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ESTÁDIOS

ESTÁDIOS

É automático, a primeira coisa que faço ao acordar é ligar o rádio de cabeceira no horário de costume: cinco da matina. Não que eu vá pular fora do berço naquele momento, mas quero saber o que rolou entre as dez horas da noite de ontem  até as cinco da manhã de hoje. A emissora que ouço faz neste horário um resumão do se passou no dia/noite anterior e do que está por vir no dia que amanhece. Foi quando ouvi a noticia de que o PSG, time onde joga o brasileiro Neymar, ganhou um jogo do Estrela Vermelha pelo elástico placar de 4 a 1; e o jogo foi realizado no estádio Maracanã.    O torcedor mais desavisado talvez tenha se assustado com a informação e pensado: “como assim, no Maracanã e eu nem sabia?”  Calma que eu explico: em Belgrado, cidade que o jornalista meu amigo e conterrâneo Assis Mendonça, diz ser lindíssima e eu acredito  noTonhão, tem um estádio apelidado Marakana, assim mesmo, com a sílaba forte no meio   da  palavra, pois o idioma eslavo desconhece o “til”. O estádio pertence ao clube Estrela Vermelha de Belgrado, um dos grandões da terra do Marechal Tito, militar e político que liderou aquele povo por mais de 30 anos. Num jogo contra o maior rival Partizan, a capacidade do estádio de 63 mil torcedores extrapolou para mais de 110 mil naquele jogo decisivo do campeonato iugoslavo. Foi então que os torcedores do Estrela apelidaram o estádio de Marakana, uma homenagem ao nosso Maracanã velho de guerra. E também por que os iugoslavos  sempre foram chamados de “brasileiros do leste europeu” pelo futebol bonito e vistoso que costumam praticar. Eu já sabia disto tudo e não me assustei com a informação da partida do time do Neymar contra os sérvios -a Iugoslávia depois de décadas voltou a se chamar Sérvia, no Marakana.

Os meninos de minha geração, aquela que viu nascer para o futebol Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Ademir da Guia, Edson Dedão, Edgar, João Ribeiro, Calé e outros, tinha a mania de gravar nomes dos estádios de futebol. Qualquer moleque dos anos 1950/60 sabia que o estádio de Formiga (MG) se chamava “Juca Pedro” e o do Uberlândia Esporte Clube tinha o nome de “Juca Ribeiro”; o velho Independência em Belo Horizonte era o campo do Sete (de Setembro F.C), o campo do Vila Nova de Nova Lima sempre foi o “alçapão do Bonfim” e o estádio da Ferroviária de Araraquara se chamava “Fonte Luminosa” nome lindo para uma arena esportiva mas cuja motivação eu não sei. Mas fiquei sabendo que o estádio onde o Bahia E.C. manda seus jogos se chama “Fonte Nova” por ser vizinho da famosa Fonte do Tororó”  aquela onde quando crianças íamos buscar água e nunca achamos, lembram-se da cantiga infantil nas brincadeiras de roda? Pois é.                                                                                                                                                                  O coração da molecada batia mais forte quando um dos grandes times do Rio ia jogar no campo do Olaria, o temido estadinho da rua Bariri, fosse o Flamengo de Zizinho, o Vasco de Almir ou o Botafogo de Garrincha, costumava ser o teste definitivo para todos eles. O campo do Bangu também era bastante temido, mas o belíssimo nome do estádio,  Moça Bonita,   tornava ou parecia fazer a parada mais fácil. O estádio do Fluminense se chamava Laranjeiras, o do Botafogo General Severiano e o do Flamengo Gávea, muito mais bonito do que o atual Bico do Urubu, que horror. Aliás, este Bico do Urubu, ao tempo em que pertencia apenas à simpática agremiação  Portuguesa, era apelidado estádio dos Ventos Uivantes,  que até podiam uivar mas nunca meteram medo nos maiorais cariocas e o time luso-carioca nunca foi de assustar ninguém, um tradicional saco-de-pancadas que gozava da simpatia de todos por jamais incomodar os co-irmãos, pequenos como ela (ele) ou os grandões.

Em Minas, além dos já mencionados Jucas (de Formiga e Uberlândia), do campo do Sete e do Alçapão do Bonfim, um outro chamava a atenção: estadinho de Nossa Senhora da Praia do Ó,  onde o bravo Siderúrgica de Sabará mandava seus jogos e ganhou dois campeonatos mineiros, em 1937 e 1964. Nesta última conquista, brilhou a estrela de Edson Dedão, por acaso nascido em Bom Despacho, mas patafufense de coração e sangue, dos Morais lá da Várzea, que escolheu nossa cidade para viver depois de aposentado. Um craque que esteve na seleção mineira que inaugurou o Mineirão. O campo do América mineiro era a  Alameda;  o do Cruzeiro era o JK e o do Atlético era o estádio da Colina de Lourdes,  daí que surgiu a ideia dos cruzeirenses de chamarem a nós atleticanos de lurdinhas; que falta de criatividade, não é Lóis Abreu? Por vingança a maior torcida de Minas, a do Atlético naturalmente, replicou e apelidou a torcida cruzeirense de marias acho que por conta do bairro Barro Preto onde nasceu a raposa, ser o território das costureiras da capital mineira.  Costureiras costumam ser medrosas; a dona Maria Costureira que foi vizinha de minha família por muitos anos, se assustava com qualquer coisa, até mesmo com o garnizé que morava no quintal;  quando bem cedo o galinho cantava, dona Maria pulava da cama, tremendo, assustada. Ê dona Maria de saudosa memória!

Como não ter simpatia por um estádio que se chama Serra Dourada ou Rei Pelé?  Beira-Rio é um belo nome para um campo de futebol. Aliás, no Brasil o futebol nasceu nas várzeas, nas beiradas de córregos e ribeirões, dai ser chamado de varzeano, futebol de várzea. No Recife os três maiores clubes tinham seus campos: o austero Arruda, que foi crescendo, crescendo e virou Arrudão (que horror!), onde ás vezes se amontoavam cem mil torcedores do Santa Cruz; o estádio da Ilha do Retiro, que ainda hoje mantém a aura de alçapão, às vezes funciona com efeito contrário ao time da casa, o Sport Club, que vive caindo de divisão. Já não existe o estádio “dos Aflitos” do Náutico, que o vendeu para pagar dívidas e foi jogar numa dessas arenas de Copa do Mundo, noutro município. Em 2019 o Náutico estará na 3ª Divisão.

Nenhum campo de futebol marcou mais a minha geração do que o do Paraense Esporte Clube, que foi batizado “Ovídio de Abreu” mas que o povo patafufense chamava orgulhosamente de “Majestoso”, com razão, pois quando de sua inauguração nele cabia cinco mil pessoas, a metade da população de Pará de Minas em 1951.

Eita que tempo bom!

 

Luiz David

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