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O GOLPE

O GOLPE

Ditaduras são todas iguais, não precisa ser uma ditadura militar para que ela seja cruel. Getúlio Vargas, era civil, advogado de profissão, homem de fino trato, galante com as mulheres e elegante como político, foi um ditador virulento entre 1937 e 1945, no período da história do Brasil que ficou conhecido como “Estado Novo”. Os torturadores da “ditabranda” como foi chamado pela Folha de S.Paulo o regime militar de 1964, aprenderam muito nos anos de chumbo getulistas. Aliás, o chefe dos torturadores estadonovistas, Filinto Muller, foi, durante o regime militar um dos principais líderes políticos, senador importante, até que a morte o levou naquele acidente aéreo em Paris, quando também morreu Leila Diniz, a musa da Banda de Ipanema e das esquerdas brasileiras. Saída de cena espetacular para uma mulher esfuziante, embora com a involuntária e péssima companhia.
Vargas ficou quinze anos no Poder; os militares ficaram vinte e um anos, só que, envergonhados, inventaram um rodizio no cargo de ditador, com cinco generais exercendo a função entre 1964 e 1985.
As ditaduras se consolidam porque o grosso da população se acomoda á nova situação. Esta é uma fase perigosa, quando pessoas inofensivas se transformam em olhos e ouvidos das forças de segurança, denunciando parentes de quem não gostam, vizinhos cujo cachorro fez xixi na sua porta, disto para a denúncia política é um piscar. Ninguém está livre de uma denúncia vazia de um parente, ou de vizinhos ás vezes movidos pela inveja.
Como na vida tudo passa, as ditaduras também não são eternas, então aqueles adesistas dedos-duros, que geralmente têm um faro inexplicável para sentir as mudanças, começam a limpar os rastros de suas trairagens. Não sabem o que virá pela frente e tratam de se precaver de possíveis retaliações de suas vítimas.
Quando enfim cai a ditadura e os clarins anunciam o alvorecer de novos tempos, quem está na linha de frente, na fila do gargarejo, saudando efusivamente os novos pais da pátria? Eles, os algozes gratuitos de irmãos e amigos,Os que passaram anos comendo satisfeitos as migalhas que caiam da mesa dos poderosos atrabiliários, como se fossem comensais com lugar marcado nos festins opíparos dos geralmente sanguinários detentores eventuais dos poderes da república.
Mas esses canalhas, descendentes diretos de Caim e de Joaquim Silvério dos Reis, aparentados de cabo Anselmo, não vieram ao mundo para perder. É questão de tempo para conseguirem atestados de democrata de primeira hora; de baluarte da liberdade e dos direitos civis, de vítima do regime anterior. Muitos conseguem até reparação financeira pela perseguição que não sofreram. Outros, com trabalho de marketing mais eficiente, se transformam de repente em heróis da nacionalidade. Alguns até escrevem suas memórias da ditadura, peças da mais pura ficção.
Foi o que aconteceu no período pós ditadura militar, com o advento da chamada “Nova República”, invenção de Tancredo Neves e de Ulisses Guimarães; no pós Vargas em 1945. Como já tinha acontecido quando Vargas enterrou a República Velha em 1930.
Santo padroeiro dessa estirpe, aí está o imortal José Sarney, um dos generais sem farda da ditadura militar, que na transição para a democracia se viu alçado à chefia da Nação, por um arranjo do destino. Sarney, não entrará para a história como lider do braço político do golpe militar, serviçal da ditadura, mas sim como o homem que fez a transição democrática.
Cada município deste país deve ter, e certamente têm, um sanguessuga da estirpe sarneysista, parasitas da pátria, oportunistas de todas as horas, que mudam de bandeira como um camaleão muda de cor, ao sabor das oportunidades que se apresentam. Absolutamente descompromissados com os valores que dizem defender.
Estamos os brasileiros no limiar de um golpe contra as instituições democráticas. Golpe feito ás claras, anunciado nos jornais e canais de televisão e nas outras midias. Um golpe que chamam de “branco” porque pelo visto não tem a participação efetiva de militares da ativa, com os quartéis fazendo um silêncio que ensurdece o país. O governo da presidente Dilma não se defende, tal como João Goulart não se defendeu em 1964.
Dilma cairá. Depois dela cairão os governadores de seu partido, na sequência virão aqueles que se posicionarem a favor da legalidade, inclusive prefeitos. No começo será uma ditadura ao estilo dos primeiros anos de Getúlio Vargas, quem sabe até com a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, viciada como a de 34, com o fim específico de dar cheiro de legalidade ao golpe branco, inodoro e incolor. O golpe de Cunha, de Renan, de Gilmar, de Moro, da CGU, do TSE, da AGU, do MPF, do STF, do Congresso, do ensandecido e inconformado Aécio, que não aceitou a derrota que lhe foi imposta nas urnas em 2014.
Mas um dia, que espero venha brevemente, tão certo como o sol nascerá nos próximos dois bilhões de anos, esta nova ditadura “mezzo a mezzo”, meio salazarista, meio getulista, também terá o seu fim. Espero viver o bastante para ver o sol da legalidade raiar novamente no horizonte do Brasil.
Por enquanto recomendo a vigilância de todos sobre aqueles que apoiam e incentivam a queda de nossas instituições. Para que no futuro não venham posar de paladinos da liberdade.
Quanto a mim, à moda do grande mineiro Arthur Bernardes, quero dizer que prefiro cerrar fileiras com aqueles que defendem a legalidade, porque são os que detêm a alma cívica da Nação. (LUIZ VIANA DAVID)

Luiz David

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