Até parece castigo. Quatro dias depois de trair o próprio partido, o prefeito Márcio Lacerda, de Belo Horizonte, foi esmagado politicamente pela queda de um viaduto construído por sua administração. Se no caso do prefeito o esmagamento é metafórico, para as duas vítimas fatais e suas famílias, o esmagamento infelizmente foi real.
O prefeito, empresário de grande sucesso, entrou na política tardiamente, tornando-se prefeito da capital de Minas em 2008, pelas mãos do então governador Aécio Neves, que praticamente o inventou, numa de suas enigmáticas costuras políticas.
Aécio em se revelado um grande encantador de serpentes, o melhor do Brasil nessa arte, onde uma picada pode ser fatal. Para dar vida ao político Lacerda, o agora senador teve de convencer o partido arquirrival, o PT, a abrir mão de uma prefeitura que comandava há doze anos, com enormes chances de prorrogar o poder de mando. Nesse conto da carochinha contado por Aécio, quem caiu foi Fernando Pimentel, que não resistiu ao canto da sereia do “amigo” Aecinho, entregando-lhe não apenas os anéis, mas também os dedos.
2012 chegou e Pimentel viu-se abandonado pelos muy amigos de 2008, Lacerda e Aécio,sendo amparado apenas pelo PMDB, partido sempre renegado por ele Fernando Pimentel.
Voltando à tragédia de ontem em Belo Horizonte; assim como as enchentes de 1997 encerraram prematuramente o governo de Eduardo Azeredo, a queda do viaduto pode também marcar o fim da administração Lacerda na PBH. O prefeito, sempre centralizador, irredutível na defesa de suas próprias opiniões; de pouco ouvir o poder legislativo; avesso ao compartilhamento do poder com os partidos que o apoiaram nas duas eleições; que nunca faz questão de parecer simpático; pelo contrário, parecendo apreciar bastante a imagem que faz de si próprio, de vencedor (o que é verdade), de última gota d’água no deserto (o que é falso), deverá assumir sozinho o ônus da queda do viaduto. Seus inventores, Eduardo Campos, Aécio Neves e Fernando Pimentel, fugirão dele como os fariseus fugiam dos leprosos.O pernambucano Eduardo por que foi traído; Aécio por que não é bobo nem nada; e Pimentel por que depois de seduzido e abandonado, agora é adversário de Lacerda.
Um viaduto localizado a cinco quilômetros do estádio que sediará uma semi-final de Copa do Mundo; que cai surpreendentemente, deixa sequelas graves. Bilhões de pessoas no mundo todo estão olhando agora para Belo Horizonte e para o prefeito. Pior, faltando noventa dias para as eleições mais acirradas de que se tem noticia; com a campanha mais suja da história da república, uma tragédia desse porte não passa em branco. E não adianta buscar transferir responsabilidades, o viaduto cadente não é obra da FIFA, muito menos do governo federal, que apenas entrou com o dinheiro e deixou a construção por conta da prefeitura.
Obviamente a opinião pública (não a opinião publicada) irá exigir explicações e punição aos culpados, pela vergonha a que foram expostos todos os mineiros; e pelas vidas roubadas pela irresponsabilidade. (Luiz Viana David)
