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FORRÓ DO PARÁ: ESTÁ DE VOLTA AO CALENDÁRIO A MAIS DEMOCRÁTICA FESTA DE PARÁ DE MINAS

Ouço no rádio que a prefeitura de Pará de Minas vai retornar com a festa junina denominada “Forró do Pará”. Espero que desta vez o Forró venha para ficar. A cultura e a tradição da cidade merecem. O Forró do Pará foi a maior festa popular de nossa cidade. Atraía mais público do que os monumentais desfiles cívicos do “20 de Setembro”, principalmente aqueles do período da ditadura (1966/1980, por aí). Algumas pessoas ficam enciumadas quando eu falo que fui o criador da festa em Pará de Minas. Mas confesso que a idéia foi copiada do “Forró de Belô”, invenção do prefeito de Belo Horizonte Mauricio Campos e de sua equipe, na segunda metade da década de 1970. Na Capital, o Forró de Belô foi também a maior festa popular da cidade. Outra cidade interiorana, Curvelo, também aprendeu com BH, e antes de nós, criou o Forró de Curvelo, que nunca mais deixou de acontecer, e há muitos anos é o maior evento da cidade centro-nortista de Minas Gerais, onde só perde para os festejos comemorativos do padroeiro local, São Geraldo.

Em 1983 eu estava Diretor de Eventos e Promoções da prefeitura, nomeado pelo prefeito Antonio Júlio, que começava seu primeiro mandato (1983/1988). Decidi arregaçar as mangas e trabalhar, pois se havia carência de algo na cidade, era de eventos festivos. O carnaval daquele ano foi um sinal do que viria pela frente. Mas hoje eu quero falar do Forró do Pará.
Minha geração foi marcada pelo eventos públicos entre aspas, pois a eles só tinham acesso aqueles que tivessem uns trocados no bolso, e nem todos tinham. Barraquinhas do Alto (bairro Nossa Senhora de Lourdes), ou de Nossa Senhora das Graças, só permitiam acesso às mesas do serviço de bar, aos que ocupavam as mesas e gastavam a consumação mínima. Os sem-grana ficavam em volta, fora dos cercadinhos, ou então fazendo o “footing”, que aliás era muito mais animado. Mesmo nas festas da prefeitura no mês de setembro, que aconteciam nas praças da cidade, o cercadinho era infalível, separando a população: os sem dinheiro no bolso e os com alguma merreca disponível. As primeiras festas do frango, na Praça Torquato, também foram assim. Algumas vezes até artistas vinham se apresentar (Perla, Agnaldo Timóteo, entre outros) então um palco era montado e a multidão se comprimia ao redor.

Quando fiz o projeto do Forró e o apresentei ao prefeito Antonio Júlio ele apenas perguntou: -será que vai dar certo? eu só respondi que se tinha dado certo em Belo Horizonte e em Curvelo, aqui também haveria de dar. E deu. Qual o diferencial do Forró do Pará para as festas do passado? O principal foi a proibição de mesas e cadeiras, com a multidão ficando em pé; com isto as pessoas se aproximaram. Não havia apenas um serviço de bar: no primeiro Forró foram oito barracas, montadas estrategicamente, quatro em cada lado do palco. No segundo ano já foram doze. O local escolhido para receber o Forró foi o estacionamento do Colégio Fernando Otávio, na Praça Frei Concórdio. Na minha cabeça o Forró acompanharia a festa móvel de “Corpus Christi”, que cai sempre numa quinta-feira, podendo ser até mesmo no final do mês de maio. As barracas foram entregues às escolas de samba e caixas escolares, que teriam com a renda auferida uma sobra nos respectivos caixas. Os shows musicais seriam apenas com artistas locais: Guarujá & Marani; Juvenil e o Trio Paraense, Geraldo de Sousa, e outros. Uma proibição: nada de músicas não inseridas no contexto: rock’n roll, pagode, samba, bossa-nova nem Jovem Guarda. Só o velho e bom repertório sertanejo e músicas juninas. Antes do show sempre acontecia a dança de quadrilha, comandada pela festeira Nina, tecelã aposentada e “expert” no assunto. Nina havia décadas promovia a festa junina do Sindicato Têxtil. Convidada para cuidar da parte que era a razão de ser do evento, caprichou no “anarriê”. A cidade nunca tinha visto uma quadrilha tão bonita e organizada. Os shows começavam geralmente ás dez horas da noite e logo depois entrava em ação um sanfoneiro que tocava até o dia raiar, botando na roda centenas de casais, que a festa era para o povo.
Todas as barracas tinham de ter no cardápio os produtos típicos: quentão, pipoca, canjica, batata doce. Um “pau-de-sebo” de mais de cinco metros tinha como atrativo na sua ponta uma nota de maior valor na época.

Lembro-me bem do primeiro Forró. Na quarta-feira à tardinha, estacionamento todo enfeitado com bandeirolas, as pessoas trabalhando nas barracas, o som sendo testado pelo locutor Jesus Geraldo, que foi o apresentador das duas primeiras edições do evento, tudo pronto para a abertura. de re pente chegam o ex-vice-prefeito Silvio Francelino e o ex-secretário municipal de governo Horácio Dantas Duarte, ambos meus amigos, que fizeram parte da gestão municipal anterior, a que foi sucedida por Antonio Júlio e sua equipe. Tomamos juntos uma cerveja e no meio da prosa Horácio Dantas disse: – que belo espaço para eventos e nós que o construímos não o vimos nunca para este fim. O sucesso da festa é garantido. O estacionamento foi construído por Silvio Francelino em uma de suas interinidades substituindo prefeito José Porfírio.
Ás sete da noite as pessoas começaram a chegar, por volta das dez, momento de pico, a praça recebia mais de dez mil pessoas. Na noite de sábado mais de vinte mil pessoas passaram por lá. A cidade em 1983 tinha cinquenta mil habitantes. O movimento foi tanto, que clubes, cinemas, bares e restaurantes, fechavam as portas por falta de clientela. Todos estavam lá no Forró do Pará, que ficou sendo o assunto do momento.

Na noite de sexta-feira, o comerciante José Mizael de Almeida, que tinha um botequim ao lado do Cinema Vitória, ainda resistia em fechar o estabelecimento. Foi quando entrou um antigo freguês, Lu, caminhoneiro, que por ter chegado de viagem à noitinha, estranhou a cidade vazia, cinema fechado e perguntou ao Miza o que estava ocorrendo. A resposta do meu velho amigo Mizael foi: -arrumação do Luiz David e do Antonio Júlio. Esta é a terceira noite que eu não vendo nem uma pinga. O povo está todo lá no Forró, e é prá lá que nós vamos Lu. Em seguida, após o Miza fechar o bar, entraram no velho fusquinha e tomaram rumo da festança. Isto se passou exatamente há trinta e quatro anos, mas até hoje quando encontro com o caminhoneiro Lu pelas ruas ele lamenta: tempo bom foi no tempo do Forró do Pará.

O Forró do Pará foi o evento que entusiasmou o prefeito Antonio Júlio a construir o Parque de Exposições da cidade. Naquelas festas juninas da Praça Frei Concórdio o ainda jovem prefeito percebeu o quanto fazia falta à cidade um espaço digno para receber a nossa festeira população.

Não tenho peia em afirmar que o Forró do Pará foi a festa mais democrática de Pará de Minas em todos os tempos. E tem tudo para voltar a sê-la.

Boa sorte e sucesso aos atuais organizadores. Só o fato de ressuscitarem o evento já os torna merecedores da minha simpatia.

Luiz David

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