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MINHAS COPAS – A CRÔNICA DE LÚCIO CÉSAR

COPAS e copas

Lúcio César

 

Da minha primeira Copa, não me lembro. Nasci em 1955; e precoce em 1958 foi um menino de 17 anos, com o apelido de Pelé, que despontou na Copa da Suécia. Daquela Copa, só fui ter notícias por volta do Mundial de 1962. Deste me lembro um pouco, já com 7 anos completos. Para o jogo final, entre Brasil e Tchecoslováquia, fiz um bolão sobre o placar, terminado em 3 x 1.

Pois não é que o Sô Henrique, meu pai, que não era chegado a futebol, ganhou o meu bolão? Teve carreata em Pará de Minas e o menino aqui, dentro do Ford Mercury do então gerente do BB, seu Júlio Maia, ao passar mais de uma vez pela rua Direita, via seu bem humorado pai esfregar os dedos médio e polegar no clássico gesto de dinheiro, cobrando a aposta ganha.

De 1962 também me lembro do Zé “Fubá”, apelido, como era antigamente comum na boa terrinha, do José Marinho, funcionário do Banco do Brasil, que pintou em sua camisa os dizeres “Fubá para os canarinhos”, bem humorado trocadilho com o seu apelido e com a alcunha dos jogadores do escrete brasileiro, em razão da camisa amarela.  Como eu sempre digo que tudo nasce em Pará de Minas, acho que foi ele o precursor da serigrafia ou silk-screen.

Em 1966, na Inglaterra, uma confusão danada: o técnico Vicente Feola chamou previamente 44 jogadores, 4 times, até a convocação final. O Brasil foi eliminado com derrota para Portugal, em que Pelé foi impiedosamente caçado pelos portugueses. De bom, aquela Copa plantou a semente de um gênio apelidado Tostão.

1970, México: para mim, a melhor Copa. Era sentar em frente à TV e esperar o Brasil ganhar. De tenso, mesmo, só o jogo contra a Inglaterra, sofrido 1 x 0. Pela primeira vez, as substituições foram permitidas e os cartões amarelo e vermelho foram adotados. A Copa de 1970 teve a  primeira transmissão pela TV para o Brasil, em preto e branco. Algumas pessoas, vendo hoje imagens coloridas daquela Copa, confundem isso. O primeiro torneio de futebol transmitido em cores no Brasil foi em 1972. A Taça Independência, ou Minicopa, disputada no Brasil em 1972, como parte das comemorações do “Sesquicentenário da Independência”, foi vencida pelo Brasil, já sem Pelé, em final contra Portugal. Curiosidade: o torneio, disputado por 20 seleções, teve sedes em 12 cidades, como a atual Copa no Brasil, com algumas diferenças de locais em relação aos atuais.

1974 teve uma seleção brasileira mesclada com alguns jogadores de 1970 e outros novos, com muitas indefinições. Tive oportunidade de ouvir um debate a respeito com a presença de Piazza e Nelinho, que contaram casos sobre essas indefinições. Perdemos ali a oportunidade de ver o grande Ademir da Guia brilhar.

Em 1978, Cláudio Coutinho declarou-se “campeão moral”. Mas não soube aproveitar em um mesmo time craques como Rivelino, Zico e Falcão, a exemplo da seleção de 1970 e da que viria a seguir.

A seleção de 1982 reuniu craques em diferentes funções como em 1970. Foi minha segunda Copa preferida, pois ali tinha o meu grande e eterno ídolo, Zico, e outros grandes craques. O Brasil não venceu, mas ficou para a história o time comandado por Telê, reunindo, Zico, Falcão, Sócrates, Júnior, Leandro, Eder e Toninho Cerezo. Parafraseando e extrapolando Fernando Calazans, se esse time do Brasil não ganhou a Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo!

Em 1986, o Brasil teve uma seleção bem diferente de 1982, pois vários jogadores não voltaram, por problemas técnicos ou disciplinares, e Zico estava gravemente lesionado, só podendo entrar em meio às partidas. Zico perdeu um pênalti durante o jogo contra a França e os míopes de plantão adoram culpá-lo pela eliminação, assim como fazem com relação a Cerezzo, em 1982, por um passe errado. Esquecem-se de que o pênalti não garantiria o resultado e que ele fez o seu na disputa de pênaltis que decidiu a classificação da França. Coisas do futebol, que só os deuses do Olimpo podem explicar.

1990: não merece nem comentários. Copa horrível, seleção brasileira que inaugurou a chamada “Era Dunga”. Foi a Copa de Diego Armando Maradona,  então idolatrado pela carreira dentro dos gramados.

A seleção brasileira de 1994 poderia ter sido a “Era Dunga 2”, se não tivesse um gênio da grande área chamado Romário e um coadjuvante digno de receber um Oscar: Bebeto. A partida contra os EUA, duramente vencida por 1 x 0, lembrou, em tensão, Brasil e Inglaterra de 1970. Foi a primeira Copa com final disputada nos pênaltis.

Sobre a Copa de 1998, os mais novos, daqui a tantos anos, ainda estarão discutindo o que aconteceu, a partir do “apagão” de Ronaldo, se deveria ter sido escalado ou não, se a Copa foi vendida ou não. A culpa não foi do Ronaldo, que atuou razoavelmente na final contra a França, mas o time esteve irreconhecível.

Em 2002 foi a Copa de Ronaldo Fenômeno, com o coadjuvante também digno de um prêmio Oscar, Rivaldo, que repetiram Romário e Bebeto em 1994.

Em 2006 tínhamos bons nomes, mas a seleção de Parreira não emplacou. Juntos, Ronaldinho e Kaká perderam-se em campo, assim como ocorreu com Rivelino e Zico em 1978. Faltou o ajuste fino de craques, que houve em 1970 e 1982.

Se Romário e Bebeto salvaram o Brasil da “Era Dunga 2” em 1994, desta vez não deu: como técnico, apesar de bons resultados anteriores, aconteceu o que todos imaginavam em relação à seleção, com   Felipe Melo, escolhido pelo próprio Dunga como o Dunga 2.

2014.  Enfim, tudo muda: as moradias não tem mais copas como antigamente e,  sim cozinhas americanas; os flats tem espaço gourmet;  e o futebol brasileiro tende a ser europeu ou será que o futebol europeu é que se abrasileirou?  Dos craques da Copa, os dois maiores são de lá: Cristiano Ronaldo e Messi, mas temos Neymar. Que é Júnior e não Filho.

Essas são minhas lembranças mais impactantes das Copas. Claro que está tudo aí bem completo na internet, mas a memória grava o que é mais marcante.

Estou misturando tudo ou será que tem a ver? Vamos ver no que dá isso. Como dizia Cazuza, “segredos de liquidificador”. Que tenhamos uma Copa pacífica.

Luiz David

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