*Aqui, estou usando a expressão “monocórdio” no sentido de monótonos, entediantes, cansativos. Por aí. (Luiz Viana David)
Alguns políticos brasileiros se notabilizaram por defenderem uma única ideia em seus longos períodos no parlamento; no Congresso Nacional, nas assembléias e nas câmaras municipais. O gaúcho Raul Pilla (1892/1973) foi durante toda a sua existência ardoroso defensor do regime parlamentarista de governo. Apresentou várias vezes emenda à Constituição propondo a mudança na forma de governo. Já o senador Cristóvão Buarque (DF) todos os dias sobe à tribuna do senado para invocar mudanças e mais investimentos na educação pública. Faz isso há décadas. O deputado federal Eduardo Barbosa, nascido em Pará de Minas, que vai disputar sua quinta reeleição, desde o início de sua carreira tem como único objetivo amparar as APAES do Brasil, parece até ideia fixa. O paulista Afif Domingues só fala em imposto único. Agora em Pará de Minas temos a figura do vereador Antonio Vilaça, cuja defesa de um sistema municipal de água e esgoto (SAAE) parece ter se transformado para ele em obssessão.
O vereador corre o risco de se tornar figura folclórica, como os outros políticos citados. Monocórdios como um disco estragado, acabam por cansar o público com sua repetição infindável.
Um SAAE em Pará de Minas, nem o imposto único nacional, nem o regime parlamentarista, nem apaes de primeiro mundo, não são, nem foram jamais as únicas mazelas que complicam a vida da população.
O político, principalmente aquele detentor de mandato, precisa ser versátil, abordar variados temas, ainda que com conhecimento escasso, com a profundidade de um prato de sopa. Precisam ser mais criativos, olhar mais para o lado e para a frente. Nisto é que está a grandeza de um político, opinar sobre tudo. Ao se especializar em tema único, perigam se tornarem como aquele otorrino que só trata ouvidos esquerdos; ou o ortopedista que só cuida de joelhos.
Ficam parecendo aquele cachorrinho vira-latas da anedota, que corria atrás de todo carro que passava na rua. Quando o primeiro carro deu uma brecada, o cãozinho ficou paralisado sem saber o que fazer ou para onde ir. Só lhe restando enfiar o rabinho entre as pernas e ficar grunhindo na calçada.
No fundo, esses cantores de samba de uma nota só, não querem que se torne realidade aquilo que apregoam e defendem. Nesse dia, todos perdem o estandarte, a bandeira que levantam com tanto ardor e entusiasmo.
Se transformam em faca sem cabo que perdeu a lâmina.
No caso do SAAE, a proposta de iniciativa popular apadrinhada pelo vereador patafufense, só poderá ser analisada pela Câmara novamente em 2015; considerando que já foi amplamente discutida, apreciada nas comissões, discutida em audiência pública, votada e derrotada em plenário, na atual sessão legislativa.
A não ser que a intenção do nobre edil seja exatamente esta, a de atrasar a solução do problema gravíssimo da falta de água que está levando a população inteira, mais de noventa mil pessoas, a um sacrifício inominável.