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FINADOS

FINADOS

A reverência à memória dos que já retornaram ao mundo espiritual é comum em todas as civilizações desde os tempos imemoriais. No Brasil, visitar o cemitério faz parte deste ritual, no Pará de Minas não seria diferente. A cidade, em seus mais de 162 anos de história oficial e outros setenta ou oitenta anos anteriores a 1862, já teve três cemitérios: o cemitério paroquial, que ficava na atual Praça Delfim Moreira (praça do Santuário); o “cemitério eclesiástico” na Praça Galba Veloso, no centro da cidade, desativado em 1942 e desaterrado em 1963, que a minha geração conheceu como “Cemitério Velho”; o cemitério Santo Antonio ainda em atividade, -mas superlotado, que foi inaugurado em 31 de agosto de 1942.

A prefeitura tem anunciado para este ano, a entrada em operação do nosso quarto cemitério, ainda sem denominação, a menos de quinhentos metros do atual. Em média nossos cemitérios têm um tempo de operacionalidade de oitenta anos. Assim, o próximo cemitério prestes a ser inaugurado deverá permanecer em atividade até o alvorecer do Século 22. Deste modo, salvo aquelas famílias detentoras de túmulos perpétuos no cemitério Santo Antonio, todos os falecidos em Pará de Minas a partir de janeiro de 2022, serão sepultados na novíssima e moderna necrópole, projetada pelo arquiteto Dimitri Morais, da nobre estirpe dos Morais, lá da Várzea, filho do meu dileto e saudoso amigo Érico “Leco” Morais.

O PADRE AVIADOR

Padre Jesus Vale Mendonça, patafufense da gema, filho do comerciante Afonso Mendonça e dona Luiza e tio dos meus amigos Rômulo, Luizinha, Roberto, Cau e Renato. Isto por que padre Jesus era irmão do Roque e da Lígia, da Dejanira (mãe da Marta Morais atriz) e do Luiz Gonzaga (todos “in memorian”, menos os meninos do Roque, com exceção do Cau, um anjo que passou pela terra e dela se despediu brilhantemente. Pois bem, Padre Jesus ordenou-se sacerdote em 1º de novembro de 1942, portanto há exatos setenta e nove anos. A solenidade de ordenação aconteceu na saudosa, belíssima e já demolida igreja-matriz de Nossa Senhora da Piedade, onde, logo em seguida, padre Jesus celebrou as sua primeira missa. No dia seguinte, Finados de 1942, padre Jesus foi até o novíssimo cemitério da cidade e lá celebrou uma missa, fato que se repetiu pontualmente nos “Finados” seguintes por sessenta anos. Após ordenado, Padre Jesus chegou a trabalhar na paróquia de Nossa Senhora da Piedade por algum tempo. Naquele inicio de década o governo de Getúlio Vargas criou a Força Aérea Brasileira – FAB, que iniciou a convocação de sacerdotes para exercerem a função de capelão. Padre Jesus se habilitou e assim entrou para a Aeronáutica, com o Brasil prestes a enviar tropas para lutar na Europa. Felizmente padre Jesus não chegou a cruzar o Atlântico. Assim, ele sempre pode celebrar o aniversário de sua ordenação sacerdotal em Pará de Minas, com missa na matriz no dia de Todos os Santos e no dia seguinte, Finados, com a missa que se tornou tradição na cidade. Mas, que não aconteceu hoje, a exemplo do ano passado, por motivos causados pela pandemia do COVID 19. Oremos para que a tradição seja restabelecida ano que vem.

Padre Jesus Vale Mendonça faleceu no ano 2010, aos 93 anos. O título desta nota -PADRE AVIADOR, deve ao fato de que em alguns anos, padre Jesus, que não era piloto brevetado, conseguia uma carona em algum aviãozinho da FAB, ou mesmo em alguma aeronave de pequeno porte, propriedade de algum amigo. Mas o povo com sua incrível capacidade de imaginação, logo fazia a ligação: se o padre é capelão logo pilota o avião. E não havia anuncio melhor para Missa de Finados, do que um voo rasante da pequena aeronave sobre a cidade. Na maioria das vezes padre Jesus vinha à cidade por via rodoviária mesmo, em automóvel de seu sobrinho Afonso (Afonso da Lidia do João Correia de Miranda, que também foram pais da Emilinha, que se casou com Joaquim (do Quinquim Mendonça) irmão da Neide, da Maria Almeida, do José Nilton, do Tarcisio dentista…). Mas entrou para nossa história como o “Padre aviador”.

Luiz David

One Comment

  1. Prezado Luiz: Somente a titulo de complementação de suas informações, esclareço que, além dos citados irmãos do Padre Jesus, havia também outra irmã que se chamava Marta, que era Freira, e faleceu num Convento, em Itabira, onde vivia enclausurada. A Mãe da Emília, e do Afonso, se chamava Lídia. A Djanira, além da Marta, teve os filhos Manoel Afonso, Ana Maria, Geraldo (in memorian) e Maria José. O Padre Jesus foi, também, Vigário em Igaratinga e, salvo engano, em São José da Varginha e, como esclarecido, Capelão na Base Aérea do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. O veículo de que o Padre Jesus se servia, em seus deslocamentos ao Pará, era um Corcel 1975, que pertencia a ele mesmo e do qual se orgulhava enormemente e que, após os seus mais de 80 e tantos anos (do Padre), passou a ser dirigido pelo Afonso. Nas últimas vezes que o Padre esteve por aqui o deslocamento foi feito em pequeno avião, que mantinha em sociedade com um militar aviador, companheiro dele no Campo dos Afonsos, e que era por este último pilotado. A Mãe da Emília se chamava Lídia. Em aqui estando o Padre por muitos anos se hospedava na Casa Paroquial e, nas últimas visitas anuais, na casa de meu Pai, o que nos deixava – a mim e ao Ricardo (Cacau) – muito alegres, pois naqueles dias minha Mãe, Lourdes, que era excepcional cozinheira, se esmerava ainda mais nos pratos que preparava para o Padre.

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