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DE PATAFUFO A PARÁ DE MINAS

DE PATAFUFO A PARÁ DE MINAS

Contribuição Histórica

Hoje eu vou comentar o livro “De Patafufo a Pará de Minas – Contribuição Histórica”

O livro de autoria do fazendeiro, poeta e político, José Augusto Corrêa de Miranda, foi publicado em 1961 (portanto, há 60 anos). O autor, também conhecido como José Augusto da Cachoeira (nome da bicentenária fazenda no município), foi o primeiro presidente da Câmara Municipal após a primeira redemocratização do país com o fim do período ditatorial de Getúlio Vargas (1930 / 1945). José Augusto foi eleito vereador nas eleições de 1947, empossado em janeiro de 1948 quando foi eleito pelos seus pares, por unanimidade, o presidente da Câmara Municipal. A obra, a sua de estreia, pois mais tarde, o autor publicaria outra, com suas poesias, poemas e trovas, que levou o título “Murmúrios da Cachoeira”. José Augusto viveu muito tempo, morreu quase centenário, na segunda metade da década de 1960, ainda bastante lúcido. Casou-se após os sessenta anos e deixou dois filhos José Emilio, que sempre viveu na Fazenda Cachoeira e Déa Miranda Nacif, renomada escritora paraminense, casada com o oficial reformado da Policia Militar e advogado Paulo César Nacif.

Para escrever seu primeiro livro o autor mergulhou fundo nas pesquisas, acessando os livros de atas da Câmara de Vereadores e coleções de jornais dos primeiros anos do Século XX. De tudo ele extraiu episódios os mais interessantes e transportou para a histórica obra, com leves comentários de sua autoria. Em sua última parte o livro trás um conto do autor: “A Lenda do Patofofo”, que é uma delicia de leitura e colaborou imensamente para fixar no imaginário do povo patafufense a imagem do (até prova em contrário) fundador do arraial, que se transformaria nesta louca e linda, cosmopolita e provinciana, cidade de Pará de Minas. Eu selecionei alguns capítulo do livro, e os reproduzo aqui.

OS CAMINHEIROS

“Um dos primeiros atos da Câmara Municipal, em 21 de setembro de 1859 (dia seguinte à instalação da Vila), foi a nomeação de quatro caminheiros; eram uma espécie de estafetas pagos pela Vila. Venciam a pé grandes distâncias, em poucas horas, pela paga de um tostão a légua. Tinham a cargo o transporte de mensagens urgentes, como se fossem telégrafo humanos; verdadeiros heróis que se isolavam nos ermos caminhos, galgando serras e serras, capazes de transpor até mais de dez léguas por dia (observação minha: uma légua = seis quilômetros). Numa sessão de abril de 1860 existe uma petição dos caminheiros em que eles pleitearam aumento nos vencimentos, alegando que ficavam prejudicados com as demoradas esperas por respostas e recibos, o que lhes onerava também com o encarecimento de suas subsistências. A Câmara reconheceu que era justa a reivindicação dos caminheiros e concedeu a eles o aumento de dez réis por légua ($10)”.

ÁGUA POTÁVEL

Desde os mais remotos primórdios do arraial do Patafufo, da Vila do Pará, da Cidade do Pará e de Pará de Minas, que levar água potável aos lares dos paraenses foi primordial preocupação dos gestores da cidade. Senão vejamos excertos da Ata da Reunião da Câmara realizada em 12 de julho de 1861.

“Um requerimento subscrito por Antônio Cândido da Silva Marques e Francisco esteves Rodrigues, nessa sessão, dá esclarecida noticia do chafariz da Praça da Matriz e da primitiva captação em bicas de aroeiras, começando da Tabatinga aos chafariz e os seus associados, pois com exceção do chafariz público, pertencia o direito desta captação a um grupo de associados que, entre si, dividiam os benefícios e despesas da captação, como as despesas da construção e a conservação da Hidráulica rede (sic). A distribuição do precioso líquido aos sócios era feita em anéis (em outra parte diz óculos) dispondo para o abastecimento público três anéis, segundo a descrição. Requerem pois, esses senhores acima referidos, a reforma das bicas, despesa calculada em duzentos e cinquenta mil réis por unidade, cabendo à Câmara o pagamento de trinta mil réis pelos três anéis do chafariz público. Este assunto de bicas, óculos e chafariz é muito comum nas reuniões, desde abril de 1860″…

“…Ainda em setembro de 1900 há uma indicaçãodo vereador Marinho atinente à colocação de óculos d’água no chafariz da Praça da Matriz, para distribuição nas residências da Rua Direita. Outra indicação, do senhor Silvino Silva, no sentido de contratar uma pessoa para com a obrigação de fechar a água da Tabatinga às seis horas (18 horas) e abrir às seis da manhã, durante os meses de setembro, outubro e novembro. Ordenado: dez mil réis mensais pagos pela verba do parágrafo 6º do artigo 4º do orçamento vigente”.

