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BRASILIA

BRASÍLIA
(Lúcio César de Faria)

Sempre me perguntam em Belo Horizonte, nos fins de semana: “E Brasília, como está?” “O que está achando de morar em Brasília?”
E as respostas são sempre as mesmas: “Sei do lado político de Brasília o mesmo que vocês, pela imprensa. Não posso dizer que moro em Brasília, mas sim que trabalho lá.”
Aceita a honra e a realização de cogerir o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito – FGCoop – não falo de desafio, pois com tanto apoio seria injusto – eis-me aqui, depois de 40 anos de Belo Horizonte, dos quais 36 e meio no Banco Central, trabalhando em Brasília. Para onde não vim nos diversos convites recebidos quando no Banco Central, preferindo a vida familiar e a carreira em BH, contrariando até certo nível famoso dito de ex-diretor do BC, de que “quem faz carreira no mato é veado”.
Antes de explicar as minhas duas respostas, cabe um pouquinho de história.
Quando passei no concurso do Banco Central, em 1977, vim a Brasília fazer o então famoso Cateb – Curso de Ambientação para Técnico Básico. Minha mãe, morando em Pará de Minas, a 90 km da capital, ficou preocupada com a possibilidade de eu vir a morar na longínqua Brasília.
Preocupação natural para quem havia “perdido” um filho para o Banco do Brasil, na distante Coromandel, caso do meu irmão Geraldo.
Naquela época, em 1 de agosto de 1977, escrevi a ela uma carta, que recuperei e guardo até hoje, em que dizia: “Acho que nem por todo o dinheiro do mundo eu viria morar aqui”.
Interessante interpretar o “acho”, com o significado de “ter a impressão de” e não de “ter certeza”. Esta é tarefa que não me cabe, mas sim ao meu irmão Geraldo, revisor de primeira. Por mim, a expressão teve, à época, a intenção, hoje desmentida, de convicção.
Da segunda parte tenho certeza, não vim movido pelo dinheiro, mas sim pela boa causa e realização profissional.
Seguindo a carta, disse que “Além de fazer o maior calor, o clima daqui é muito seco e a cidade é muito poeirenta”.
Com toda a revisão de conceito sobre Brasília, como aqueles que tiverem paciência verão em seguida, essa opinião eu mantenho. O clima de Brasília não foi feito para o ser humano e muito menos, se for pedestre.
“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”
Esta é parte do discurso do Presidente Juscelino Kubitschek, criado por seu amigo pessoal, o poeta Augusto Frederico Schmidt, autor também do famoso slogan de JK: “50 anos em 5”.
Porém, brinco com meus amigos de Brasília como deve ter sido a verdadeira história de Juscelino. Quando apresentado à região, deve ter dito, do alto de sua elegância mineira: “Quente e seco pra caramba, mas dane-se, vou ficar só 5 anos mesmo”. No linguajar de hoje, a substituição de expressões talvez reflita melhor a situação.
Agora, vamos falar bem do Distrito Federal. Imagino que muitos leitores já desistiram lá atrás, pensando ser mais um a falar mal de Brasília.
Brasília é uma cidade linda e moderna. Tem um céu aberto, com um sol radiante, embora traga um calor forte. Por isso, mereceu canção de Fernando Brant (letra) e Tavinho Moura (música), chamada “Céu de Brasília”, lançada por Simone em gravação de 1977. Por coincidência, dois mineiros e no mesmo ano em que conheci Brasília. E também de Djavan e Caetano Veloso, “Linha do Equador”, lançada em 1993.
“Beleza bonita de ver, nada existe como o azul sem manchas do céu do Planalto Central” diz com razão a letra da primeira música. O que é extrema verdade: são tão lindos o céu azul aberto e o sol claro quanto a lua cheia.
Passemos então às respostas, que o leitor já deve estar enfastiado com enrolações.
Sei do lado político de Brasília pela imprensa, como os moradores de fora. Mas, trabalhando aqui, entendo a indignação dos brasilienses quando os de fora generalizam, dizendo que “a cidade não presta, só tem bandido, ladrão, safado”.
Faço então um pedido: não generalizem, nem com a classe política, porque existem alguns – mesmo que poucos – que fogem ao estigma popular, procurando efetivamente representar seus eleitores, e muito menos com os moradores.
Quando pensarem em Brasília, pensem também na equipe do FGCoop, pequena, mas que trabalha para dar ao cooperativismo uma entidade digna de sua representatividade; nos colaboradores da OCB/Sescoop, na lida diária em prol dos treze ramos do cooperativismo, da qual sou testemunha; nos meus ex-colegas do Banco Central, que as luzes acessas à noite comprovam dedicação ao trabalho.
Pensem na D. Joana, que logo cedo nos servia o café no Edifício Belvedere, onde antes estava instalado o FGCoop e na Keyla, que hoje nos presta o mesmo serviço onde estamos; pensem em suas longas jornadas de ônibus para ali estarem prontas para a lida diária.
Pensem também – e muito – no que alguém já disse, que a maioria do “lixo” que existe em Brasília é trazido pelos estados. Aqui também, claro, respeitando a não generalização.
Sobre a segunda pergunta, não posso dizer que moro em Brasília, pois, por opção familiar, trabalho aqui de segunda a sexta e volto a Belo Horizonte nos fins de semana. Às minhas expensas, diga-se, com parte do salário fixo que recebo.
Hoje, vejo que não teria dificuldade em morar aqui. Já tenho futebol, pilates, cursos de inglês e espanhol, mas falta mais vivência e, principalmente, a família, que está em Belo Horizonte, e sobra solidão, muitas vezes.
Já me acostumei até com as estranhezas, hoje vistas como praticidade, de duas quadras só com farmácias, outra só com material elétrico, para terem ideia.
Depois de dois pedidos a vocês – de não generalizarem e pensarem na população honesta e trabalhadora, faço uma sugestão àqueles que não conhecem Brasília: a Capital Federal merece ser vista, não só por essa sua condição, mas também por sua beleza arquitetônica, diferente de outras capitais.
Sejam bem-vindos.
E eu, vou seguindo com o meu próprio lema, sem ajuda de nenhum poeta, mas com o imprescindível apoio de muitas pessoas: “6 anos em 6”.

Luiz David

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