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Serial killer brasileiro: até onde a arte é responsável? Artigo de Nilson Lattari

Serial killer brasileiro: até onde a arte é responsável? Artigo de Nilson Lattari

Por Nilson Lattari

 

Na última semana uma das notícias mais terríveis foi a prisão e a confissão de um serial killer brasileiro [foto], com quarenta e três vítimas fatais, pego em flagrante tentando executar sua última vítima, ato que não consumou.

No melhor clima de Criminal Minds, um seriado americano na TV paga, onde sofisticados e autores de numerosos crimes são perseguidos, o nosso serial tupiniquim, um indivíduo que cursou até o quinto ano, negro, morador na periferia da cidade do Rio de Janeiro, em município adjacente, manifestou em seu interrogatório uma paixão pelos livros policiais e séries de TV, além da mesma “ânsia por matar, ou sair para a caçada”. Essa paixão o levou a adotar as mesmas performances que o livraria de provas, como o uso de touca, de luvas e o corte das unhas das vítimas, onde o seu DNA poderia estar armazenado.

Diante disso, estamos perante os fatos do grotesco. O primeiro que a polícia brasileira ainda não tenha este grau de sofisticação, com laboratórios cinematográficos, que nem mesmo existem na polícia americana, neste grau, e, por outro lado, o aprendizado através da literatura e da televisão.

Cabe-nos perguntar até que ponto a arte pode ser responsabilizada pelos atos de seus expectadores e leitores.

Sendo a ficção o pensamento mais avançado do homem, e, como exemplo, Júlio Verne, no seu convívio com cientistas da época, engendrou inúmeras aventuras, assim como Star Trek que antecipou ou proporcionou o avanço em inúmeros gadgets modernos (flip flaps nos celulares, os sintetizadores, quase apresentáveis nas impressoras 3 D, e por aí afora), ela deva se engajar em uma cruzada anticrime?

O exemplo do nosso infeliz serial killer e o seu aprendizado possivelmente esteja sendo seguido por outros, ainda não descobertos. As lavagens de dinheiro, cada vez mais sofisticadas têm a sua reprodução em filmes, e neles os processos criminais e a imensa criatividade dos autores levando ao mais alto nível a sofisticação, na busca dos roteiros inéditos, deveriam ser interrompidas? Ou censuradas?

Ou o excelente filme estrelado por Robert Redford “Os seis dias do condor”, onde um funcionário de uma empresa que faz resenhas de filmes e livros policiais, de repente, vê as mesmas performances serem executadas pelo mundo e descobre que ele faz parte de uma trama onde a CIA se utiliza para praticar seus crimes.

É um caso a se pensar.

Afinal, a literatura é uma das formas de aprendizado de uma cultura e a forma crítica da sua existência funciona como freio para devaneios ditatoriais e paranoicos, como os enredos utópicos (A utopia, Admirável mundo novo, A noite dos tempos) que serviam para criticar as sociedades da época.

Como conviver a ficção e a realidade, quando a ficção busca na própria realidade o trampolim para a criação, e essa mesma criação pode se voltar contra a realidade?

Luiz David

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