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EU POSSO, EU PRENDO, EU CHOVO

“Ah môs fios, do jeito que suncês tá, só o véio qui pódi te ajudá” (Velho Zuza)

 

Está causando grande expectativa na região, a sentença prolatada por veterana  e meritíssima Juiza de de Direito da comarca de Pará de Minas, mandando que Copasa e prefeitura retomem em dez dias o fornecimento normal de água à população. O prazo está correndo e expira no início da próxima semana. Coincidentemente, estou lendo nesses dias uma alentada biografia do ex-presidente Getúlio Vargas, de autoria do escritor  Lira Neto. Na obra, o autor conta sobre um chefão político gaúcho, que em certa oportunidade num rompante de soberba e megalomania exclamou em tom de ameaça: “eu posso, eu mando, eu chovo”  . Certamente o figurão terá sido a versão gaúcha do político “mandachuva” tão popular no cotidiano das cidades brasileiras, felizmente, um tipo em extinção.

Em cinco dias o prazo fixado pela magistrada vencerá. Se não fizerem chover antes, a empresa e a prefeitura terão de pagar solidariamente a multa  diária de dez mil reais. Os dois entes, como todos sabem estão quebrados. A prefeitura por que tudo o que arrecada quase não dá para garantir em dia a folha de pagamento dos servidores; além do mais a demanda da população por serviços de qualidade é muitas vezes maior do que o que  pode oferecer. No caso da Copasa, que há muito tempo deixou de ser uma empresa de caráter social, dinheiro não há, pois é larga a  goela dos acionistas privados e tudo o que empresa arrecada dos clientes via boletos,  é transformado em dividendos.

Ontem à tarde, nuvens negras tingiram os céus patafufenses enchendo de alegria o coração dos citadinos, esperançosos de uma boa pancada de chuva. Mas ela não veio. Depois fiquei sabendo da presença na cidade de alguns índios  apaches, que vieram ao Brasil assistir  a Copa do Mundo e, no Rio de Janeiro conheceram umas moças do Pará de Minas. Através delas tomaram conhecimento do nosso drama e se dispuseram a vir à cidade para uma sessão de dança da chuva.  Erigiram um totem e em volta dele, pintados como convém,  dançaram e cantaram durante horas. Por fim extenuados,  e após detonarem hectolitros de cerveja e caipirinha, desistiram da tarefa. Um deles, John Smith, na tribo conhecido como Pássaro do Trovão, explicou depois da função: -seca braba… índio não dar conta fazer chover cidade Pará. Apache faz chover mas milagre apache não faz. Manitu triste com homem branco. Quando Manitu triste, Manitu castiga. Seca é castigo. Apache olhou vísceras pássaro atoa (pombo) e viu seca maior. Nessa lua homem branco não terá chuva aldeia patafufa.

Uma das moças então contou a Thunderbird (em inglês igual a Pássaro do Trovão) que uma Juiza havia mandado o prefeito fazer chover em dez dias. O pele vermelha desdenhou a sentença: -Juiza maluqueceu?  Só Manitu pode fazer chuva. Se chover  prazo dado mulher de toga, arranquem meu coração e enterrem na curva do rio.

Ao longe, do alto de seus presumíveis 136 anos,  Véio Zuza que soltava baforadas fedorentas de seu cachimbo, comentou com uns negrinhos que o rodeavam: – cês tão veno mizifios? Os branco tão tudo doido memo. Buscá índio nas estranja num vai diantá. Esse probrema da seca só Oxalá arresorvi.

Olhando para a cidade lá embaixo, o velho afro-descendente ainda exclamou, como se falasse a cada habitante: -Ah môs fios; do jeito que suncês tá,  só o véio qui pode ajudá.

Resumo da ópera, só DEUS, seja qual for a concepção que tivermos Dele, pode salvar Pará de Minas da seca atroz.

 

 

 

 

Luiz David

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