1

O QUARTO PODER E A ZONA DE CONFORTO DO ELEITOR

O Quarto Poder e a zona de conforto do leitor

(Ana Luiza Faria)*

 

Um dos livros mais interessantes da faculdade foi o “Jornalismo: Quarto Poder”, que mostra claramente a importância do tratamento do fato de forma ética e responsável. Ao ler o artigo “O santo da liberdade”, do doutor em Comunicação Carlos Alberto Di Franco (publicado no Estado de Minas de 23 de junho de 2014), certifiquei-me de que não sou a única que está preocupada com o nível das notícias veiculadas nos últimos anos.

Estamos vivendo a “era da desinformação”, quando as pessoas recebem alto índice de informação, não conseguem processá-las e caem na velha armadilha da superficialidade ou da ignorância, mas acho essa palavra muito agressiva. Eu estudei os três primeiros anos da faculdade usando máquina de escrever e fazendo pesquisas em livros. Os tempos eram outros. As informações eram checadas e um erro causava mal-estar, insônia e muita tristeza ao jornalista. Hoje em dia os erros são tão comuns que nem merecem erratas mais. Tristes tempos.

Um dos maiores campos para a desinformação é o Facebook. É uma maravilhosa ferramenta de comunicação e aproximação entre pessoas, mas a troca de opinião e a informação verdadeira não estão naquele ambiente. Como tenho síndrome de Polyanna (a contente) posto apenas Dicas de Português e mensagens positivas, pois usar o espaço como “muro de lamentações” e “indiretas” não me agrada. Temos que ter muito cuidado com a armadilha da superficialidade nas mídias digitais.

Como bom exemplo, cito o questionado programa Bolsa-Família. Tive a maravilhosa oportunidade de trabalhar em projetos sociais nas três esferas do executivo (municipal, estadual e federal) e, com isso, conhecer o Norte de Minas e a periferia da RMBH. Nunca imaginei que esse programa seria tão vital às famílias “miseráveis” (esse termo também é forte). Não se trata de discurso, é realidade. O programa dá voto porque salvou muitas famílias. Em tese, elas recebem os recursos para tirar as crianças do trabalho e colocar na escola.

Vi a crítica do governador Aécio Neves encher o Facebook de compartilhamentos. Contraditoriamente, li uma notícia, de pé de página, claro, em que ele, agora senador, defendia o programa como uma das bandeiras da sua candidatura à presidência do Brasil. “A Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou no dia 28 de maio o projeto do pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), que altera regra do Bolsa-Família, uma das principais bandeiras eleitorais da gestão petista. Com o projeto de Aécio, o Bolsa-Família torna-se programa de Estado e não mais de governo. A proposta mantém o pagamento do programa por seis meses para chefes de família que ultrapassarem a faixa de renda limite para ser beneficiário. O texto segue para análise da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). O argumento é que o cidadão precisa garantir a estabilidade financeira antes de ser desligado. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), apresentou relatório em separado contrário ao projeto.”

Se eu estiver errada, corrijam-me, por favor. Precisamos elevar o nível de informação no ambiente virtual. O programa partiu da doutora em antropologia e ex-primeira-dama Ruth Cardoso (1930-2008), do PSDB. O PT apenas tirou a boa ideia da gaveta e colocou em prática, afinal, papel não mata fome.

Há muita confusão nesse cenário eleitoral e pouca informação ao eleitor. Precisaremos nos preocupar muito com os votos no Legislativo (Segundo Poder), pois se vereadores, deputados e senadores quiserem, o Executivo (Primeiro Poder) tem que andar na linha; se tiverem apoio do Judiciário (Terceiro Poder) a engrenagem funcionará ainda melhor.

O problema é que o erro começa bem antes da urna, da votação em si, lá nas campanhas, no processo eleitoral. E se as informações fossem claras e precisas o Jornalismo (Quarto Poder) faria seu papel de utilidade pública com louvor.

Vamos ao processo. Se estiver errada, corrijam-me, por favor. Os empresários financiam as campanhas. Os especialistas em Marketing Político traçam estratégias com foco nas carências dos eleitores. Ao serem eleitos, deputados e senadores são “convidados” a retribuir favores aos padrinhos das campanhas.

