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RESCALDO DA ELEIÇÃO

RESCALDO DA ELEIÇÂO

O deputado federal tucano, Eduardo Barbosa, reeleito para seu sexto mandato, com votação superior a todas as eleições anteriores, não poupou críticas à presidente reeleita, Dilma Roussef, a quem chamou de mentirosa. Para o tucano, a presidente teria mentido durante o último debate televisivo com o senador Aécio, na tevê Globo, às vésperas do segundo turno. Naquela ocasião, a presidente questionada pelo adversário negou atrasos no repasse de recursos à entidades filantrópicas, entre elas as APAEs de todo o Brasil. A presidente garantiu que os repasses estão em dia. O deputado em entrevista à imprensa patafufense afirmou categoricamente que o atraso é de alguns meses e que Dilma mentiu. A entrevista do tucano foi ao ar na terça-feira e pelo tom adotado, o parlamentar ainda não tinha digerido a derrota de seu candidato.

A vitória da presidente Dilma parece ter doído muito no arraial tucano em Pará de Minas. Depois da queda (a derrota em 1º turno de Pimenta da Veiga ao governo estadual), o coice; que foi a derrota de Aécio Neves. À sua maneira, os tucanos patafufenses das mais diversas plumagens, já anunciavam quem iria para onde. Em seus devaneios, os correligionários do deputado Barbosa garantiam para este, nada menos que a titularidade do Ministério da Saúde em eventual governo Aécio. Para o herdeiro do parlamentar estava destinado um cargo de relevância na assessoria da Presidência da República. Até mesmo o presidente da Juventude Tucana local receberia uma sinecura em órgão federal em Minas Gerais.

Infelizmente (para eles, tucanos), a dupla derrota desmanchou todos o sonhos. Resta o consolo de que o presidenciável Aécio Neves saiu vitorioso no Pará de Minas nos dois turnos.

Para os tucanos do Brasil inteiro, o senador Aécio foi o vencedor moral das eleições, com seus incríveis cinquenta e um milhões de votos. Este blogueiro então não resistiu à tentação de comparar a quase vitória do senador a outra famosa vitória moral. No Mundial de futebol de 1978, disputado na Argentina, a seleção brasileira do treinador Cláudio Coutinho terminou em terceiro lugar, de forma invicta. Foi eliminada no saldo de gols, por ter marcado apenas três vezes contra a seleção peruana, enquanto a seleção argentina do técnico César Luis Menotti, enfiou logo meia dúzia no mesmo adversário. No fim, os “hermanos” bateram a Holanda e ficaram com o título. Essa expressão “campeão moral” foi popularizada por Cláudio Coutinho que  proclamou nosso time como campeão moral da Copa.  É o que fazem agora os coutinhos tucanos a berrarem pelas esquinas do Brasil o título do candidato deles.

Só os tresloucados apostam nesta tese esdrúxula da divisão territorial do Brasil, separando estados onde Aécio ganhou, daqueles onde a vitória sorriu para Dilma Roussef. Não há projeto de divisão que se sustente baseado nesta premissa. Não há divisão. A Federação brasileira continua sólida.   O que houve foi um extraordinário equilíbrio na votação. Os dois candidatos foram votados em todos os estados brasileiros. Em alguns, no próprio Sul do país e no centro-oeste, a diferença entre Aécio e Dilma foi de poucos pontos percentuais.

O fato inusitado foi a diferença pró-Aécio em São Paulo, um fenômeno que ainda será explicado pelos estudiosos. Se bem que dos eleitores paulistas pode-se esperar as mais estranhas manifestações. Em 1958 o candidato a deputado mais votado em São Paulo foi um animal que ficou muito famoso, o hipopótamo de nome Cacareco, que habitava o zôo paulistano. Até hoje, na média, foi a maior votação  já dada a algum candidato. Obviamente foi um voto meio de protesto/meio de gozação, mas que acabou por batizar daí em diante todas as candidaturas voltadas para o pitoresco. A elite paulista, desde sempre raivosa, não tem explicação para os enéias e tiriricas, malufs e assemelhados, todos cacarecos.

Alguém já disse que  “a democracia é uma planta muito tenra, que precisa ser cuidada diariamente”.  A democracia brasileira então, nem é bom falar, de tantas vezes que já foi estuprada.  Bastou um resultado eleitoral equilibradíssimo, para os profetas do apocalipse; as vivandeiras e cassandras, de que falava o ditador Ernesto Geisel (credo em cruz!!!) correrem aos portões dos quartéis a propor uma guerra de secessão. Com o século 21 em pleno andamento não é possível que ainda exista gente que pense assim.  Se essa gente for majoritariamente de São Paulo, é pior ainda. Os paulistas já tentaram uma vez a separação do restante do Brasil e levaram uma coça de mineiros e gaúchos principalmente, no que a história chama de “Revolução de 1930”, que foi na verdade uma guerra civil. Em 1932 tentaram novamente e outra vez saíram derrotados fragorosamente no campo de batalha, onde alguns milhares de brasileiros perderam a vida e cidades foram bombardeadas por uma incipiente força aérea.

Esses xenófobos tupiniquins que tanto gostam de citar como exemplo países ditos de “primeiro mundo”, bem que podiam se mirar no exemplo dado pelos povos dessas nações em suas eleições majoritárias. Obama nos EUA e Holland na França, ganharam  recentemente apertados pela oposição. E a inesquecível vitória de Bush (o filho) que ganhou (em 200) uma eleição comprovadamente fraudada, mas confirmada pelos tribunais.

O regime democrático deve prevalecer sempre, ganhe quem ganhar. A democracia não é como um par de sapatos, que se aperta não se usa. Ao contrário, deve ser usado sempre e cada vez mais, até que se adapte.  Essa ideia de dividir o país é arroubo de adolescente rebelde. Afinal de contas, o pais está apenas na sua sétima eleição presidencial consecutiva. Somos, o Brasil,  uma democracia que ainda engatinha. Mas certamente chegaremos lá, ao nível de todas as outras exemplares democracias do planeta, apesar desses espasmos de atraso, que de vez em quando acomete a elite nacional.

Luiz David

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