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FOOTING

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Houve um tempo que a principal referência de Pará de Minas foi o tradicional “footing”, aquele passear descompromissado, num vai e volta interminável pela rua Direita. O idioma inglês é outro que eu também não domino, por isto fui ao “mestre dos mestres” Dr. Google,  procurar em algum dicionário o significado da palavra, mas saí da página ainda mais confuso.  Qualquer brasileiro sabe que a palavra “foot” no idioma de Bill Shakespeare significa “pé”, graças ao esporte mais popular do mundo, o futebol. Fut + bol = futebol ou seja pé na bola. Nos primórdios da implantação do esporte no Brasil alguns puristas de nossa língua-pátria tentaram emplacar a expressão “ludopédio” que ouvi dizer ser originária do Latim e significa jogo com os pés. Mas a tentativa foi em vão, afinal de contas ludopédio parece nome de remédio e rima com quase nada, fazendo um esforço só lembrei-me de tédio; já futebol não, rima com muitas outras palavras como por exemplo arrebol que nada mais é do que o nascimento do sol nosso astro-rei que também da uma boa rima com o esporte do qual Pelé ainda é o rei. Tudo a ver astro-rei com e rei e astro pois o tricordiano Pelé é aquele que dizem veio de outro planeta para joga bola. Percebendo agora a lógica, vai ver o popular “Negão”  veio do sol, o astro-rei;  por isto ele continua rei e astro. Anda meio derrubado, mas daquela cadeira de rodas joga muito mais do que alguns cabeças de bagre por aí. Falei nisto e lembrei-me: existe algum de futebol de cadeirantes? Sim? Bora então convocar Edson Arantes do Nascimento  para o time; e se pintar uma Copa do Mundo da modalidade a taça do mundo é nossa. Só não vai rolar gol de bicicleta, pois o esporte é jogado sobre cadeiras de rodas, lembram-se?

Está nos alfarrábios que em 1939 num clássico contra o Cruzeiro que naquele tempo se chamava Palestra (Palestra = mimimi, deve ser por isto que os cruzeirenses apreciam tanto certas modinhas), o Atlético Galo perdeu seu maior ídolo, Guará, que bateu de cabeça contra um zagueiro tricolor apelidado Caieira. Viram só? o time era tricolor, com o uniforme nas cores da bandeira italiana, “Heil Duce!” Modinha, da qual se envergonharia m pouco tempo depois, quando tentaram emplacar um nome novo Ypiranga, com psilone mesmo, mas não vingou. No primeiro jogo contra o alvinegro da Colina de Lourdes tomaram uma chinela de cinco e ficaram sem nome por algum tempo. Até que um italiano com banzo da terra natal tendo ido certa noite  cantar o Sole Mio no alto da Serra do Curral percebeu a beleza da constelação do Cruzeiro do Sul e gritou aos seus paisanos “Mama Mia!!! Encontrei o nome para nosso time e já vem com o escudo. E assim foi, ou melhor, assim ainda é.

Mas eu falava de clássico de 1939 quando o grande Guará trombou no ar, de cabeça, com Caieira, que não tinha este apelido atoa. Alguém conhece uma caieira? Pois então, acho que no futebol brasileiro atualmente só existe um “player” que merece este codinome: aquele Felipe, hoje no Palmeiras (olhaí, outro ex-Palestra, vixe!). O fato é que depois do choque que fez tremer o estadinho da Colina (olha que fofo o nome do estádio alvi-negro) Guará nunca mais jogou futebol e acabou virando nome de troféu que a rádio da família  Carneiro, a gloriosa Itatiaia, entrega aos melhores doa no ano esporte desde os tempos do Januário, o fundador da emissora no longínquo ano de 1952. Para quem não sabe a dezena 52 é uma das quatro do grupo do Galo, no jogo do bicho: são elas 49 -50 -51 – 52. Grupo 13.  Deve ser por isto que os antigos palestrinos/cruzeirenses vivem a dizer que a emissora do Emanuel Carneiro só tem atleticano, apesar de eu acreditar que o próprio Emanuel seja torcedor do Leão, também chamado de Vila Nova. E o bicho leão na loteria criada pelo Barão de Drummond é o número 16, dezenas 61 – 62 – 63 – e 64. Deu para entender? Voltemos então futebol. Guará maior ídolo do Atlético trombou de cabeça com Caieira e nunca mais jogou futebol ao nível de competição.  Então a diretoria do CAM saiu em busca de um sucessor à altura da responsabilidade que camisa número nove da equipe exige de quem a enverga. E chegaram até um pretinho sestroso, centro-avante de outro Atlético, o de Trés Corações. Era Dondinho, cobiçado por muitos times do estado de São Paulo, pois o intercâmbio entre aquela cidade sul-mineira e o interior paulista era intenso. Todos queriam Dondinho. Mas a diretoria do Galo foi mais esperta e enviou logo um dinheirinho para que ele embarcasse no primeiro trem rumo à capital das Alterosas. E assim foi. Ou melhor, assim ele veio. Chegou, treinou, agradou geral e ficou morando nas confortáveis instalações localizadas abaixo das arquibancada do estádio; um sonho de qualquer jogador naquele tempo, morar ali, vivendo ao lado das lendas Kafunga, Florindo e Quim, Zezé Procópio, Lola, Bala, Paulista, Alfredo, Nicola e Rezende. E Dondinho chegou lá. Foi aos correios e mandou   um telegrama para a esposa Celeste: “Vim, Vi e Venci”; mas com outras palavras obviamente, pois moço simples do interior nunca tinha lido o livro “De Bellum Gallico”, do general Júlio César, sendo que o título da obra não se referia ao clube, que nem tinha ainda o apelido de Galo, ou Galão da Massa. O livro narra a guerra dos gauleses (da Gália, hoje França) contra o romanos -romanos mesmo, não a Lázio nem a Roma time onde brilhou Toninho Cerezzo. O fato é que a camisa da seleção francesa tem um Galo no escudo, oque não tem nada a ver com o que eu tinha dizendo, mas eu viajei na maionese.

Então foi assim, Dondinho veio, treinou, agradou geral, mas no seu quinto jogo sofreu uma séria contusão que iria afastá-lo dos gramados por longo tempo; e ele foi dispensado. No erro mais escandaloso de qualquer diretoria do Atlético em todos os tempos, a favor dos diretores só fato que eles não eram adivinhos, eram só apaixonados pelo time. Dondinho passou na sede do clube recebeu o que tinha direito, pegou o bonde Lourdes/Floresta desceu na Praça da Estação e embarcou no trem da RMV (olha ela aí ) de volta à sua cidade. Estava emputecido e triste meio a meio. Depois de vinte horas de viagem ficou também cansado, mas chegou em casa tomou um banho e chamou a esposa Celeste  para a cama: -meu bem venha cá, estou muito bravo e triste, mas agora nós vamos deitar e fazer o maior jogador de futebol de todos os tempos. Nenhum outro será melhor do que ele, nem antes nem depois dele. A história do futebol será dividida em antes e depois do filho que vamos gerar agora. E assim foi. Em 23 de outubro de 1940 nasceu Pelé, que se chamou Edson Arantes do Nascimento.

E assim amigos meus, com mais de trezentas excedentes encerro esta crônica, e o tema “Footing” que me trouxe até aqui fica para a próxima semana.

Fui.

Luiz David

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