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PORQUE A CBF PREFERIU GILMAR RINALDI E NEM COGITOU O NOME DE LEONARDO

Porque Leonardo é completamente incompatível com a CBF de Marin e Marco Polo. Ele representa a modernidade diante do vergonhoso atraso do futebol brasileiro…

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1efe1 Porque Leonardo é completamente incompatível com a CBF de Marin e Marco Polo. Ele representa a modernidade diante do vergonhoso atraso do futebol brasileiro...
“Os clubes têm que tomar a iniciativa! Porque sem eles não tem campeonato, não tem seleção, não tem nada. Campeonato sem CBF tem, sem Federação tem, sem clube, não. Os grandes atores são os clubes. E eles não podem estar tão enfraquecidos.

“E não adianta só sanear a dívida. Senão mudar o sistema e gerar riqueza, não resolve. Vai dever de novo. Para o campeonato ser forte, os clubes têm que ser fortes. Sem isso, é impossível. Precisamos abrir as portas dos clubes para as riquezas existentes no Brasil ou mesmo para as estrangeiras: o Chelsea é de um russo, o Paris Saint Germain, do Qatar, o (Manchester) United, dos americanos, a Roma também.

“As riquezas italianas estão no Milan, na Inter, Juventus a Fiat. O Bayern tem por trás a Mercedes. E nós estamos fora do mercado! Tem que profissionalizar a visão! Se um louco milionário resolve botar toda a riqueza dele no Flamengo, não pode. E o futebol está nas mãos dos empresários… Ora, já estamos penhorados.”

Um homem que pensa assim não pode ser o coordenador geral das seleções. Por isso, Leonardo foi deixado para lá. E o cargo está nas mãos do empresário Gilmar Rinaldi. Aliás, ex-empresário. Ele largou o cargo na noite em que foi convidado. Todos os seus jogadores ficaram com seu sócio.

Mas era uma questão de visão que o seu companheiro da Copa de 1994 assumisse. Tem uma visão muito maior do que acontece no mundo moderno do futebol. Ao contrário de Gilmar, terceiro goleiro na Alemanha, Leonardo foi um jogador da elite do esporte mundial. Atuou no Valencia, Paris Saint-Germain, Milan. Além do Flamengo e São Paulo.

Foi técnico do Milan e da Inter. Peça principal na revolução que o PSG viveu com a chegada do dinheiro do Catar.

O conhecimento que acumulou seria precioso para uma retomada. Só que suas palavras soariam como uma declaração de guerra para Marin e Marco Polo del Nero.

“A CBF (antes, CBD) tem 100 anos. Como pode ser atual, se funciona da mesma maneira há um século? O que falta nessa engrenagem? Um grupo de executivos que conheça gerenciamento e futebol, e acorde e vá dormir pensando no desenvolvimento dele. A CBF é muito mais organizadora e controladora do que promotora do campeonato.

“A Premier League é o maior exemplo de sucesso profissional. Claro que, pelas nossas particularidades, não dá para pura e simplesmente implanta-la aqui. Mas muita coisa pode servir de exemplo. Temos que gerar ideias e riquezas. Nossa estrutura é muito engessada. A hora de mudar é essa.”

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A entrevista que deu ao jornal O Globo toca em vários pontos delicadíssimos. E mostra o principal. O que não serve para Marin e Marco Polo: a inutilidade da CBF. Os clubes poderiam administrar tranquilamente seus torneios. Fazer seus regulamentos. Formar uma liga para negociar diretamente com as televisões. E deixar apenas as seleções para a CBF.

Mas Marin e Marco Polo não querem abrir mão de tantos poderes. Uma mudança na estrutura atrasada do futebol brasileiro. Amarrado em federações ultrapassadas que servem de pilares para a CBF. Se aqui no país, o Campeonato Nacional já é desinteressante, Leonardo escancara a realidade no Exterior, com os times fracos que somos obrigados a engolir a cada desinteressante rodada. Ele sabe que só atuam por aqui jogadores sem condições de

“O Campeonato Brasileiro não passa em lugar nenhum do mundo. Não dá pra ver nem pela internet. Porque é um produto que não é reconhecido no mercado. Os jogos são desinteressantes, jogam em 70 metros, a TV não consegue nem enquadrar. Parece que há um desânimo, um conformismo. É assim mesmo, é assim que eu vou fazer e viver! E ainda se chama Brasileirão. Esse nome não pode ser internacional, nenhum estrangeiro entende, nem consegue pronunciar direito. Não vende lá fora…”

Como com essa visão, Leonardo trabalharia com Marin e Marco Polo? De jeito algum. Ele tirar toda a organização do principal torneio do país da CBF. Passar para uma liga como acontece nos centros mais desenvolvidos.

Mas ainda havia outras lições que são como cruzados no queixo do nosso atraso.

