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SONHO OU PESADELO?

SONHO OU PESADELO?
Lúcio Cesar

Ano 2047: aos 100 anos o atleticano acorda no céu.

Teria sido demais a emoção de dar o chute inicial na final do campeonato municipal, em que, depois de tantos anos, o time do qual participou da criação e foi técnico ali estava para a decisão do título? Além disso, o seu time das Minas Gerais, depois de longos anos, tentava o bicampeonato nacional. Ambas as partidas, iniciadas ao mesmo tempo, às 16 horas de um ensolarado domingo de dezembro estava chegando ao fim com sofrido zero a zero e o coração, certamente teria sucumbido.

Cético, não acreditava piamente em deuses, mas sempre fora pessoa do bem. Acorda entre nuvens, no azul infinito do céu. “Poxa, que estou fazendo aqui na Toca da Raposa?” Logo a dúvida começa a se dissipar, pois surge um senhor careca, aflito, de barbas longas e várias chaves na mão. Ele o reconhece: Você não é o Nem Barbeiro, que depois foi chaveiro em Pará de Minas?” E a resposta segue imediata: “Lá, sim , mas aqui cuido da entrada no céu, assim como fazia na nossa terrinha, no cinema do Tião”.

Aguarde que vamos levá-lo à Comissão Celestial de Inquérito.

Daí a pouco, entra em uma sala na qual quatro padres cuidam de interrogá-lo. Parece reconhecê-los também: Padre Osvaldo lage, Padre Grevi, Padre Libério e… não, o presidente não pode ser ele, o Padre Hugo!

Acalma-se, quando ouve os primeiros comentários, justamente do Padre Hugo: “Fomos adversários, não inimigos, ele sempre me tratou com civilidade. Embora tenha, de certa feita, usado o meu santo nome em vão. Mas depois, procurou-me na Casa Paroquial para uma visita de cortesia e ficamos de bem”. No final, tranquiliza-se com o parecer: considerado pessoa de bem, ex-vereador, grande amigo, incentivador dos esportes e das letras, merece ser levado ao plenário.

Antes de ser conduzido ao plenário celestial, tem a explicação de que não deve se assustar, pois os antigos apóstolos têm hoje a forma e imagem com a qual retornaram à Terra.

Então chega ao plenário. Ao redor da mesa, recheada de pão e vinho, estão nada mais, nada menos do que os apóstolos. vai reconhecendo os rosto, um a um: Arthur Friedenreich, Just Fontaine, Alfredo diStéfano, Sir Staley Mathews, Franz Beckembauer, Didi, Garrincha, Pelé, Tostão, Reinaldo, Gerd Müller, maradona e João Ribeiro.

Chama-lhe a atenção os garçons: Gerson, Rivelino, Falcão, Sócrates, Johan Crujff, Zinédine Zidane, Coteco do Chuim, dentre outros.

Olhando para essa turma de grandes gênios do futebol, a inevitável reflexão: “Se é assim, quem será Deus”?

Abre-se a porta e ele, boquiaberto, exclama: Zico! Meu Deus!”

E na sua incredulidade, vem a pergunta imediata: “Sendo Deus, por que perdeu aquele pênalte contra a França?”

“Para mostrar que, enquanto humanos, somos falíveis e não podemos ser julgados por nossos poucos erros, mas sim pelos grandes acertos”.

Acorda suado,ofegante, o coração acelerado: “Ainda bem que foi apenas um sonho”.

Levanta-se, vai ao banheiro, toma um copo d’água, volta a deitar-se.

Aliviado, repousa docemente a cabeça no travesseiro. Feliz, pois seus dois times haviam sido campeões depois de longos anos.

Lembrando-se do sonho, repensa sobre as injustiças que poderia estar cometendo em vida.

Arrepende-se morre feliz, duplamente campeão. E justo.

Notas do autor:
1- Os apóstolos eram 12, mas como a crônica é minha, inseri um 13º, o João Ribeiro, ídolo de infância e adolescência desde os tempos de peladas no campo do Ginásio São Francisco, que foi centro-avante do Cruzeiro, Internacional, América e Paraminense, com o qual tive o privilégio e o prazer de algumas vezes vividir as quatro linhas, a favor e contra.

2- Ao glorioso Clube Atlético Paraminense não desejo jejum tão longo de títulos.

3- Agradeço revisão e contribuições do eu irmão Geraldo Magela e da minha sobrinha Ana Luisa, que o aniversariante homenageado, alvo da crônica, insiste em chamá-la de “Maria Luisa.

Luiz David

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