ESTAMOS ASSIM compartilhou artigo da jornalista Karla Kreefft em O TEMPO de 30 de maio de 2014
NEM SEMPRE ACREDITO
Carla Kreefft
Vou tomar a liberdade de escrever essa coluna na primeira pessoa. esta é uma licença que peço aos leitores pela terceira em sete anos em que eu tenho o privilégio de escrever neste espaço que prezo tanto.
Como cidadã, sinto-me assustada com o que tenho visto no mundo virtual, especialmente no que diz respeito à política. A internet é aquele espaço que não tem dono. Mas o que deveria ser ótimo por garantir a liberdade de expressão para todos tem se transformado em um mundo de mentiras e troca de agressões.
Não é possível acreditar em mais nada que se vê nas redes sociais. Militantes, adeptos das candidaturas ou simplesmente simpatizantes de partidos ou candidatos resolveram utilizar o Facebook e o Twitter como meios de divulgação de campanhas eleitorais. Até aí estaria tudo muito bem. O problema é que essas campanhas são realizadas, quase sempre, baseadas na desconstrução do adversário. E aí vale tudo: mentiras, gozações, falsas mensagens, informações distorcidas e por aí vai.
O maniqueísmo na internet reduz a disputa política a mocinhos versus bandidos. Como no futebol, a análise passa a ser totalmente passional. Tudo aquilo que está relacionado ao time é bom, todo o resto é ruim. Tudo que se vê na rede, de alguma forma, está marcado por um posicionamento partidário, mesmo aquilo que não tem uma forma panfletária.
Diante dessa situação tão incômoda, sinto-me na obrigação de dizer que a pesquisa sobre temas políticos na internet precisa ser mais cautelosa. Eu, que muitas vezes, nesta mesma coluna, afirmei que a internet era um bom instrumento de pesquisa para o eleitor, tenho que dizer que essa tarefa não é fácil.
Agora, o eleitor terá que pesquisar de uma forma muito mais criteriosa. Ele terá que confirmar a informação várias vezes e ainda conferir a origem do dado que pretende tomar como verdade. O cuidado necessário para garantia da veracidade da informação, certamente, demandará mais tempo e paciência do eleitor. Tudo isso porque a internet tem deixado de ser um instrumento para obter informação rápida para se tornar, cada vez mais, uma ferramenta de multiplicação de boatos.
É importante que o eleitor entenda que não há problema nenhum em cada qual ter sua opinião e sua posição partidária. O que é criticável é o uso da mentira como tática de convencimento político. Defender um ou outro candidato é direito. Denunciar um ou outro candidato é dever de todo cidadão, desde que haja um motivo real para tal e pelo menos um indício da prática de crime. A palavra precisa ter valor na rede e em qualquer lugar. Fica aqui também uma dúvida. Por que é tão difícil para os órgãos públicos punir as campanhas caluniosas e difamatórias na internet?