“Se a gente não tem uma base boa, ferrou. É como uma equação, erra a primeira soma, errou tudo. Isso acaba influenciando em todo o processo de formação. O menino que entra no Flamengo (e na maioria dos outros clubes), hoje, logo está dizendo ‘me tira daqui’. Ele quer é jogar na Europa. Eu, no meu tempo, quando entrava na Gávea, me benzia. Aquilo pra mim era um templo.

“A base hoje em dia tenta revelar jogadores pra vender. Quais são as receitas de um clube de futebol? TV, marketing, estádio e jogador . Na Europa, venda de jogador só contribui com 10% da receita. Aqui é muito mais. E a preocupação passa a ser vender logo a garotada. E se você negocia o jogador muito cedo, ele ainda nem está de fato formado. E muito talento se perde nisso.”

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A cabeça privilegiada de Leonardo mira na falta de interesse do atleta brasileiro em entender o básico. Saber de tática, de treinamento. Deixar o selfie de lado e mergulhar na sua profissão.

“Neymar falou que no Brasil se treina pouco. E ele só descobriu isso aos 22 anos! Será que ele não poderia ser melhor se tivesse descoberto isso aos 18? Se tivesse tido outras opiniões táticas, poderia ser um autêntico 10. Hoje ele é muito mais hábil, jogando com uma linha atrás. Ele tem tempo, ainda pode vir a se tornar um craque completo. Mas poderia já ser.

“Taticamente estamos muito atrasados. Thiago Silva aprendeu a ser zagueiro na Europa. Antes era um monstro só no físico. Virou o melhor do mundo lá fora. No Brasil a gente aprende a jogar bola, não a jogar o jogo.”

“Aquele negócio de ‘vamos lá, vamos lá’, não funciona com o europeu. Isso ele rebate na hora: ‘motivação, não me pede, não, que eu já tenho’! Ele quer conteúdo. Quer saber a função e o que fazer, como se comportar, dentro de campo. Na verdade, os europeus veem o Brasil como o país que resolve no talento. Nunca uma conquista nossa foi atribuída, lá fora, ao treinador.”

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“O jogador brasileiro não gosta de discutir tática. É até cultural. A velha história do ‘dá aqui que eu resolvo’. Se não for um gênio, como Pelé, Maradona, Zico, Romário, não resolve mais, não. Da minha época, o técnico que mais claro mostrava o que queria era o Telê. Ele não era tático. Mas aperfeiçoava a técnica ao máximo! E com a qualidade técnica conseguia superar até a tática. Era um perfeccionista. Naquela época, a técnica fazia a diferença. Mas hoje, com a escola europeia jogando o que está jogando, um time só técnico está morto.”

Impossível Leonardo não se referir aos 7 a 1 que o Brasil sofreu da Alemanha. Para traçar um paralelo entre o nosso atraso. Ele teve a coragem de não se esconder atrás de um ‘apagão’. A situação é muito mais profunda.

“Não quero criticar apenas um jogo. Mas todo mundo sabia que a Alemanha ia pressionar a nossa saída de bola desde o início. Estava escrito. Se fosse um treinador italiano, ia dizer pro David Luiz mandar a bola lá pra frente e todo mundo sair. Os caras são melhores que a gente. Não dava pra jogar normalmente. Não sou contra um técnico estrangeiro, mas não acho imprescindível. Mourinho e Guardiola, sim. Não porque são estrangeiros. Mas porque são os melhores.”

Por tudo o que disse. E muito mais do que viveu e pelo que pensa, Leonardo não poderia ser o coordenador da Seleção Brasileira. Não com Marin, com Marco Polo. Com a CBF.

Sem poder, Leonardo cumpre sua missão, muito importante. Semeia as ideias. Abre os olhos para a necessidade de uma reformulação profunda. Dá um tapa na cara da covardia dos dirigentes, que ficam implorando migalhas para uma entidade cada vez mais rica. Viciada em federações mais atrasadas ainda.

A estrutura podre virou convite para eterno bacanal de empresários. Principalmente nas categorias de base de todos os clubes.

Temos muito o que aprender. Há quem possa ensinar. O problema é deixar pessoas com a vivência de Leonardo ter acesso ao poder de reformular. Aos 44 anos, poderia ser filho ou até neto de Marin ou Marco Polo. Lógico que a visão que os três têm do mundo, do futebol é muito diferente. E incompatível.

A Copa do Mundo de 2014 foi no Brasil. E serviu como espelho. Mostrou que, ao contrário do que esperávamos, a imagem que vimos está longe de ser linda, moderna, bem resolvida. A Alemanha, a Holanda e o Chile nos colocou no nosso lugar.

O país do futebol é a terra do atraso. O pior é saber disso. E não querer mudar…
1cbf Porque Leonardo é completamente incompatível com a CBF de Marin e Marco Polo. Ele representa a modernidade diante do vergonhoso atraso do futebol brasileiro...

Luiz David

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