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CARNAVAL EM PARÁ DE MINAS: SIM OU NÃO?

CARNAVAL EM PARÁ DE MINAS: SIM OU NÃO?

Confesso que já fui um folião mais animado que sempre preferiu a figura do Rei Momo à de Papai Noel, esse velhinho sacana inventado pelos judeus, no intuito de desviar a atenção dos cristãos para o nascimento do Messias. Enquanto a maioria dos meus amigos aguardava ao final de cada ano o novo disco do Roberto Carlos, eu ficava na expectativa do lançamento do long-play, aquele bolachão de vinil, com os sambas-enredo das escolas do Rio de Janeiro. Considero o samba-enredo “O Amanhã”, de 1978, da Escola de Samba União da Ilha do Governador, como o mais bonito já feito até hoje; e saibam que outros sambas-enredos fantásticos fazem parte da trilha sonora de minha vida. As pessoas sabiam cantar de cor os sambas-enredo, mesmo quem não era chegado às mumunhas momescas (epa!).

E haviam os bailes de salão, o grande momento do tríduo momesco (epa de novo) com os foliões cantando aquelas gloriosas marchinhas. O ápice da festança eram os bailes do cinema Vitória, Centro Literário, Automóvel Clube e Patafufo, então um galpão horroroso aos olhos de hoje, mas extraordinário nos idos de 1960/70.
E o carnaval de rua obviamente, que no Pará de Minas está completando um século, sempre foi animadíssimo com seus cordões, séquitos, e mais tarde blocos e escolas de samba. Sou de opinião que o gigantismo do carnaval carioca, pós sambódromo da avenida Sapucaí, foi que matou o carnaval do interior do Brasil. Desde então caiu a qualidade do desfile, que passou a priorizar os turistas nas arquibancadas e a televisão. E por todo lado do Brasil, todas as cidades queriam fazer um carnaval parecido pelo menos, com o do Rio, abrindo espaço então para coisas grotescas e toscas, cópias horrorosas de evento que foi perdendo todo o charme e gingado. Até o samba-enredo piorou e acabou virando marcha.

Algumas cidades, porém, se deram bem na tentativa de fazer seus próprios desfiles de escolas. Ficaram famosos os carnavais de Itaúna e Divinópolis, com suas escolas de samba empolgantes. Entre 1984 e 1988 Pará de Minas também fez bonito, com a rua Direita sendo transformada em autêntica passarela do samba, com direito a arquibancadas, decoração digna e animação elevada. O surgimento da escola de Samba GRESAR obrigou as concorrentes a se mexerem, principalmente a Unidos do Morro (minha escola preferida). No acervo do MUSPAM estão guardados vídeos daqueles carnavais, que os mais jovens quando assistem, duvidam que seja coisa produzida em Pará de Minas. Mas foi. Pena que acabou. O carnaval ao estilo baiano, milhões de foliões correndo atrás de uma carreta sonorizada, contribuiu muito para a morte daquele carnaval gostoso. Mas a pá de cal sobre o defunto momesco foi jogada recentemente com a invasão dos cantores ditos “sertanejos”. Meu Deus, que horror. Num passado recente, os verdadeiros/legítimos cantores sertanejos, aproveitavam o mês de fevereiro para descansar. Agora, os pseudos artistas só querem faturar, de preferência, muito; que o mar não está para peixe e a concorrência não cochila. Além de a cada momento surgir uma nova “atração” no mercado, empurrados goela abaixo do público.

Dizem que o povo gosta deste tipo de carnaval. Eu tenho dúvidas sobre isto. O povo, como manada, engole o que lhe é servido no cocho. Também não vou negar o esforço da prefeitura de Pará de Minas em organizar a festa. Desde o ano de 2013 que a secretaria de Cultura busca diversificar as atrações, promovendo eventos em locais e horários alternativos, com a presença crescente de foliões.Idéia boa que pode ser incrementada.

Mas o que mais observo no carnaval patafufense é esse acomodamento da nova geração de carnavalescos, que passivamente espera o prato feito oficial, sem mostrar nenhum traço de criatividade. A minha geração e as que vieram antes da minha, eram mais animadas. O carnaval não se resumia ao grande desfile. Haviam os blocos dos sujos que saiam pela cidade; o futebol fantasiado. O futebol travestido com homens vestidos de mulher e vice-versa; o carnaval molhado à beira das piscinas; as rodas de pagode. Tudo espontâneo, sem nenhum envolvimento oficial, do povo para o povo.

Cabe à prefeitura fazer alguma coisa para não deixar data passar em branco; pouco ou muita, depende do observador, a “viúva” patafufense sempre faz. Pessoas contrárias à festas em geral sempre existiram e não deixarão de existir. Sempre terão um motivo para condenar a promoção dos eventos. São uns mal-humorados, sempre à procura de motivos que levem ao cancelamento das festas. Qualquer festa. Tipo de gente que vive no século 21, mas a mente está presa na Sevilha da época da Inquisição. São uns Torquemadas, prontos a mandar para a fogueira quem não é sorumbático nem macambúzio como eles. Por eles, em Pará de Minas seria proibido ser feliz ou bem humorado. São uns eternos insatisfeitos que estão mais para Zé do Caixão do que para Benjamim de Oliveira, nosso artista mór; nosso inesquecível palhaço negro com a cara pintada de branco.

Agora os a favor do contra tomam como mote a falta d’água que nos assola. Recentemente alegaram a epidemia da “febre do frango” para cancelar tudo. Não tivemos a festa e a febre continua. Deviam garantir também que se o carnaval for cancelado, a água voltará a jorrar nas torneiras das casas. Que essa merreca de quatrocentos mil reais a ser gasta, equivalente a apenas ZERO VÍRGULA três por cento do que a viúva espera arrecadar no ano, resolverá todos os problemas da saúde, da educação, da segurança pública, etc. Mas isto os torquemadas não prometem, porque sabem que a aparente indignação que mostram em público, não passa de falácia. Com ou sem carnaval a crise hídríca vai se aprofundar, vai continuar faltando um ou outro remédio na farmácia pública; a Turi vai continuar sacaneando os passageiros; os assaltos continuarão a acontecer por toda a cidade. Se o cancelamento do carnaval fosse o elixir para curar todas as mazelas que afligem o povo patafufense, talvez valesse a pena não tê-lo. Seria como trocar a alegria de três dias pelo paraíso. Aí talvez devêssemos mudar o nome da cidade para Shangri-lá. Aquele lugar lindo e modorrento; onde as pessoas colhem tamarindos, os pássaros cantam livremente, a água corre gelada nos regatos, ninguém adoece nem morre, e sons de harpa ecoam pelo ar. Ai meu Deus, que tédio!

Sim! Que venha a festa. Quem preferir outra coisa, talvez ligada ao sagrado, que vá rezar um via-sacra subindo a escadaria do Cristo Redentor. Ou quem sabe se inscrever em algum retiro espiritual. Quem sabe visitar o cemitério e fazer uma oração no túmulo de um antepassado querido. Vejam o monte de opções que os torquemadas têm para preencher o feriadão.

Já os que preferem a farra, a alegria, mesmo que provisória e certamente artificial, têm apenas a passarela do samba. E é prá lá que eu vou.

FUIII !

Luiz David

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