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Eu torcedor me confesso…

Eu torcedor me confesso…

Tornei-me torcedor de times de futebol aos sete anos de idade. Menino geralmente começa a torcer por times que estão ganhando e comigo não foi diferente. Era o ano de 1954 e o Atlético Mineiro se tornava tricampeão de Minas Gerais (seria penta); no Rio o Flamengo ganhava o bi (seria tricampeão em 1955) e em São Paulo o Corinthians faturava o o título de “campeão do quarto centenário” que está em vigor até hoje. Se eu tivesse seguido a opinião de meu pai, teria me tornado um cruzeirense. Eu nem tinha nascido quando o Cruzeiro ganhou seu último campeonato em 1945 e só voltaria a ganhar um em 1959. O Cruzeiro era naqueles anos anos o terceiro ou quarto clube com maior torcida em Minas. Na frente dele com dois terços dos torcedores vinha o Galão que ainda tinha esse apelido; o América e dependendo da situação de cada um, Vila Nova ou Cruzeiro brigavam pelo terceiro lugar no coração dos torcedores. No Rio o Flamengo já reinava absoluto como o time de maior torcida e eu sabia de cor a escalação do rubro-negro da Gávea: Chamorro, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel , Indio, Dida, Evaristo e Babá.                                                                                                                                                           Mas o elenco era grande: Garcia (Ari / Chamorro); Pavão (Joubert) e Jadir (Bolero); Servílio, Dequinha e Jordan; Evaristo (Germano / Babá / Paulinho), Joel, Rubens (Benítez / Gérson / Henrique), Índio (Moacir / Dida) e Zagallo (Carlinhos).  Eu era tão flamenguista que quase cinquenta anos depois, veio trabalhar em Pará de Minas o médico dr. Evandro, filho do  “Dequinha do Flamengo”  e eu fiz questão de procurar-lhe para lhe dar um abraço e perguntar á moda do torcedores: -por anda o Dequinha?  que infelizmente já havia falecido. Mas sempre que vejo dr. Evandro passando eu logo penso: ali vai o filho do Dequinha, tricampeão pelo Flamengo em 1953/54 e 55. Vida longa ao dr. Evandro, um ilustre pará-minense honorário.Mas eu falava de torcidas gigantescas, em São Paulo nunca teve espaço para qualquer dúvida, a “fiel torcida” corintiana sempre foi a maioral, embora  simbolizada numa única pessoa, a negra e humilde Elisa, que nunca perdia um jogo do time mosqueteiro (de mosquete = fuzil e não de mosquito, como aqueles palmeirenses nojentos queriam nos fazer acreditar). Uma vez Flamengo sempre Corinthians e Atlético em Minas. 

Passei a ignorar o Flamengo nos anos de 1980 e 1981, quando o rubro-negro ao mesmo tempo que o meu Atlético formou o maior esquadrão de sua história, com Raul Plasman, Júnior, Zico, Andrade e Adilio formou seu maior esquadrão de todos os tempos. E o Galão vinha com João Leite, Cerezzo, Rei Reinaldo, Éder Aleixo, Paulo Isidoro, Marcelo Pacote e Geraldo Guimba glória maior de Pará de Minas. O Flamengo tinha time para ganhar do Atlético na decisão do campeonato brasileiro de 1980 sem precisar da ajuda do árbitro José de Assis Ara (men) gão; como também podia derrotar o Atlético na partida decisiva para os  dois times na Copa Libertadores de 1981. Daquele jogo sairia o adversário do time chileno, um tal de Cobreloa, que desapareceu pouco depois. O que tinha tudo para se tornar no maior espetáculo futebolístico daquela década;  um Atlético  X  Flamengo numa partida extra em campo neutro, não houve o jogo por interferência direta do árbitro (?) J. R. W. cujo nome por extenso eu me recuso a digitar. Com poucos minutos de jogo, placar em branco, com poucos minutos de bola rolando o indigitado homem de preto que parecia possuído por todos os exús flamenguistas saiu de dedo em riste expulsando jogadores do Galo; foram seis ou sete alijados da contenda (epa!!!) e a CBF, cuja letra F mais do que nunca significou efe de Flamengo, homologou a molecagem do J.R W.  na decisão continental o mengo engoliu o cobra d’água chileno e foi ao Japão enfrentar o Liverpool, que desfalcado de Ringo Star, John Lennon, Rex e Paul não sequer sombra a ao galinho de Quintino e seu companheiros, que não tinham nada a ver com as lambanças dos juizes torcedores.                                   Desde então coloquei o Flamengo na geladeira, de onde o retirei só agora, trinta e sete anos depois, ao ver esse português chamado Jesus operar o milagre de fazer o Mengão ganhar um título sem precisar da ajuda do apito amigo.  No momento eu considero o Flamengo como um time em observação; se continuar ganhando sem ajuda extra-campo poderá ter de volta um torcedor apaixonado.  Caso contrário voltará para o freezer. 

Resumindo a ópera; acredito que o Flamengo vai ganhar o bi mundial, outra vez em riba do Liverpool, coitado, que pela segunda vez verá um urubu pela frente; acredito que o Cruzeiro não cai para a segunda divisão neste ano; a raposa precisa sangrar mais um pouco, passar fome, retomar a humildade de quando era do tamanho do Vila de Nova de Nova Lima. Se cair agora, periga estar de volta em 2021, pois mesmo cheia de perebas, é melhor do que todos os outros times da série B. Por isto torço para que caia somente em 2022, quando tiver queimado todas as gordurinhas e que passe muito tempo naquele inferno que começa em São Luiz do Maranhão, terra do Sampaio Correia, e se estende até a serra gaúcha onde a juventude gaúcha aguarda os incautos.

Já o meu Galão estará novamente ocupado em conhecer o que falta das aldeias indígenas da América do Sul que visitou em 2019, disputando a Copa Sula, nome esquisito para um torneio que da vaga numa decisão  de alguma coisa com o campeão da CONCACAF,  isto é Confederação das Federações Centro-Americanas e do Caribe de Futebol.

Bem feito para quem ganhar a Sula.

 

 

Luiz David

3 Comments

  1. Errou quanto ao Cruzeiro. Caiu feio. E a situação só vai melhorar quando a casa toda for arrumada. Uma arrumação das eficientes e um recomeco dando ênfase à base. Time novo de gente nova.

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