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FLAMENGUISTA CHORÃO

PERDER DE 6 PODE; DE 3, NÃO!

Eu odeio placar de 3 x 0 contra o meu time. Tudo começou na infância com o Botafogo vencendo meu Flamengo por este placar na final do Carioca de 1962. Tinha 11 anos. Difícil explicar a um garoto dessa idade, flamenguista desde os oito incompletos, que um time com Nilton Santos, Didi, Garrinha etc. – e bota etc. nisso – era bem melhor e que o placar apenas mostrou sua superioridade.

Fiquei irritado, triste, acabrunhado. Culpei o juiz; e conta-se que foi uma das melhores atuações do mais famoso árbitro deste país em todos os tempos, Armando Marques. Estava em Belo Horizonte, era para voltar a Pará de Minas e adiei minha viagem em uma semana para evitar a turma que ficava aglomerada no Bar do Ary, em que se destacavam, como botafoguenses, o Arizinho, filho dele, e o Querosene, motorista de caminhão, gente fina, que estava sempre por ali. Não ficaria bem para o filho do Henrique da Geralda da Nhanhá (como eram gostosas essas referências) se expor para a turma toda logo após a derrota.

Pois bem. Em 1972, o Flamengo perdeu do Botafogo de 6 x 0 e a decepção não teve a mesma proporção até porque devolvemos o escore e depois ganhamos de 6 x 1, para pagar a dívida com juros e correção. E o Atlético meteu 6 x1 no Mengão lá em Ipatinga não faz muito tempo. Nem fez cócegas e acho até que nem os atleticanos se lembram disso. Mas os 3 x 0 no Brasileirão de 2008 me doeram muito mais, sobretudo por ter interrompido minha alegria de estar em Cabo Frio com todas as suas delícias do lugar. Por sinal, Marcelo Oliveira era o treinador…

Houve outros difíceis 3 a 0 em 74, 75 por aí, que o Americano de Campos impôs ao Flamengo. E aconteceu um fato interessante. Eu trabalhava como caixa no Banco do Brasil em Coromandel e o povo sabia da minha paixão pelo rubro-negro. Naquela época tudo era resolvido no caixa, não havia fila única, o cliente podia escolher o guichê que quisesse. Minha fila ficou imensa com todo mundo preferindo perder seu tempo para me zoar. E foi tanto que o supervisor me tirou do guichê e me colocou para fazer um serviço interno, se bem que eu achasse que no futebol a gente tem de estar disposto a aceitar isso.

Com 6 a 0 até o torcedor vencedor saberá que se trata de algo insólito, inusitado, atípico em partida envolvendo duas equipes parelhas. Põe-se a culpa no juiz, em uma expulsão infantil logo no início do jogo, na ausência de alguns titulares, e por aí vai.

Como em uma estória dos tempos do Kafunga, sem exagero, inclusive porque foi contada pelo próprio. Lá pela metade do século passado, quando o futebol mineiro não tinha a força do eixo Rio-São Paulo, o Galo foi jogar contra o Corínthians na capital paulista e levou uma goleada de 8 x 1.  Alguns torcedores viajaram com a delegação do Atlético e, na volta, um deles se sentou ao lado do Kafunga. E veio contestando cada gol do Corínthians: o primeiro foi de impedimento, no segundo o atacante ajeitou a bola com a mão, no terceiro o ponta cruzou quando a bola tinha saído pela linha de fundo, e por aí foi. Quando chegaram a Belo Horizonte, para o fanático torcedor, o placar correto da partida deveria ter sido… 1 a 1.

Com 3 a o nem isso dá para fazer…

Bem, pelo menos escrevi uma crônica para o blog. Acabaram o tempo regulamentar e os acréscimos e vou agora tomar dez gotas de Rivotril para um sono tranquilo. Talvez sonhando que, na próxima partida após a Copa do Mundo, o Mengão possa detonar o Atlético Paranaense, com dois gols de Fernandinho, grandes defesas de Júlio César e belas jogador de um armador que vamos buscar em qualquer lugar do mundo. E, lembrando o gostoso “causo” do Luiz David, talvez até com um toco de árvore compondo a nossa defesa. Do jeito que está é que não pode ficar…

Obs.: escrevi a crônica e nem falei o nome do time que nos venceu ontem. Pelo menos isso…

Luiz David

2 Comments

  1. O mais difícil nesse jogo foi ter que comemorar os gols do Cruzeiro comedidamente.
    Ótima crônica, querido pai.
    Abraços.

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