filho do Peixoto de Souza, de Caeté, não traduziu e regeu mal Justinus. Enquanto jantavam, fui ver a oficina do padre Boavida(6), que está fora missionando. Admirei aí o seu trabalho de órgão. A madeira preta das teclas é belíssima. Visitei outra partes do estabelecimento. As interrogações nas classes terminam às 4¾.

Post - Igreja CaraçaCaraça: interior do santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens. 

Jantar. Subida ao pequeno morro de pedra do Calvário, de onde a vista é belíssima, sobretudo do lado da montanha da Carapuça, com matizes róseos e violáceos do por do sol. Olhei bem para todas as montanhas que cercam o edifício. Ontem, mostraram-me o pau de jacarandá a que se arrimava o irmão Lourenço e não Fr.(7), quando Saint-Hilaire(8) o viu aqui. Fui depois por um caramanchão onde está o chamado quiosque, até a represa de água em que espelhava a lua. A noite está belíssima.

O edifício, para maior largueza dos alunos, carece ainda de bastantes obras. Tem gasto já bastante com a igreja, que ficará muito elegante. Vi muitos bem feitos capitéis e socos de pedra daqui, por três canteiros(9), sob a direção de um mestre, sendo um daqueles Joaquim Martins, português, e os outros fulanos Vidal, espanhóis. Avistei do calvário a horta, muito viçosa, tem bois para carreto e trezentos para corte. Compram o milho, agora, por 1 a 2$000 o alqueire, mas já chegou a 4, e o feijão a 7 ou 8, o saco. O carreto é necessariamente caro.

Post - Pe Clavelin

Padre Clavelin.

Voltei de meu passeio por dentro da cozinha, que não é má, menos o fogão, que não é econômico. Visitei a farmácia, dirigida por um padre. Tem pequena enfermaria perto de cada dormitório e quartos para doentes graves. O médico, dr. Figueiredo, vem de quinze em quinze dias, quando não seja chamado para qualquer caso extraordinário e grave. O lugar passa por muito (?). As chuvas vêm do lado do N.O. Logo há sarau literário. Chegou hoje correio do Rio, com diários até 8 (dia).

Reuniram-se os professores e os estudantes na capela que se constrói, iluminada com velas em lustres de papel. O espetáculo era muito belo. Dirigiram-me discursos em francês, Clavelin; latim e grego – o grego de Constantinopla – professor de história e geografia; hebraico, o padre Lacoste(10); espanhol, um empregado da casa, ex-oficial de cavalaria espanhol(11); inglês, o professor de inglês(12); português, o desta língua(13) e italiano; um estudante, Tertuliano Ribeiro de Almeida, que pronunciou tão mal como o de inglês(14).

Cantaram uns versos franceses, antes de oferecerem um ramo com os versos acompanhados de flores pintadas, pelo professor de desenho, à imperatriz. Tocou a banda dos alunos, que é sofrível. São mais de 9h e vou deitar-me, que saio amanhã, logo que clarear. Ia me esquecendo de dizer que, na volta da represa, vi araucárias e disse-me Clavelin que, no tempo da visita do meu pai, ainda existia uma alameda delas plantadas pelo irmão Lourenço. — DIÁRIO: continua na próxima postagem.

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Flores para Cristina

Um repórter da “Gazeta do Norte”, que acompanhou a comitiva, e relatou(15) a homenagem a dona Cristina: “Em seguida, o padre Antônio José Teixeira, um seminarista e três estudantes do colégio cantaram os seguintes versos, dedicados a S. M. a imperatriz”:

Post - Imperatriz poema

SIMPLES BUQUÊ 

À nossa Soberana / Oferecemos hoje / A vós, dos corações, a rainha / De nossos jardins o fruto. 

É um buquê / Simples e elegante / De flores da natureza / E do ardor de nosso coração / A mais pura imagem. 

Eis a violeta / Humilde pequena flor / Nela se reflete / Vossa amável doçura. 

Receba este ramo / Do jasmim cheiroso / Vossa mão delicada e branca / A quem sofre estender. 

