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MAESTRO FERNANDO SOUSA LIMA (Ou simplesmente Fernando do Saps)

MAESTRO FERNANDO SOUSA LIMA (OU SIMPLESMENTE FERNANDO DO SAPS)

É verdade que Pará de Minas alcançou nas últimas décadas um nível extraordinário de desenvolvimento, mas, justiça seja feita, muito desse progresso é devido aos milhares de pessoas provenientes de outras, muitas vezes longínquas, paragens. É verdade também que muitas “tranqueiras” vieram juntas com as pessoas de bem. Mas o que se há de fazer, se a humanidade não é feita de anjos apenas? Eu tenho assunto para as oito páginas deste DIÁRIO, por várias edições seguidas, se quisesse escrever apenas sobre aqueles gigantes da indústria e do comércio, assim também como dos profissionais liberais,clérigos, professores, ou simples operários, da cidade e do campo, que em conjunto, ao longo de décadas, propulsionaram o desenvolvimento patafufense. Das tranqueiras, melhor não dizer nem escrever nada. A má conduta de todos eles ou foram apagadas pela ação da poeira dos tempos, ou foram registradas nos anais policiais. Neste caso é melhor que fiquem onde estão, que setembro é mês de festas em Pará de Minas e é melhor falar de gente boa, de pessoas que deixaram um legado de suas presenças entre nós.

Prefiro escrever sobre Fernando de Sousa Lima, um homem simples, natural de Itabirito, entre nós conhecido como “Fernando do SAPS”, uma referência ao órgão federal em que trabalhava. O SAPS, que depois virou CONAB, era o órgão que regulamentava a comercialização de alimentos, principalmente cereais, no Brasil dos anos 1950 a 1990.
Fernando Sousa Lima chegou ao Pará de Minas em meados da década de 1960 e viveu entre nós por umas três décadas, até que retornou à sua Itabirito, onde faleceu e está enterrado. Filho de terra tradicionalmente musical, onde existem há séculos várias bandas e corporações musicais, Fernando se tornou um músico talentoso. Em Pará de Minas encontrou terra fértil. Logo estava integrado à nossa Lira Santa Cecília,onde tocava todos os instrumentos de sopro, mas seu talento resplandecia ainda mais quando esse instrumento era o pistom. Com a excelente formação musical que adquiriu em sua terra, não demorou para assumir o curso de formação de novos músicos para a Lira. Muitos dos nossos grandes artistas que ainda estão aí, aprenderam os primeiros acordes, as primeiras pautas, com Fernando SAPS. Lembro-me bem dele, com sua escola de música que funcionava no antigo, lindo e já demolido prédio da prefeitura, na Praça Afonso Pena. A escola funcionava na sala da antiga Câmara Municipal, que funcionava no mesmo endereço, nas noites em que os vereadores não tinham reunião. Eu mesmo cheguei a frequentar a escola do Mestre Fernando, se não aprendi muito a culpa foi minha, pelo menos ganhei um grande amigo. Fernando era um sujeito festeiro, alegre e de bem com a vida. Não raro levava o pistom, ou outro instrumento, para o bar onde os amigos se reuniam para beber cerveja. Nessas ocasiões costumava se formar um dupla fantástica: Fernando soprando o pistom e ao violão o também saudoso sô José Sebastião de Almeida, o sô Zé do IBGE. Se o ex-zagueiro Barrão, nesta época já na condição de mito, aparecesse para cantar, o show estava garantido. Que saudades desse tempo, viu!

Não demorou muito para Fernando Sousa Lima se entrosar com um grupo de rapazes pará-minenses, interessados por música: Ivanzinho Leitão, Chiquinho do sô Chico Silva, Wayne Franco, Dalvan Morais, Vilfredo Pontes, Genaldo Martins, José Maria Arruda (BatSamba) e Gregório irmão dele, entre outros. Desse entrosamento do maestro Fernando com jovens músicos locais, nasceram algumas bandas de rock’n roll, a mais famosa e duradoura aquela que no começo se chamou “Os Mísseis Na Rota 70” e mais tarde simplesmente “Os Mísseis”, cujos integrantes ainda se encontram anualmente para tocarem em um baile bem nostálgico, quando os casais mergulham fundo nas águas daquele maravilhoso rock dos anos sessenta e setenta. E obviamente no pop internacional da época. Sim, tocam Fellings até hoje, para um encoxamento geral no salão.
No começo dessas apresentações anuais, Fernando Sousa Lima costumava comparecer, mas já não era o mesmo. Os pulmões já não acumulavam o ar como antes, e o diafragma estava um tanto quanto cansado. Mas ele vinha assim mesmo.

Como não lembrar da Banda de Música, nos tempos de Fernando como maestro, abrilhantando os eventos oficiais e nem tanto, em Pará de Minas. O músico garbosamente uniformizados: camisas azuis, gravatas, calças e sapatos pretos. Fernando desfilando à frente da corporação, tendo ao lado dele, como se pisasse em nuvens, o maestro honorário Zé da Varge, com aquele inesquecível sorriso banguela estampado no rosto, arrancando aplausos da multidão. E o Zé, fazendo gestos com as mãos, como se transferisse os aplausos para o maestro e para os músicos. “Como era verde o meu vale”

Outro dia fiquei sabendo pelo Ivanzinho Leitão, que a nossa Câmara Municipal decidiu homenagear o músico e maestro Fernando Sousa Lima, dando o nome dele a uma das ruas da cidade. Finalmente as autoridades constituídas reconhecem o legado do maestro. O que eu tenho a dizer é que a homenagem é tão justa que a demora para que acontecesse não se justifica. Mas, antes tarde do que nunca.
Parabéns aos vereadores envolvidos.
Que venha a “Rua Maestro Fernando Sousa Lima”.

Luiz David

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