Aí começa a confusão: gabinetes são inchados de cabides de emprego, licenças, concessões e projetos das empresas são aprovados “por baixo dos panos”, esquemas de desvios são armados. Já perceberam que em todos escândalos há grandes empresas envolvidas? Por que isso não acaba? Por vários motivos, entre eles, há dois de destaque:

*Honestidade para as “pessoas comuns”, que fazem os esquemas acontecerem: Além dos políticos e empresários, pessoas comuns se envolvem no esquema para ganhar “um trocado”. Nenhum desvio de verba acontece sem o envolvimento de pessoas comuns (técnicos, assistentes, assessores), os agentes que facilitam o esquema. Vamos lembrar da secretária do Marcos Valério. E, também, que todos da SMP&B estão pagando pelos erros e os políticos cada vez mais próximos da absolvição, sobretudo com a saída do Ministro Joaquim Barbosa do “processo”. Muitos dos parlamentares envolvidos sequer passaram pelas penitenciárias, estão por aí dando continuidade às mesmas práticas de sempre.

*Desvios: tudo no ambiente político fica mais fácil e lamentável. Nos últimos tempos tive duas notícias de bastidores que me causaram enjoos. Com os desvios do Bolsa-família estão sendo beneficiadas pessoas de classes sociais privilegiadas que recebem a bolsa que seria destinada a quem passa fome. Outra notícia é a de que políticos de diferentes partidos pagaram aos mascarados R$ 100,00 pela quebra de lojas e R$ 200,00 por bancos. O rapaz que foi preso em Belo Horizonte confirmou essa informação, mas nenhum editor deu sequência à apuração e à divulgação desse triste fato. É o fim dos tempos mesmo!

*Votação e cumprimento do projeto (PLS 268/2011),  que regulamenta o financiamento das campanhas: O financiamento público de campanhas eleitorais é uma proposta que surgiu a partir dos inúmeros casos de relacionamentos inescrupulosos entre partidos políticos brasileiros e empresas privadas de diversos setores que, supostamente, apoiariam financeiramente candidaturas com o objetivo único de garantir, no futuro, participação na administração pública  por meio de favorecimentos.

*A imprensa diária fazer uma cobertura isenta: É utopia pensar nessa possibilidade, pois as mesmas empresas patrocinam os veículos de comunicação, porém, não custa sonhar com a tão discutida imparcialidade no jornalismo.

Precisaremos refletir muito sobre isso antes de votar no candidato primo do amigo do cara do boteco da esquina. Existem alguns sites para nos auxiliar nessa pesquisa, como o www.tse.jus.br. Achei confuso o processo de busca, ainda prefiro conversar com as pessoas mais experientes, que se lembram das histórias, afinal, os políticos complicados sempre voltam. Prova disso foi o retorno do ex-presidente Collor, da família Sarney, da família ACM e do ex-governador Newton Cardoso, dessa vez, junto ao seu maior desafeto no passado. É uma bagunça mesmo!

Necessitamos, mais ainda, ter orgulho de ter nascido nesse imenso território de clima ameno, riqueza natural e solo fértil. Se tivermos consciência disso, nossos atos serão condizentes com os habitantes do “Primeiro Mundo” e ajudaremos essa nação a se consolidar com o destaque que merece!

Se não mudarmos nossa forma de informar sobre os acontecimentos e aprender a protestar no momento certo, antes dos projetos e contratos serem firmados e de apertar a tecla verde da urna eleitoral (CONFIRMA), continuaremos a ser meros espectadores de um medíocre, porém, convivente teatro.

Termino com uma bela mensagem de Chico Xavier (já disse que sou Polyanna mesmo): “Devemos orar pelos políticos, pelos administradores da vida pública. A tentação do poder é muito grande. Eu não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. A omissão de quem pode e não auxilia o povo é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade inteira. Tenho visto muitos espíritos dos que foram homens públicos na Terra em lastimável situação na Vida Espiritual.”

*Ana Luiza Faria é jornalista, vive e trabalha em Belo Horizonte. É filha e neta de pará-minenses.

Luiz David

One Comment

  1. Bastante exclarecedor este artigo no que se refere ao papel a ser exercido pela imprensa no que se refere a informação a ser dada à população.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.