O lírio do vale / Nos é outra dádiva, / Sua flor imaculada / Simboliza Bourbon.(*) 

Aceitai esta rosa, / Rainha de todas as flores, / Tal como ela acaba de se abrir, / Vós reinais sobre os corações. 

E a flor que assim chamamos, / Lembrai-vos de mim, / Vos repetirá que em tudo / Vós tendes nossa fé.

* A imperatriz era uma Bourbon. Data do início do século XIII, a origem da importante família, que tem como símbolo a flor-de-liz (lírio).

Nem tudo são flores

O mesmo repórter da “Gazeta do Norte” também presenciou o conflito do “placet”, envolvendo o imperador:

“Vou referir [-me a] um fato que se deu aqui, na aula de teologia e direito canônico, que é regida pelo padre lazarista João Chavanat. Fa-lo-ei sem comentários, porque é um verdadeiro ferro quente, no qual não porei a mão. Foi assim: o professor, arguindo naquela aula um aluno, perguntou-lhe quantos poderes conhecia. O aluno, respondendo que o civil e eclesiástico, acrescentou que ambos eram independentes, mas que o primeiro era sujeito ao segundo; aduzindo ao professor que o poder civil estava sob o eclesiástico por vir de Deus. Sua Majestade declarou que protestava contra esta doutrina, na qualidade de representante do poder civil e por ser ela contraria a constituição do Estado.”

Post - Pe Chavanat

Padre Chanavat.

E, nos arquivos(16) do Caraça, registra-se mais detalhes da confusão:

“A discussão, porém, não se alongou. O padre Clavelin, que acompanhava o imperador na inspeção das aulas, preocupado com a confusão que ia se formando, desconversou e encaminhou o Imperador para que continuasse a visita ao colégio.

No entanto, pouco depois, no horário do recreio, dom Pedro passeava novamente com o padre Clavelin e acabou se encontrando com o padre Chanavat, que não perdeu a oportunidade de dizer: ‘Não admito o protesto de Vossa Majestade. É escandaloso um Monarca católico protestar contra a Doutrina da Igreja diante de um Seminário Maior’. Diante disso, o Monarca apenas replicou, antes de continuar sua visita com o Padre Superior: ‘Sou mais católico que o senhor. Sou católico tolerante, ao passo que o senhor é intolerante’.

Em Ouro Preto, perguntado sobre o incidente no Caraça, Sua Majestade, reconhecendo que não poderia ser outro o ensinamento ministrado no Seminário, apenas respondeu: “O padre Chanavat é um sacerdote digno da batina que veste e da cátedra que ocupa”.

Troca de gentilezas

Ainda os arquivos do santuário do Caraça mais detalhes da visita:

“À noite, houve uma sessão solene, dentro da igreja ainda em construção. Ao imperador foram dirigidos discursos em nove línguas, aos quais Sua Majestade respondeu na língua em que foi saudado. Depois, houve apresentação de poesias, homenagem à imperatriz e execução de músicas pela banda do colégio.?No dia 13, logo pela manhã, d. Pedro II e sua imperial comitiva desceram a serra, em direção a Catas Altas. Antes de sua partida, Sua Majestade deixou para o Caraça a importância de 500$000 de esmola para as obras da igreja, com a qual foi comprado o vitral central. Deixou também 400$000 para serem distribuídos aos pobres de São João do Morro Grande (hoje, Barão de Cocais).

Além dessas doações, prometeu enviar um pintor para registrar em uma tela a beleza do Caraça, como ficou anotado no livro de crônicas da casa:

‘Sua Majestade o Imperador, achando-se no adro da igreja, desenhou, por seu próprio punho, a lápis, as montanhas que ficam de frente à casa, tomando-lhe cuidadosamente todos os nomes. […] Prometera S. M. mandar da corte um pintor para tirar-lhe a vista da formosa cascata, que, em seus encantos, o maravilhara no caminho, como também a da casa e das serranias que a rodeiam, como lembrança de sua visita’.

