0

Domingo de Ramos

DOMINGO DE RAMOS

Eu tenho um grande amigo que nasceu no dia 25 de março, que no ano do nascimento dele caiu num Domingo de Ramos, que é uma data móvel, de acordo com calendário da Igreja Católica. Pode cair tanto no início do mês de março, como pode atravessar a primeira metade de abril, como neste ano. Eu costumo confundir o dia do aniversário do amigo, pois sempre espero que o 25 de março coincida com a comemoração da triunfal entrada de Jesus em Jerusalém. Meu amigo também foi recebido com festas por toda a família, inclusive pela única irmãzinha que chegou ao mundo três anos antes . No dia seguinte ao nascimento, uma segunda-feira obviamente, a mãe do pimpolho disse ao marido quando ele saía para o trabalho: – olha eu quero que o menino seja registrado com o nome de José Ramos, para nos lembrarmos  do dia em que ele nasceu. O marido e pai fez que sim com a cabeça e foi trabalhar. Á noite, quando regressou, foi até o berço ver o filhote, e de passagem entregou à esposa a certidão de nascimento do garoto, que apenas arregalou os olhos pois no documento não estava o nome que tinha sugerido, e sim outro, mais sonoro e majestático. Não comentou nada e esperou que o marido se pronunciasse e ele o fez, dizendo que aqueles dois primeiros filhos eram apenas os primeiros de uma prole ao estilo romano que ele pretendia formar, cujo nome de batismo haveria de encimar a frente da mansão (na época -1945- era uma mansão) que estavam construindo; que o nome que a esposa tinha sugerido era bonito e atinente com a data, mas ele tinha planos diferentes. A mãe amorosa conhecia o marido que tinha e apenas sorriu orgulhosa dele e dos filhos já nascidos, talvez até pensando na filharada do porvir.  E de fato o casal teve nos anos seguintes mais um filho homem e uma penca de meninas: todos fazendo jus ao sobrenome romano que segundo o GOOGLE significa: ” da cor do ouro e indica uma pessoa criativa e inteligente, que envolve a todos com sua conversa agradável. Sua boa memória e seu carinho natural o ajudam muito no relacionamento social. Nos seus primeiros anos de vida, as crianças que são batizadas com o nome tendem a ser muito sérias, mais do que as outras crianças. Costuma levar tudo “a ponta de faca”, especialmente nas competições com seus colegas. Também costuma ser uma criança paciente, que não desiste dos seus objetivos. Já depois de adultos, os homens com este sobrenome costumam ser vistos como amorosos e compreensivos, especialmente no trato com outros homens. Também tendem a ser bastante diplomáticos, preferindo sempre conversar bastante antes de dar início a qualquer tipo de briga ou de disputa”. Na década de 1940 o GOOGLE e outras coisas internéticas não eram sonhadas nem pelo Flash Gordon, mas o papai coruja tinha recebido uma boa educação clássica e devia saber muitas coisas da Roma antiga, inclusive que a família romana de mesmo nome tinha contribuído para história com três imperadores.

Então o menino cresceu e adolesceu, foi a época em que nos conhecemos no campo do Paraense, inicio dos anos 1960, e ele disputava uma vaga no time principal, recheado de craques. Pouco depois ele seguiu para Belo Horizonte a fim de continuar os estudos e nos fins de semana batia uma bola nos times amadores da cidade, especialmente no Londrina. Já namorava sua futura esposa, primeira e única namorada, um pouco mais jovem, mas que cobriria de flores o convívio conjugal . Juntos provariam no futuro que esse lance de amor eterno existe mesmo. Profissionalmente, meu amigo logo aos vinte e um anos se tornou o mais jovem gerente de um banco brasileiro, por méritos pessoais,  trabalhando em Curitiba. A distância de sua amada  fez com que apressasse o casamento que ocorreu em maio de 1968. Depois de Curitiba retornaram a Belo Horizonte, muito mais próxima da amada cidade de Pará de Minas que podia ser visitada nos fins de semana. Tiveram um casal de filhos. Certo final de semana nos encontramos casualmente e ele me disse que gostaria de participar de algum movimento em Pará de Minas, tipo cultural ou esportivo. Na época o PMDB procurava um presidente politicamente neutro para coordenar a fusão dos partidos PP e PMDB, que sob o comando do senador Tancredo Neves se tornaria o maior partido de Minas e do Brasil. perguntei a ele se topava a empreitada e ele disse que sim.   Então levei o nome dele aos presidentes locais José Primo (do PP) e Antonio Júlio (PMDB), que no inicio duvidaram que meu amigo de fato aceitaria a incumbência. Mas ele topou a parada. Com a fusão o partido venceu a eleição em Pará  de Minas e no restante do Brasil. Meu amigo que já estava de volta à cidade foi convidado pelo prefeito eleito para ocupar a secretaria-geral da prefeitura ( a única então existente) e ele aceitou. Fez uma gestão revolucionária na sua pasta, colaborando muito com o prefeito, que depois foi reconhecido como o melhor da cidade em todos os tempos, e sempre fez e faz questão  de citar a importante  participação em seu governo do meu amigo,  que pela vontade de sua mãe teria recebido o nome de José Ramos, mas pela teimosia do pai se chamou Hugo Flávio. Hugo Flávio Lobato Marinho, que todos conhecem -muito mais pelas qualidades descritas no GOOGLE-  aos que levam o nome imperial.

Em 11 de maio de 2018 Francisca “Lilia” Flores e Hugo Flávio celebraram suas bodas de ouro matrimoniais. Exatamente um mês depois, na manhã de 11 de junho, Hugo Flávio sofreu um duplo AVC, do qual vai se recuperando bravamente. tenho visitado o meu amigo com regular frequência e a cada visita constato melhoras no seu estado. Ouve tudo, tudo vê, já lê jornais e assiste a televisão. No veículo adaptado para receber sua cadeira de rodas, com o filho Marcelo ao volante, já vai à chácara e às vezes dão um rolê pela cidade. A sua recuperação tem surpreendido os médicos, considerando a virulência dos avecês. Nos próximos dias deverá iniciar seu tratamento no SARAH, em Belo Horizonte, considerado um dos melhores hospitais do gênero, até mesmo no nível mundial. Com o carinho e amor dos filhos Renata e Marcelo, dos netos e da incansável Lilia, esposa e amiga de todas as horas, meu amigo avança rumo ao restabelecimento.

Conhecendo o pai dele como conheci; e conhecendo-o como conheço, ouso afirmar  que não ficarei assustado se topar com ele brevemente, em pé e conversando. Hugo Flávio herdou do pai, Hugo Marinho,  a proverbial teimosia e é do tipo que gosta de contrariar todas as expectativas que se criam dele.  Mas, uma boa pitada de fé sempre ajuda, por isto, lembrem-se dele em suas orações, principalmente pelo cristão que ele sempre foi. Aliás, eu nem quis mencionar aqui neste texto o espírito solidário do Hugo Flávio, meu velho e querido amigo. Se o fizesse, seria preciso muitas páginas a mais. Mas quem é próximo dele sabe como ele ajudou muitas pessoas e entidades beneficentes e filantrópicas.

Deus abençoe Hugo Flávio, que por pouco não se chamou José Ramos. (LUIZ VIANA DAVID)

 

 

Luiz David

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.