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INVERNO

INVERNO
O inverno de 2019 começou no final da noite de ontem e as moças do Tempo foram unânimes em afirmar que neste ano ele não será tão rigoroso como em anos anteriores. Motivo: as frentes frias e massas de ar polar que vêm da Argentina estão fracas demais para se deslocarem desde a Patagônia rumo ao Brasil, e alcançarão Porto Alegre já quase em forma de brisa; fria é verdade , mas sempre uma brisa.
Meu amigo e conterrâneo Assis Mendonça, que vive na Alemanha, na cidade de Aachen, escreveu certa vez que a pessoa que diz gostar de frio está mentindo, pois ninguém em sã consciência pode gostar de uma coisa assim. Talvez suporte temperaturas mais baixas, mas dizer que “ama o frio” para mim não é mentira é hipocrisia mesmo.

Então eu estou sossegado no busão da TURI, linha Matinha / Recanto e uma jovem mocréia no banco ao lado diz à amiga : – a -dóóó-ro o frio; a estação mais linda do ano. É a época quando as pessoas se vestem bem, se alimentam melhor,as baladas são mais animadas. Eu reparo a tagarela e vejo que está calçando sandálias do verão de 2014, veste calças jeans com dois rombos, um em cada joelho e usa uma blusinha de listas multicoloridas que não chega ao umbigo, coberta por uma jaqueta verde como a esperança e do mesmo tamanho da blusa.Ela prossegue falando de caldos mil, caldo disto e caldo daquilo, comenta sobre o forró do Pará que o prefeito garantiu que será realizado sim, no lugar de sempre, isto é na Praça Torquato. Incomoda-me também a madame deslumbrada que vi na tevê,, nova rica, usando peles sobre os ombros, mesmo que sejam peles de origem duvidosa, dizer que ama o frio.Ela, a perua, não sabe, mas hoje em dia as mulheres realmente chiques, não mais usam peles; nem a mulher do Ronald Trump está tirando as dela do closet dotado de ar condicionado. Os fiscais do Greenpeace estão de olho nessas exibicionistas.

Bem, o inverno chegou e será fraco, talvez mais fraco do que a seleção do país de origem, que este timeco da Argentina está feito a baba de cachorro morto: um horror. Eu olho novamente a mocréinha e penso no meu passado, quando adolescente, há trezentos anos; se saisse de casa assim de roupas rasgadas, minha mãe costumava aplicar em mim aqueles beliscões saudosos, que me ensinaram a vestir modestamente, mas limpo e arrumado. Se uma calça se rasgasse a ordem era falar logo com ela que a cerziria imediatamente. Os filhos de dona Zinha podiam usar roupas cerzidas, mas estavam sempre limpos e arrumadinhos.

E tinha o comercial das Casas Pernambucanas, lançado em 1962, que eu ofereço de brinde a quem se deu á pachorra de ler esta crônica. Quando ele começava a ser tocado nas rádios era sinal que a friagem começaria em breve. E aqui em Paris de Minas fazia frio de verdade. O sereno caía e virava bolinhas de gelo no chão.Em toda a extensão do Paciência, o nosso riozinho querido, uma neblina forte se formava e só se esvaía lá pelas oito horas. Á noite o meninos usavam japonas, quem usou vai se lembrar o que eram; as meninas se protegiam com “mantôs”. Ninguém saia de chinelos ou sandálias, mas calçavam os sapatos comprados no Natal. Por falar em calçados, a menina da linha Matinha / Recanto informou ao público presente no “bus”, que tinha comprado um lindo par de botas lá no “Serjão”, para pagar em seis vezes no cartão. ” Custou oitocentos paus” disse ela, completando: -estreei na noite dos namorados, quando fui ao motel com o Ronicley celebrar nosso primeiro mês de namoro e a primeira vez que “ficamos”.
No meu tempo, a moçoila que “ficasse” com o namorado antes de se casar, saia do motel direto para a igreja, ou para o cartório. Se bem que algumas que gostaram demais da “ficança” iam direto para uma daquelas casas com luz vermelha na porta.
Então, cumpramos a tabela da natureza, que venha o inverno. Que no Brasil de 2019 estará mais para tenente,do que para um general daqueles russos, que derrotaram Napoleão. (LUIZ VIANA DAVID)

Luiz David

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