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4 DE DEZEMBRO, É DIA DE QUÊ MESMO?

A data de hoje, 4 de dezembro, foi, durante muito tempo, uma das mais lembradas do calendário em Pará de Minas. Neste dia, em 1892, nasceu Benedito Valadares Ribeiro, na Fazenda Machadão, atualmente inserida no município de Florestal, que naquela época era parte integrante da “grande” Cidade do Pará, hoje Pará de Minas. Valadares era filho de dona Antonia Valadares Ribeiro e do Coronel da Guarda Nacional Domingos Justino Ribeiro. Pelo lado materno era trineto da lendária Dona Joaquina do Pompéu, a grande matriarca do Oeste Mineiro. Vou pular a parte da história do personagem durante a sua fase de infância e adolescência, passadas na fazenda Machadão e na Cidade do Pará.
Mas o fato é que Benedito em 1921, aos vinte e nove anos, retorna definitivamente à cidade, trazendo debaixo dos braços dois diplomas de curso superior; o primeiro de dentista, obtido na faculdade em Belo Horizonte em 1915; o outro, de Direito, formado que foi pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Por não suportar a visão de sangue jorrando de um ser humano, Valadares exerceu a primeira profissão por pouco tempo, quando montou consultório na cidade de Sete Lagoas. Desistiu logo, e percebeu que o Direito era sua vocação, mudando-se então para o Rio, em busca do bacharelado. Ao Pará de Minas retornou casado com Odete, moça prendada, de ilustre família da Zona Mata mineira. No Pará de Minas montou sua banca, que passou por vários endereços. Advogado criminalista, atuava também noutras áreas do Direito. E ingressou na política, consequência natural, elegendo-se vereador em 1922, pela partido de oposição ao ao Coronel Torquato Alves de Almeida, então o senhor de todas as vontades no Pará (de Minas). Muitos temeram pelo futuro político do jovem advogado, quando ele se filiou à oposição. Mas Valadares, já naquele tempo, sabia o que queria. Sob as asas do coronel Torquato, ele pressentiu que não teria grandes oportunidades de prosperar na carreira política, havia muitos outros políticos no Pará à frente dele, esperando cair nas graças do grande cacique.
Na oposição, Benedito Valadares atuou com firmeza, por duas vezes disputou a presidência da Câmara, cargo que na época conferia ao titular a efetiva direção executiva do município, posto que não existia ainda a figura do prefeito, tal como a conhecemos hoje. Não se elegeu presidente da Câmara, mas marcou posição. Em 1930, quando estalou no Rio Grande do Sul a Revolução da Aliança Liberal, chefiada por Getúlio Vargas, o vereador Benedito Valadares auto-proclamou-se comandante-em-chefe do movimento revolucionário em Pará de Minas e, armado de fuzis, ele e alguns companheiros, dirigiram-se ao Paço Municipal e depuseram o presidente da Câmara e Agente Executivo, Tenente Júlio de Mello Franco, que abandou o prédio antes da chegada do comando revoltoso liderado por Valadares. Auto empossado no cargo de prefeito, denominação que a função passou a ter no Brasil após 1930, deu uma arrancada na sua carreira política, que faria dele uma das mais importantes lideranças políticas do Brasil entre 1930 e 1970, quando se aposentou da política, ao concluir seu segundo mandato de senador da república. Entre 1930 e 1970, Benedito Valadares foi prefeito de Pará de Minas (até 1932); deputado federal em duas legislaturas, interventor e governador de Minas (entre 1933 a 1945) senador, Chefe da Missão do Brasil na ONU, e principalmente fundador e presidente nacional do PSD -Partido Social Democrático (nada a ver com esse PSD de hoje, que só adotou essa sigla por puro oportunismo de seu fundador, esse Kassab, ex-prefeito paulistano). O velho PSD, sob Benedito Valadares, foi sem dúvida, a grande escola que formou dezenas, centenas até, de grandes políticos por todo o Brasil, entre 1945, ano de sua fundação, até 1965, quando foi extinto por de um Ato Institucional editado pelo ditador Humberto castelo Branco.
Voltando ao quatro de dezembro, a data no período em Valadares esteve no poder (1930 a 1970) sempre foi celebrada em Pará de Minas. Algumas vezes o aniversariante vinha passar a data natalícia em sua Chácara Santa Edwirges, ocasião em que a fila de áulicos à sua porta era grande, todos querendo dar um abraço no líder. Quando não vinha, os “amigos” mais pressurosos não se apertavam. Se abalavam até o Rio de Janeiro, viajando quatorze horas no saudoso trem da Central do Brasil, famoso com o nome de “Vera Cruz” , cuja viagem era um grande sonho de consumo. Os maiorais do puxa-saquismo (juro que não queria escrever isto) na bagagem levavam quitandas e carnes nobres, temperadas obviamente (lombos, pernís, etc.) para agradar, diziam, dona Odete, esposa do velho soba de Patafufo.

Agora não mais. Benedito Valadares veio, viu e venceu.Morreu pouco depois de deixar o Senado. Em 3 de março de 1973. Teve seu tempo de glória e de poder. Passou. Demorou até, a passar. Da vereança em 1922 na Câmara de Pará de Minas, ao epílogo, numa cadeira senatorial foram quarenta e oito anos usufruindo das delicias e das agruras do poder.
Tudo passa. E a importância do quatro de dezembro em Pará de Minas, passou também. Voltou a ser um dia como todos os outros, ante-vésperas do dia dedicado à Nossa Senhora da Conceição, comemorado em 8 de dezembro, que continua sendo feriado santificado.
Hoje, transcorridos quase quarenta e quatro anos de seu falecimento, o túmulo de Benedito Valadares, no cemitério de Pará de Minas, provavelmente estará bem limpo, afinal de contas está chovendo na cidade há muitos dias. Com certeza ninguém irá até lá para uma reverência saudosa, para deixar sobre a lápide uma única flor, que seja. Não fosse a chuva, e o eventual visitante encontraria o lugar coberto por fina camada de poeira, a poeira dos tempos, que é como permanece a maior parte do tempo.
Benedito Valadares foi grande, foi dos maiores, deixou muitos ensinamentos aos políticos que vieram depois dele, não apenas no Pará de Minas, como em Minas Gerais e no Brasil de maneira geral. A memória dele precisa ser mais cultuada. Foi um político honesto, com todas as letras maiúsculas. Em quase meio século de vida pública não amealhou nenhuma fortuna. Deixou para os herdeiros bens absolutamente compatíveis com o que recebeu pelo exercício
de suas altas funções. Foi grande e poderoso, mas jamais exorbitou de sua alçada.
Benedito Valadares é um daqueles ancestrais que qualquer povo gostaria de ter em sua história. E para nós, pará-minenses, é o exemplo cada vez mais vivo, de como a vida é efêmera.
Benedito Valadares, orgulho de Pará de Minas.

Luiz David

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