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Enfim 70

Esta crônica eu dedico a todos os amigos que se lembraram de mim no dia de hoje. Obrigado pelo carinho.

Quando morreu meu pai, em dezembro de 1977, ele tinha apenas sessenta e três anos. Morreu jovem, para os padrões da família David, onde não são raros os parentes que ultrapassaram a marca dos noventa anos; e vários alcançaram mesmo a marca dos cem anos. Durante a longa noite do velório, eu me perguntava se chegaria também aos sessenta. Eu tinha então vinte e nove anos e precisava viver (ou sobreviver) mais do que o dobro do tempo para atingir a idade com que meu pai se foi. E cá estou eu, neste glorioso 20 de junho de 2017, completando meus setenta anos, dando uma lambuja de sete anos no meu pai. Acho que cheguei inteiro, alguns amigos, irônicos, dizem que estou muito bem para a idade:-tem setenta, mas a cara é de sessenta e nove, brincam eles. Vou remando, mentalizei que vou viver noventa anos. Mas a decisão de quando vou partir está, como sempre esteve, nas mãos daquele que me criou: Deus. Se for da vontade dele, chegarei aos noventa. Penso na duração de minha vida, como se fosse uma partida de futebol que tem noventa minutos regulamentares, podendo receber alguns minutos de acréscimos. Pelo meu contar, estou com setenta minutos de jogo, restando ainda outros vinte, fora a eventual prorrogação. No futebol, os vinte minutos finais de uma partida costumam ser os mais emocionantes; é aquele tempo no qual os times se esforçam ainda mais por um bom resultado, pela vitória final. Se esta já estiver assegurada por um placar elástico, que torne impossível(ou quase) a reação do adversário, então o momento é de tocar a bola e fazer passar o tempo. Mas eu não quero isto na reta final de minha vida. Quero continuar ativo e operante (como costumam dizer os policiais), atrás de novas realizações e conquistas, que possam se equivaler a gols decisivos de uma hipotética partida de futebol.
Até aqui acredito que agradei a torcida formada pelos meus amigos. Deles jamais recebi o cartão vermelho, embora alguns deles tenham me mostrado o cartão amarelo de advertência, na forma de conselhos, sempre úteis, nos momentos em que me excedi, que foram muitos. Meu juiz é a minha consciência e me dou muito bem com ele(a). Errei muito nos primeiros setenta minutos; mas aprendi muito também. Hoje já não entro mais em bolas divididas e aprendi a dominar no peito as adversidades e devolvê-las na forma de passes açucarados, para o proveito dos companheiros de equipe. Nem brigo mais com a torcida nem com adversários, pois ganhei experiência suficiente para conviver com os contrários.
Quero ser lembrado pelos meus pósteros, que dirão de mim:-este cara foi bom naquilo que fez e pelo que lutou. E na hipótese de o “Dono” do time e de tudo, resolver tirar-me do jogo antes do 90º minuto, que escrevam na minha lápide o seguinte epitáfio: Luiz Viana David: este saiu contrariado, da vida e do jogo. Que descanse em paz”. (LUIZ VIANA DAVID)

Luiz David

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