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PRECONCEITO… A GENTE ACOSTUMA COM ELE

PRECONCEITO… A GENTE ACOSTUMA COM ELE

O “footing” na Rua Direita é uma das marcas registradas de Pará de Minas, comentada e decantada em verso e prosa, mesmo não sendo exclusividade de nossa cidade, considerando que toda e qualquer urbe do interior brasileiro também teve ou ainda tem  o seu. Não sei de alguma que mantenha o hábito, pois todas as nossas cidades estão abarrotadas de veículos que infelizmente têm a preferência nas vias.  O nosso footing nem sempre aconteceu na Rua Direita.  Ouvia de minha mãe que nos tempos dela mocinha, o vai e vem rolava na Praça da Estação, que tinha tudo a ver: um belíssimo coreto, o Grande Hotel, a estação ferroviária e belos jardins. Estou falando das décadas de 1920/30/40, quando o tradicional evento noturno semanal se mudou para a rua de cima; nossa “main street”, ou rua principal, como diria se estivesse aqui, o meu amigo José “do Bosco”  Mendonça, há décadas radicado na “Big Apple” isto é, em New York City. O fato é que o footing subiu na vida e foi acontecer na Rua Direita.

Acho que foi aí, num domingo qualquer no inicio dos anos 1940,  que começou a decadência da Praça que hoje tem dois nomes: Francisco Torquato e Torquato de Almeida, sendo o primeiro o pai do segundo. O lado Francisco Torquato da praça é aquele onde fica o prédio da escola mais antiga da cidade que tem o nome do filho e bem em frente uma estátua em bronze do dito cujo. Já o lado Torquato da praça, é aquele onde há séculos estão aqueles três caramanchões, hoje territórios definidos: o mais próximo do camelódromo é exclusivo dos aposentados da cidade chegados a um jogo de cartas. O do meio, sem proteção contra o sol, é território livre de todas as tendências. Já caramanchão de cima, bem em frente ao prédio  que abriga a  Secretaria de Cultura é uma “ZQC” zona quente da criminalidade, com seus bancos e mesinhas sempre ocupados por supostos usuários e traficantes de drogas (inclusive álcool)  e pelas profissionais da mais antiga profissão do mundo. Em alguns momentos predomina a maioria formada pelas mulheres da chamada “vida fácil” ( quem não está nela diz que é fácil), noutros momentos prevalece a outra turma. Todos em exemplar convivência pacífica, cada um na sua, enquanto o populacho atravessa o logradouro em todas as direções, numa mistura impensável  de objetivos: pessoas indo á biblioteca, outras à banca do raizeiro no camelódromo, crianças rumando à escola de música; vans escolares despejando e recolhendo crianças mais perto da escola; donas de casa comprando legumes nos sacolões. Centenas de transeuntes rumando ao ponto dos ônibus logo ali. Numa extremidade da praça funciona até mesmo um posto policial, cujos profissionais só intervém quando alguém exorbita de seus direitos e avança sobre o espaço do outro. Na praça Torquato o caldo cultural é grosso e bastante temperado; eu ainda não sei o que vai resultar desta convivência até aqui cordial de pessoas tão diferentes no jeito de ser.  Acho que todos conhecem aquela expressão: “mas que zona hein? Foi nisso que se transformou a Praça de dois nomes.

Eu sou do tempo em que a zona boêmia da cidade ficava no primeiro quarteirão da Rua Capitão Teixeira: entre a Praça Galba Veloso e a Rua do Cruzeiro. Mulheres de todas as idades “de mamando a caducando”  de famílias da região davam voltas para não atravessar aquele “quarteirão do pecado”. Ai daquela que transgredisse aquela regra não escrita de bom comportamento e arriscasse uma travessia, mesmo no estilo ‘Usain Bolt”, percorrendo cem metros em dez segundos; se fosse vista o mínimo que diriam dela é que estava fumando e bebendo aboletada numa mesa do Bar do Pastor, que ficava na esquina. Não estava, mas perigava acabar ali, tanta era a maldade daquelas línguas viperinas  (epa). Mais tarde, em 1970, a prefeitura inaugurou naquela quadra o majestoso prédio que abrigou a saudosa Escola de Comércio. Sem lugar onde exercer o oficio as profissionais se mudaram para a Praça Torquato.

Mas eu ia  falar mesmo era do footing na Rua Direita e sobre como éramos preconceituosos. Acontece que o espaço acabou e o editor odeia quando eu excedo as setecentas palavras.

Nas semana que vem eu prometo escrever sobre o tema.

Luiz David

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