Como forma de gratidão, o Caraça ofereceu ao imperador seu mais antigo livro: Crônica de Eusébio, de 1483, que encontra-se arquivado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.”

Post - Caraça & livroPágina da “Crônica de Eusébio” (ano 1483). / Santuário e prédio da biblioteca (à direita), antes do incêndio.

Post - Sumidoiro MARCA

O incêndio

Uma triste história do Caraça começou com um grito de alerta, às 3 horas da madrugada de 28.05.1968, terça-feira, lançado por um aluno que se encontrava recolhido à enfermaria do colégio. O moço havia sentido cheiro de fumaça e foi acudido pelo padre disciplinário, que constatou a irrupção de um enorme incêndio. Um fogareiro elétrico, esquecido ligado na sala de encadernação, foi o responsável pelo início do fogo.

A maior preocupação de todos, desde o primeiro instante, foi salvar o tesouro de livros da biblioteca, com cerca de trinta mil exemplares. Mas as chamas poderosas rapidamente se alastraram, atingindo o Museu de História Natural, que guardava muito material inflamável, depois propagando-se para cômodos do primeiro e segundo andares, inclusive salas de aulas, teatro e, finalmente, atingindo o terceiro andar onde ficavam os dormitórios.

Quando o fogo foi debelado, constatou-se que ficou a salvo a igreja, por situar-se ligeiramente afastada e mais protegida do foco do sinistro. Do inestimável acervo bibliográfico quase nada sobrou. Por isso, bem fizeram os padres anos antes, quando decidiram presentear o imperador com o mais antigo livro da coleção. Em boa hora salvou-se uma preciosidade, graças a Deus!

Post - Caraça após incêndioCaraça após o incêndio.

O nome e um pouco de história

Em certo ponto da serra do Espinhaço, próximo à cidade de Catas Altas (MG), destaca-se dramaticamente na paisagem uma íngreme elevação, com um recorte que se assemelha a uma enorme cara. Daí talvez derive o nome aumentativo Caraça. O local era conhecido desde o início do século XVIII, apenas como um lugar no mapa da Província de Minas onde, provavelmente, teria existido um garimpo.

Por outro lado, estudos acadêmicos têm sugerido que a palavra viria do tupi-guarani, para dizer desfiladeiro ou bocaina, acidente geográfico que lá realmente existe. De qualquer forma, tudo são hipóteses, o que dá liberdade a Sumidoiro’s Blog de optar pela que é mais poética. Caraça é um perfil humano desenhado na montanha pela mão do Criador, para deleite dos caminhantes!

A história da fundação do também denominado Santuário do Caraça começa com um homem misterioso, que arribou por aquelas plagas e ali comprou grande sesmaria(17). Dizem ter sido um fugitivo, nobre português, e perseguido pelo marquês de Pombal, porque teria participado de um complô familiar, liderado por d. Francisco de Assis Távora, que redundara em um atentado contra d. José I(18).

Post - Tortura - J M Távora

Quebrando ossos de José Maria, filho de d. Francisco de Távora.

O rei sobreviveu, mas a vingança foi terrível, os acusados – os Távoras – foram torturados juntamente com seus comparsas, depois queimados e seus corpos lançados ao mar (leia último tópico, abaixo). Contudo, o assunto permanece controverso e, embora tenha ocorrido um processo criminal, nunca se chegou à plena verdade.

Havia, então, suficientes motivos para a decisão desse homem escapar de Portugal. O fugitivo seria Carlos Mendonça de Távora que, por volta de 1760, passara primeiramente pelo Arraial do Tejuco – hoje Diamantina (MG) – trabalhando em mineração. Ali, se dizia filiado à Ordem terceira de São Francisco e trabalhava na mineração com o nome de irmão Lourenço de Nossa Senhora. Como suas atividades não prosperaram naquele lugar, transferiu-se para a região de Catas Altas (MG), onde adquiriu terras, entre 1768/1770. Ali chegando, optou por realizar um projeto que lhe aproximasse mais de Deus e, para isso, decidiu construir num lugar ermo, ao pé da serra, uma pequena igreja e, em anexo, aposentos para religiosos e uma casa de hospedagem para romeiros: Ermida e Hospício* de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Assim foi que passou a dedicar sua vida à penitência e ao atendimento de peregrinos. — * Ermida = pequenina capela em lugar ermo; hospício = hospedaria.

