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OS VÉI NA PRAÇA

OS VÉI NA PRAÇA

Ô cumpade Zeantonho, cheguei a crê qui ocê num ia da as cara aqui na praça hoje, uai. Ocê atrasô, sô!

Poisé cumpáde, a muié cordô hoje cumas ingrisia nas perna, um furmigamento, qui diveisinquano turmenta ela, intão ieu tive de i prá cuzinha mode fazê o café e dispois pircisei i na padaria comprá umas quitanda, cê sabe cumé né cumpádi, essas coisas qui as muié fais brincano mas nóis num dá valô. Agora quiá minha fia casada cum o Tõe Carapina chegô prá cuidá da véia ieu purvetei pá cascá fora. Tôqui cumpáde, assucedeu arguma coisa donte prá hoje quieu num tô sabeno?

Nada cumpáde, nadica de nada. No Pará de Mina de veiz em quano fica essa paradeza, esse mormaço, cum os fato se recusano a acuntecê. Aqui chama Pará num é atôa não, cumpáde, tudo paradin paradin.

Poisantão, nóis vai pruseá ou jugá, pois sifô jugá num vai dá; saí cum pressa dicas e isquicí o barái pratráis.

Intão nóis prusêia  sô. Dexemo o truco prá ditarde, istué, sinun chuvê. Poisu tempo tá anssim, sol briando no céu direpente cai uma mangadágua qui imunda tudin, poisus buêro tá tudo intupidu. O povo num colabora e o prefeito di pirraça asvêis num manda limpá, daí a imundiça, né memo?

É memo cumpáde. Óia aindonte fui no cimitéro ajudá a interrá o falicido Joca do Asdrúba, num gostei duquivi no cimtério não, cumpáde, cênun adivê qui o nosso belo cimitéro táqui num cabi mais ninhun difunto morto. Os covêro agora tá furano as cova inriba das ruinha puronde passa o povu qui vai interrá osente quirido. Tá viranu túmbalo cumpáde; daqui unsdia pro sardoso quifô visitá um túmbalo , vaitê qui vuá, ô sartá quiném aquele Juão do Pulo sartava. Lembra dele cumpádi, du Juão do Pulo, um negão cumpridão anssim ó, quiganhô até medáia nas olimpida purconta dos pulão quidava.

ô cumpádi, ocê disviô o assunto, nóis vai falá du cimitéro intupido de difunto ô vai falá do negão puladô. É mió nóis ficá no cimitéro, quié pronde nóis tudo vai um dia, né memo?

É memo cumpade. Hoje o cimitéro é um pobrema qui o sinhô prefeito tá correnu dele, iguar o o demonho corre da cruiz. Arcaide ninhum qué fazê cimitéro, eis pensa quidá azá. Num dánão cumpade. Agora concidênça exeste, né cumpade? Ocê alembra do Chiquin Valadares, quano nóis era minino e o cimitéro véio abarrotô de difunto?Poisantão o Chiquin quiria interrá os morto tudo inpé, prá mode sobrá ispaço. Cova qui cabia um, tinha lugá prá quatro, cê alembra? For pirciso do irmão do Chiquin, o dotô Binidito quiera o governadô de Mina, saí lá de Belzonte e vin aqui mandá o mano fazê logo o cimitéro novo, pois era um bisurdu o Pará numtê um lugá ampro e arejado prá mode interrá os falecente.

Ieu alembro cumpade, ieu alembro tudin. Poisintão o Chiquin feiz o cimitéro novo  e o primêro freguêis a inargurá cahmadu campo santo foi a sinhora mãe dele, a dona Tunica. O povu ficô falano quifoi castigo, pois o cimitéro novo ficô longe dismais, lá nas grimpa dos pasto do coroné Zezé.  Maisera longe memo… E o morrão quitinha de subí carreganu aquele caxão pesadu. Num tinha aquele luxo  de carrinho não, era no muque memo. Masinfin o corpo da véia Tunica  chegô na sua úrtima morada, italá inté hoje. Aquela cova da mãe do dotô Binidito ficô famosa pô sê  o marco zeru do cimitéro du Pará, quivirô esse monstro di grandeza.

Ieu lembro, cumpade, ieu lembro. Mais diuma coisa bôa ieu lembro tamém. A iscola num teve aula naquele dia e na vorta do interro nóis fumo nadá la na lagoa do coroné Zezé do Julinho, pruveitano qui tava todo mundo choroso e distraído cum a passagem da véia, quiDeus a tenha.

Ô tempo bão cumpade, ô tempo bão, nóis tinha oito prá nove ano ano e tudo prá nóis era festa. Até interro.

Poisé cumpade, poisé. Armocemo?

Uai sô, tá memo na hora du armoço.  Pirciso ir laincas vê se a Nicota fêiz tudo direitin. Intão inté.

Inté, cumpade, inté. Vai cum Deus.

Luiz David

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