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O verão de 2019

O VERÃO DE 2019

Não gosto muito de anos quando o carnaval cai no mês de março. Acho que é uma falta de respeito ao regulamento escrito pelo poeta Jorge Ben Jor, que decretou através da voz e talento doe seu amigo/irmão Wilson Simonal que “em fevereiro tem carnaval”, em feverê tem carná, cantava o Simona nos idos já longínquos dos anos 1970.  Não que o país pare até que passe o carnaval,  como gosta de dizer boa parte dos boas-vidas nacionais; pergunte ao pessoal que trabalha no chão das fábricas, por trás de balcões, nas feiras, ou aos bancários, aos postalistas e aos micro-empresários, aos ambulantes, aos trabalhadores da área da saúde e também aos que fazem a segurança pública. Pergunte ao povo, ao zé ruela ou à maria vai com as outras. “Pára não, mô fio, nem pode parar” , vão responder os dois dignos representantes do populacho nacional;” se parar quem vai encher as latas lá de casa?”

O país pára,  na opinião daqueles que deviam se interessar pelo seu processo ininterrupto de funcionamento, mas que se valem da autoridade para postergar, adiar decisões que deviam ter sido tomadas no ano retrasado, mas que agora devem esperar passar o carnaval e o verão para serem implementadas. Mas de tanto ouvirem falar os malemolentes de que o Brasil pára até que passe o carnaval, ficamos todos aí trabalhando e pagando impostos, fingindo que estamos todos parados, numa espécie de alucinação coletiva. Pausa para que todos dêem uma espiadinha nos boletos já pagos em janeiro e fevereiro e com os datados de março entulhando a caixa dos correios. Os entes governamentais, as empresas de água, luz e telefone são insaciáveis. Se você não pagou os boletos devidos, fique esperto e corra já ao banco mais próximo e pague sem bufar ou periga chegar em casa e encontrar tudo cortado: água, luz e internet.  As Casas Bahia, o Magalu, o Ricardo Elétro, O Zema (argh!!!) estão todos na sua cola para receber os boletos alusivos àquelas quinquilharias todas que você comprou sem necessidade no último Natal, iludido pela proverbial lábia daquele velhote Papai Noel. Quer saber? bem feito prá você, que todo ano  cai no conto do velho sacana.

O verão de 2019 começou com Temer presidente e termina com Bolsonaro empoderado; este pelo menos com o aval de 57% dos votos recebidos na última eleição. Temer sumiu do noticiário, deve estar por aí dando um lustro naquele avião que tem em casa,  meio século mais novo que ele. Bolsonaro que passou boa parte do verão de hospitalizado, já retomou as rédeas da Nação, com a missão de domar não apenas os problemas nacionais, mas principalmente aquela quadriga de tordilhos impetuosos e trapalhões que mantém na sua baia particular, que muitos problemas lhe trouxeram durante sua passagem pelo hospital dos judeus.

Era para ter sido um verão tranquilo este de 2019, mas um país que tem uma empresa com a responsabilidade de uma Vale do Rio Doce, não tem nenhuma estação pacificada. E a VALE, esta gigantesca  mineradora, pela segunda vez em três anos, espalha sua lama pútrida e envenenada pelo sudeste brasileiro, matando em poucas horas uma benção da natureza nacional que é o Rio Paraopeba e ceifando um número incalculável de vitimas humanas, programado para fechar em três centenas, mas que todos sabemos que passam de quinhentos assassinados, entre funcionários da empresa e terceirizados; vizinhos empreendedores e transeuntes distraídos. O verão de 2019 será lembrado como a época em que a próspera cidade de Brumadinho deixou de existir, pelo menos nos moldes dos últimos cinquenta anos. Primeiro, em 2015, Mariana com seu Bento Rodrigues, a célula-máter de Minas Gerais; e agora Brumadinho. Parafraseando o grande orador Cícero, o romano, eu pergunto: “Até quando ó VALE, continuarás abusando da paciência dos brasileiros?  E a impressão que tenho é a de ouvir a VALE respondendo pela voz  de seu presidente chutado do cargo no meio do carnaval, cujo nome tem  dez letras e apenas duas são vogais: Schvartman: “Até quando quisermos seus babacas brasileiros, nós temos a força e o dinheiro para comprar todos os seus representantes, aqueles que em vosso nome  fazem as leis que nos beneficiam, a nós, os poderosos”.

E o verão de 2019 em Pará de Minas foi aquele xuá. Um recorde de enchentes que deixaram um rastro de destruição pela cidade, que levaram o prefeito a tomar atitudes drásticas como calçar elegantes botinas e botar na cabeça um capacete de segurança, além de vestir um colete da hora escrito na cacunda “Comitê de Crise” e  sair por aí fazendo o que mais gosta, falar de abobrinhas. Crise? Qual crise senhor prefeito? A provocada pela demissão dos mestres psicopedagogos?   Ou a crise do inchaço da prefeitura? Ou a do sequestro de verbas municipais pelo falso esperto governador Zema?  Pois se a crise a qual faz alusão a sua indumentária (o colete) for a propalada crise hídrica, acredito que nesta vossa senhoria se estrepa, pois é de responsabilidade da concessionária municipal. Ela que se acerte com a poderosa VALE. E como não para de chover, é possivel que a tão sonhada (por v.excia) crise de água nem aconteça.

E assim foi-se o verão de 2019.

Luiz David

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