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CINE-CAFÉ

                                                                        CINE-CAFÉ

Inaugurado no ano 2000, ocupando o espaço que por quase noventa anos foi a estação ferroviária da cidade, o Cine-Café “Estação do Pará” encerra novamente suas atividades, a quarta ou quinta vez que isto acontece em menos de vinte anos. Pessoalmente eu lamento o projeto fracassado, daquilo  que poderia ter sido mas não foi. Neste caso, acredito que o nome do empreendimento foi fator decisivo para que não prosperasse: “CINE-CAFÉ”.                       Os empresários que se dispuseram a tocar o lugar não pegaram bem o espírito da palavra composta, na parte que diz CAFÉ. Era para ter sido “Café” mesmo, um lugar para se beber um cafezinho honesto, ou um chocolate quente nos meses frios; ou um chá com croissants antes ou depois das sessões vespertinas; quiçá uma taça de água mineral de boa qualidade; ou um sorvete com os filhos antes (ou depois) da matinée dominical, naquelas mesas espalhadas pela comprida e antiga gare.                                                                                                                                                                         Quando eu soube lá por volta de 1999 que a velha e quase em ruínas estação ferroviária se transformaria em cine-café foi assim que eu imaginei o lugar. Eu conheço muita gente que viveu a mesma expectativa minha, de ver funcionando na cidade um estabelecimento bastante comum em outras, às vezes até menores, mas com o nível intelectual mais apurado. Não que o Cine-Café fosse se transformar em reduto de pseudo-intelectuais pernósticos, mas sim num polo irradiador de boas idéias, uma arena aberta ao debate entre adversários (mas não inimigos) de todas as correntes políticas, esportivas e dos diversos vieses do cenário cultural: Um lugar para se falar de cinema é claro, mas de literatura também, de artes plásticas, teatro.   Um lugar assim foi o que eu imaginei, aberto a todas as tendencias e a todas as classes sociais, afinal de contas o sujeito pode ser pobre de marré marré  e possuir uma inteligência acima da média e gostar  de coisas boas. Não é por ser pobre e morar longe que  está condenado a jogar truco no boteco da esquina e ouvir na radiola modão do sertanejo universitário.                                                                No café do Cine nesses quase vinte anos só faltou a mesa do truco. Vale seis, ladrão de milho!

Infelizmente, todos aqueles que se aventuraram  em tocar o cine-café, entenderam “café” como bar; e bar com música ao vivo, muitas vezes de qualidade duvidosa. Como empresários, entraram no negócio para ganhar dinheiro, de preferência muito. Um cinema colado em um bar, com entrada única para sala de exibição e para o “saloon”, não vai dar certo em nenhum lugar, não seria no Pará de Minas, onde urubu costuma voar de costas. Não bastasse a música ser ao vivo, os decibéis sempre acima do que preconiza a Lei do Silêncio, incomodavam geral: das encostas da Serra do Cristo Redentor às colinas do bairro de Nossa Senhora das Graças e metade do centro da cidade. Metais em brasa e trompetes nem sempre em surdina, mais as batidas nos couros de eventuais baterias, enlouqueceram não apenas as algumas dezenas de pessoas presentes no exíguo espaço, como centenas de outras  que em casa tentavam dormir, assim como as freirinhas do Colégio Sagrado Coração de Jesus e os padecentes do HNSC.  Assim foi que o café virou bar e sufocou o cine. Acredito que todos aqueles que se arriscaram em explorar comercialmente o Cine-Café saíram do empreendimento sem ganhar dinheiro.

Nesta semana o Secretario Municipal de Cultura anunciou que cogita mudar tudo no projeto “Cine-Café”.               Não haverá mais o café. A sala de cinema pode ganhar uma irmãzinha gêmea ocupando a outra metade do prédio. Ou pode o lugar ser ocupado para usos múltiplos como galeria de artes, espaço para exposições variadas,  alguma coisa ligada à cultura popular.   Mas outra vez um bar com nome de café não vai acontecer e isto é muito bom.

Nos anos 1970 Pará de Minas  teve um Cine-Clube, cujas exibições cinematográficas aconteciam no auditório do INSS (sim, naquele prédio, em andar superior, existe um belo auditório). O Cine-Clube tinha como principais  incentivadores os professores Márcio Varela e Márcio Simeone.  O secretário de Cultura Paulo Duarte se achar a idéia boa, pode levantar esta hipótese de um cine-clube na velha estação. Por não buscar lucro um cine-clube pode acrescentar muito ao projeto.

Luiz David

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