Na primeira etapa do empreendimento, irmão Lourenço erigiu uma capelinha de madeira, inaugurada em 10.08.1774, onde rezou-se missa para alguns romeiros e operários. Um marco anota 1775 como ano de início da construção dessa ermida, depois utilizada até 1876, quando foi demolida para dar lugar à atual igreja.

De cada lado da ermida havia uma construção de dois andares, com seis janelas cada uma, para as acomodações de hospedagem. Em torno, havia um corredor em forma de ferradura, que abrigava altares, representando alguns passos da Paixão de Cristo. Do lado esquerdo, ficava o claustro, com pequena torre e sino. Compunha a parte frontal um adro, cercado por balaustres e uma escadaria. Na entrada dois pilares sustentavam a tribuna, onde ficava um órgão.

O irmão Lourenço ali viveu o resto da sua vida, falecendo em 27.10.1819, com cerca de 96 anos de idade. O vigário de Catas Altas, que o atendeu nos últimos momentos de vida, dirigiu-lhe palavras tranquilizadoras, dizendo que podia morrer em paz, pois Deus não abandonaria a obra do Caraça. Isso de fato aconteceu, com o envio de missionários para dar continuidade ao seu trabalho.

Post - Caraça desenh igr antigaAntiga ermida do irmão Lourenço.

Em seu testamento, de 1806, deixou escrito:

“Sou senhor e possuidor de uma sesmaria de terras […] sitas na Serra do Caraça […] onde à minha custa e com esmola dos fiéis, edifiquei uma capela com o título de Nossa Senhora Mãe dos Homens e São Francisco das Chagas, com todos os seus pertencentes, ornamentos, imagens, alfaias, santuário de várias relíquias, um corpo de São Pio, mártir; de que e de todos os meus bens que me pertencem fiz oferecimento por mim a Sua Alteza Real, para estabelecimento de um hospício de missionários […]Declaro que minha vontade sempre foi e é de que todos os referidos meus bens fossem para estabelecimento e residência de missionários e, não podendo conseguir-se para este fim, que, em tal caso, servisse para seminário de meninos, onde aprendessem as primeiras letras e mais artes, ciências e línguas”.

Post - Caraça George GrimmPaisagem com o novo Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens (por George Grimm, 1885).

Os seguidores de irmão Lourenço permaneceram fiéis sua vontade mas, com o passar do tempo, as instalações tiveram de ser ampliadas, pela crescente demanda de alunos, seminaristas, professores, serviçais e romeiros. Desse modo, o Caraça foi crescendo em tamanho das instalações e fama, tudo isso devido ao empenho de várias administrações. Quando assumiu a direção superior o padre Clavelin (1867/1885), decidiu-se fazer uma reforma radical, qual seja, a de substituir a primitiva ermida por um templo mais imponente.

Em 1876, teve início a demolição, logo em seguida dando início às obras. Em 27.05.1883, dois anos após a visita do imperador, estava tudo finalizado, sendo então consagrado o atual santuário. No ano de 1885, atendendo pedido de d. Pedro II, o pintor George Grimm(19) esteve no Caraça e pintou uma paisagem mostrando o templo neogótico recém erigido. A torre em agulha apontando para o céu!

Post - Suplício TávorasCadafalso em que foram executados os fidalgos (Torre do Tombo, PT).