A 1ª TETA ( Ou como fazer caridade com dinheiro público – título meu LVD)

Na reunião do dia sete de setembro de 1862, está registrada uma petição do senhor Moreira dos Santos nos seguintes termos: “Existindo no cofre público verba em benefício dos enjeitados (filhos abandonados pela mãe) e, tendo sido exposta em minha casa, na noite de 19 de setembro (?) uma inocente, hoje com o nome de Cornélia, e não estando minhas escravas em condições de amamentar, fui obrigado a procurar fora uma mulher caridosa que disso se encarregou; penso que o faz por espírito de caridade e nada exigirá; contudo é justo que eu a gratifique. Peço portanto, com esta finalidade, uma quota da referida verba”

Resolveu a Mesa passar a petição à Comissão de Requerimentos e Ofícios. Na sessão do dia 9 do mesmo mês a Comissão deu parecer concedendo-lhe o auxílio de doze mil e quinhentos réis (12$500).

O autor José Augusto também extrai noticias do jornal “CIDADE DO PARÁ” em 1904.

VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA

“No cemitério desta cidade (o cemitério Eclesiástico na Praça Galba Veloso; também conhecido como ‘cemitério velho’, removido no ano ano 1964), às expensas da municipalidade, foi sepultado no dia nove do corrente, o cabo Antonio Germano Marques, que aqui nascera no ano de 1844. Ao impulso de seus vinte e um anos, em 1865, acudindo ao apelo da Pátria, o finado daqui partira a alistar-se nas fileiras do 24º Corpo de Voluntários, que devia seguir para o cenário da guerra contra o Paraguai.

No fim da vida, quando estendia as mãos súplices à caridade, exibia um papel amarelado e sebento, que dizia na mudez de seus algarismos: “Antonio Germano Marques, a dois de setembro de 1866, sob o comando do Barão de Porto Alegre, acampou a duzentas braças do Forte de Curuzu; no dia seguinte, atravessando uma chuva de metralhas investiu contra este Forte e o tomou de assalto, combatendo, braço a braço, os infantes e artilheiros paraguaios. Em Curupaiti, no dia 22 de stembro de 1866, mesmo depois da retirada das tropas (aliadas ao Brasil) uruguaias e argentinas, ainda sob o comando de Porto Alegre, tentou o último esforço que deu a este general o direito de dizer: “Fomos vencidos, mas ficou ilesa a honra da |bandeira brasileira”.

“Fez a marcha (Antonio Germano) de Humaitá. Esteve em Tuiuti. Passou a ponte de Itororó no dia seis de dezembro de 1868. Pelejou Avahí no dia onze do mesmo mês e; durante uma semana inteira, combateu em Lomas Valentinas, com o que destruiram o exército de Solano Lopez. Peribebuí e Campo Grande foram os últimos feitos seus e do Exército Brasileiro. Em São Joaquim passou mês e meio comendo carnaúba e o couro dos próprios arreios. Estava de regresso à Pátria no ano de 1870. Nela recebeu os trezentos mil réis do Decreto de 1865; terras que nunca viu e a indiferença dos poderes públicos, que não encontraram para o mutilado da defesa deste país, uma única sinecura que às mancheias distribui pelos afilhados…

“… Há muito que o cabo Antonio Germano voltara ao ‘São Joaquim’ da miséria, comendo o pó da carnaúba da caridade e o couro curtido das esmolas, que passando, lhe atiravam seus conterrâneos. Aos sessenta anos de idade, coberto de cicatrizesgloriosas, vivia, pode-se dizer, das reminicências desses tempos em que malbarateara a vida por uma Pátria que o deixava morrer de fome. Sua mulher, seus filhinhos aí ficam na mais absoluta penúria. como atestados vivos da ingratidão dos povos.. Lega-lhes o finado, por única propriedade a fé de ofício que trasncrevemos:

“O voluntário da Pátria, cabo Antonio Germano Marques, natural de Minas Gerais, de cor branca, cabelos pretos, olhos castanhos, estatura alta, idade 26 anos, estado civil solteiro, teve baixa do Exército, nesta data, por determinação do Governo Imperial, e na conformidade do que dispões o artigo 4º do Decreto número 3.371 de sete de janeiro de 1865. Assentou praça em dois de abril de 1865, no 49º Corpo de Voluntários da Pátria; marchou para a guerra contra o governo do Paraguai a cinco de maio de 1865; regressou a 19 de março de 1870, no 23º Corpo de Voluntários…”

“…Ao receber a presente escusa, está pago do soldo e mais vantagens que lhe competiam, como voluntário da Pátria; e bem assim da gratificação de que trata o artigo 2 do Decreto acima mencionado. De seus assentamentos existentes no arquivo deste Corpo consta o seguinte: – fez parte nos combates de 3 e 12 de setembro de 1866; de 24 de setem- bro e 3 de novembro de 1867; combates de 6, 11, 22 e 27 de dezembro de 1868; tomou parte nos combates de 19 de agosto no Piribuí; no dia 16 do mesmo mês tomou parte na expedição de São Joaquim, (Quartel do Comendo do 23º Corpo de Voluntários da Pátria em Niterói, 9 de abril de 1870 – Ass. João Pinto Homem (Major Comandante)

Foi aberta pelo mesmo jornal uma subscrição popular, em benefício do desventurado combatente, que rendeu de inicio a importância de 17$000.

O livro ” De Patafufo a Pará de Minas” é repleto de notas e noticias pinçadas pelo autor dos mais variados alfarrábios. Dele restam poucos exemplares e urge a sua reedição (LUIZ VIANA DAVID)

Luiz David

One Comment

  1. Realmente, um livro imprescindível. É preciso que tenha pelo menos um exemplar em cada biblioteca de escola da cidade e distritos. Parabéns pela iniciativa, Luiz David .

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