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TERRA DAS PICUINHAS

Vira e mexe eu ouço alguém comentar sobre os prejuízos que a cidade acumula em virtude das desavenças entre suas lideranças políticas. Não é de hoje que isto acontece. Pará de Minas foi emancipada em 1859 e elevada á condição de Vila do Pará. Porém em 1872 foi novamente reintegrada à Pitangui, por mesquinharia política. Na Vila do Pará predominavam os políticos pertencentes ao Partido Liberal; enquanto em Pitangui quem dava as cartas era o Partido Conservador. Os conservadores da “Velha Serrana” nunca se conformaram com emancipação do Patafufo, agora Vila do Pará, ainda mais que por aqui predominavam os adversários liberais. E tanto urdiram com os conservadores paraenses, que o representante conservador na Assembléia Provincial, Gustavo Capanema (o avô), conseguiu levar a plenário o projeto de dissolução da Vila do Pará e obteve êxito na proposta. A Vila do Pará seria restaurada apenas em 1876. Desde então o que tem se verificado em nossa terra uma sucessão de mesquinharias e picuinhas políticas. Em algumas épocas mais do que as outras. Obra iniciada por um prefeito quase nunca é concluída pelo sucessor. A mais emblemática é a canalização do Ribeirão Paciência, iniciada em 1979 pelo prefeito José Porfírio (o pai) , que teve sequência na administração seguinte (1983/88), com o prefeito Antônio Júlio, que estendeu os cem metros iniciais por mais duzentos e cinquenta metros até a ponte da Rua Raimundo Menezes.
Se cada um dos prefeitos que vieram depois, tivesse construído pelo menos vinte e cinco metros de canalização por ano de mandato, uma marca perfeitamente realizável e paga apenas com recursos municipais, nossa cidade teria hoje um ribeirão canalizado na sua região central e um bela avenida margeando o mesmo, no sentido Sul/Norte, que teria mudado definitivamente (para melhor) o tráfego de veículos, impedindo que o mesmo chegasse à atual situação caótica por falta de opções. A antiga Avenida Brasil, hoje denominada Avenida Mathias Lobato, que margeia o ribeirão, existe nas plantas cadastrais desde o início da década de 1950. Os prefeitos ao abri-la e ao dar sequência ao seu traçado não estariam inventando nada, apenas seguindo um antigo e exequível projeto. Um gestor deve ter a visão do futuro e pensar nas gerações que virão. Infelizmente nada se faz neste sentido por picuinha política.
Semana passada por exemplo, foi inaugurada a UPA 24 Horas, que dela se espera que solucione pelos próximos anos o problema de acesso da população aos serviços médicos. Estava pronta desde dezembro do ano passado. Não entrou em funcionamento antes por que faltava carimbar alguns documentos e ligar os computadores da unidade.Essas foram as explicações da atual administração. Mas a população entendeu como picuinha do atual gestor com o seu antecessor. E quanto mais se explica, mais o povo entende que foi por picuinha mesmo.
A UPA inaugurada foi batizada de Dr. Morel Mendonça Meireles, pará-minense ilustre, que não foi médico, mas sim um advogado brilhante, que alçou-se à magistratura através de concurso, vindo servir como Juiz de Direito na Comarca de Pará de Minas, dentre outras. Foi também vereador à Câmara de Pará de Minas por dois mandatos e professor universitário. Por motivos de saúde a viúva do homenageado não pode comparecer ao evento. Os filhos então convidaram um velho amigo do pai, o empresário aposentado do setor gráfico, Luiz Martins dos Santos (85 anos), para agradecer em nome da família. Convite aceito, Sô Luiz preparou um pequeno texto para ler ao microfone, pois é considerado deselegante falar de improviso nessas ocasiões. Minutos antes de sô Luiz ser chamado ao microfone, o cerimonial do evento simplesmente confiscou a folha de papel do orador, sem alegar os motivos da censura. Sô Luiz acha que tudo aconteceu porque no texto formulava votos de que o atual prefeito se espelhe nas ações do antecessor e prossiga trabalhando sempre pelas melhorias da saúde pública em Pará de Minas.
Pessoalmente eu acredito que foi por mesquinharia política. E foi deselegante também, pois censuraram a palavra do representante da família do homenageado, que entre suas inúmeras virtudes tinha a de ser um democrata ferrenho.

Luiz David

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