O fim nos inimigos do rei 

Na Torre do Tombo, em Lisboa, estão arquivados documentos do chamado Suplício dos Távoras:

“A 13 de Janeiro de 1759, há 250 anos, foram executados os acusados de estarem implicados no atentado ao rei D. José I, ocorrido uns meses antes, a 3 de Setembro de 1758. Após um processo sumário, a sentença final, proferida a 12 de Janeiro de 1759, no Palácio da Ajuda, considerou o veredicto que todos os réus eram, de fato, culpados. O documento (acima) apresenta o patíbulo montado em Belém, no qual foram sacrificados e mortos D. Francisco de Assis de Távora e D. Leonor (marqueses ‘velhos’ de Távora), José Maria de Távora, Luís Bernardo de Távora (filhos dos Marqueses de Távora), D. José de Mascarenhas (duque de Aveiro), D. Jerônimo de Ataíde (conde de Atouguia), Manuel Alvares Ferreira (guarda roupa do duque de Aveiro), Brás José Romeiro (cabo da Esquadra da Companhia do Marquês de Távora), João Miguel (moço de acompanhar o duque de Aveiro) e José Policarpo de Azevedo, queimado figurativamente em estátua, porque andava foragido.” – Manuscritos da Livraria, nº 1103, f. 447.

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 Compilação, adaptação, comentários e arte por Eduardo de Paula

Revisão: Berta Vianna Palhares Bigarella

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(1) Fonte do Diário: “Anuário do Museu Imperial”, vol. XVIII, 1957, versão e notas por Hélio Vianna. // Sumidoiro’s Blog corrigiu e atualizou grafias de palavras, alterou pontuações, tanto na transcrição do Diário, quanto nos noticiários da imprensa, preservando a integridade do conteúdo. Ainda acrescentou notas e ilustrou.

(2) SIPOLIS, Miguel Maria – Superior do Caraça de 1854 a 1857 e de 1862 a 1867

(3) CESAREA, Eusebio di – (*c. 265 / c.†340) – “Chronicon id est temporum breviarium”, Erhardus Ratdolt, Veneza, 13.08.1483

(4) Ipsômetro – Aparelho desenvolvido em inícios do século XIX, usado para medir a altitude de um lugar, através da diferença nele indicada pela temperatura em que a água entra em ebulição.

(5) CHAVANAT, João Gualberto – Padre lazarista (vicentino). D. Pedro II equivocou-se escrevendo Chavanaz.

(6) BOAVIDA, Luiz Gonzaga – Posteriormente tornou-se diretor do Caraça.

(7) “…o pau de jacarandá a que se arrimava o irmão Lourenço e não Fr...” = o bastão de jacarandá no qual se apoiava o irmão Lourenço e não frei.

(8) SAINT-HILAIRE – Augustin François César Prouvençal de – Francês (Orleáns, *04.10.1779 / Sennely, †03.08.1853), naturalista e viajante.

(9) CANTEIRO – artista ou artesão que esculpe em pedra.

(10) LACOSTE, Henri – lente de teologia dogmática.

(11) MICOLTA, Vicente – professor de desenho.

(12) TEIXEIRA, Antônio José – professor de inglês, padre.

(13) ORNELAS, Aristides – professor de de latim, italiano e português (desta língua, como disse d. Pedro II).

14) O imperador sempre respondeu, na mesma língua, a cada aluno que ouvia.

(15) GAZETA DO NORTE, Ceará – em 08.051881, ed. 99.

(16) Arquivos do Caraça, fonte: http://www.santuariodocaraca.com.br/

(17) Sesmaria – Lote de terra inculta ou abandonada, que os reis de Portugal entregavam aos povoadores para que as cultivassem; tornavam-se, então, sesmeiros.

(18) Atentado dos Távoras – O evento não foi suficientemente comprovado em seus pormenores. Contudo, as execuções se consumaram, provocando devastadora repercussão em Portugal. A execução de uma família da primeira nobreza de fato constituiu um choque. A futura rainha d. Maria I ficou muito afetada pelos acontecimentos e há quem diga que contribuíram para terminasse seus dias louca.

(19) GRIMM, Joahann George – (Alemanha, *1846 / Palermo, Itália, †24.12.1887) Pintor, decorador de interiores, pintor de paredes, carpinteiro, professor de artes.

Luiz David

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