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NOMES ANTIGOS, BOAS LEMBRANÇAS

NOMES ANTIGOS, BOAS LEMBRANÇAS

Estive sempre incomodado com a facilidade encontrada em Pará de Minas de se mudar nomes de lugares e ruas. Eu cresci e fiquei adulto conhecendo por “Porteira do Campo” aquela região que fica atrás da igreja de Nossa Senhora das Graças. Tudo o que ficava acima da Praça Rio Branco era “Porteira do Campo”. Em tempos mais remotos, na infância de nossa cidade, existia uma porteira nas imediações de onde hoje se localiza aquele grande cruzeiro de madeira, local de peregrinação dos católicos, que costumam ir ali para suas orações. Tudo o que ficava além da porteira, bairros Belvedere, Independência, Vila Nossa Senhora Aparecida, era parte do latifúndio da família Melo Franco. Mas o nome “Porteira do Campo” continuou prevalecendo por muitos anos ainda. Não é raro encontrar alguém que ainda se refira a região como tal. Mas poucas pessoas com menos de sessenta anos sabem disto.

E o atual bairro Dom Bosco? A região desde que começou o seu povoamento se chamou “Zambeque” ou Azambeque, sem que ninguém até o momento tenha sabido explicar a origem do nome. A atual designação “Dom Bosco” foi uma espécie de homenagem ao fundador da Ordem Salesiana: São João Bosco. Nos limites da cidade, ao sul, existe desde a segunda metade da década de 1940 uma gigantesca casa salesiana, cujo objetivo é educar e profissionalizar jovens pará-minenses. O enorme prédio foi construído pelo nosso conterrâneo Benjamim Ferreira Guimarães, um grande filantropo, talvez a pessoa que mais ajudou Pará de Minas, com dinheiro do próprio bolso, diga-se de passagem. Voltarei a falar sobre este cidadão brevemente. No momento estou envolvido com a leitura da biografia dele.
Mas o nome Zambeque segue vivo na mente de boa parcela da população. Já ouvi dizer que ali foi em tempos remotos uma fazenda de propriedade de um cidadão provavelmente de nacionalidade alemã, que teria retornado à pátria pouco antes de se iniciar a “Primeira Grande Guerra” em 1914. Mas já ouvi também a versão que na região havia uma bodega frequentada por negros ex-escravizados, onde se dançava e cantava um ritmo musical de origem africana, uma espécie de rumba, de nome “Yazambeque”. Pode ser que sim. Ou não. O fato é que o lugar perdeu um nome sonoro e vibrante, que parece irradiar boas energias.

Da mesma forma a região conhecida por “Várzea da Posse”, ao norte da cidade, virou bairro São Geraldo. V Á R Z E A da P O S S E, em vez de pesquisarem a origem do nome e preservá-lo, os vereadores da época acataram a sugestão de homenagear outro santo. Nada tenho contra São Geraldo, sou até devoto dele. Mas de santo em santo a cidade vai perdendo sua memória. A Serra de Santa Cruz é chamada nos dias de hoje de “Serra do Cristo” e o monumento ao Cristo Redentor no topo da serra substituiu a antiga cruz que houve lá um dia. A região onde se localiza o Clube Praça de Esportes do Pará se chamava “Várzea da Cruz”: tudo a ver com cruz mencionada no parágrafo anterior. Um morador ilustre da “Várzea da Cruz”, que lá nasceu e viveu até a adolescência, foi José Alves de Oliveira, o “Patesko”, talvez o melhor ponta-direita do Paraense E.C. e gerente durante décadas, do Banco Mineiro da Produção, depois BEMGE. Patesko faleceu em 2013, aos 91 anos, mas sempre se referiu àquele pedaço da cidade como Várzea da Cruz.

O território que vai da Ponte Grande até a COPARÁ se chamou “Arraial Novo” desde o final dos anos 1930. Podia ter sido chamado de ‘Cidade Nova”, mas modesto, o povo daquele tempo preferiu demonstrar humildade e Arraial Novo ficou sendo, até que surgiram os bairros Raquel, Dona Tunica e Senador Valadares; agora, aquele longo trecho cortado pela avenida Presidente Vargas atende por qualquer nome e por nenhum: uns chamam de Vila Raquel; outros de Dona Tunica, mais prá frente vira Senador Valadares. Só os bem erados chamam ali de Arraial Novo, para escândalo das novas gerações.

O bairro São Francisco foi implantado em riba de onde se chamava “Capoeira do Meio. O lugar onde se localiza a indústria FRANCAP era conhecido por “Cana do Reino”, mais acima, o Bairro João Paulo II era chamado de “Maniçoba”, onde moça direita não ia de jeito maneira, depois eu conto por que. O bairro de Fátima era chamado de “Pasto do Lito”, apelido de Júlio de Melo, proprietário do terreno. A Coopertêxtil ficava no lugar chamado Sítio.
Tabatinga, o mais antigo bairro da cidade, virou “Coração de Jesus”; mas o povo insiste em usar o nome original.
O antigo “Serro” se transformou em bairro Santo Antonio.
O bairro São Cristóvão já nasceu com essa nomenclatura, mas o povo se referia a ele como “Pecuária”, nome da velha fazenda do senhor Elias José de Oliveira. A fazenda, era tão grande, que hoje abriga também os bairros Redentor e Jardim América.
Há quem se refira ao Residencial “Dona Flor” como “Água Espraiada”, aliás, ali foi o lugar da primeira captação de água para abastecer a cidade, h´mais de cem anos.

Luiz David

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